O trabalho do Flamengo nas categorias de base vem crescendo bastante nos últimos anos e isso não é mais novidade. Em 2015, o Rubro-Negro conquistou alguns títulos e o saldo foi positivo. Já em 2016, até o momento, a fase é ótima. Na Gávea, existe uma grande esperança em relação ao atual time Sub-19, que, na última temporada, era praticamente inteiro Sub-17. A geração é forte e tem bons valores. Inclusive, Danilo Monteiro e João Vitor França, que treinam com o profissional, fazem parte do elenco.
O time ganhou notoriedade nas mãos de Fernando Pereira após duas conquistas: Copa Minas Brasília e Estadual. Esse último, de forma invicta. Hoje, quem comanda é Paulo Chupeta, nome consagrado no basquete brasileiro. Mas, todo sucesso tem seu preço. Destaque e capitão, Francesco Martini, de 18 anos, está de malas prontas para jogar e estudar na Universidade de Chicago. Conhecido por seu estilo ‘old school’, o armador chamou atenção dos norte-americanos e viaja para o país em setembro. Em contato com a nossa reportagem, o jogador detalhou sua trajetória no basquete.
– Eu comecei a jogar basquete com nove anos, estava morando no México. Isso foi mais na escola, jogo de criança, uns treinamentos bem básicos. Quando completei treze anos, me mudei para o Rio de Janeiro e fui procurar um clube. Achei o Flamengo, onde iniciei no Mirim. Nesse ano, a gente chegou a ser campeão. Joguei o Sub-14 aqui também, depois viajei para os Estados Unidos e fiquei três anos lá, em uma academia chamada IMG, que fica na Flórida. Lá, continuei treinando e estudando. Até que consegui uma vaga na Universidade de Chicago, com um ano de intervalo. Nesse ano, aproveitei para voltar. Já tinha atuado no Flamengo durante as férias duas vezes (sub-15 e sub-16), então, completei o ano jogando por sub-17, 19 e 22. Conquistei dois títulos estaduais e, agora, estou voltando de vez para Chicago – contou.
Nascido no Brasil, mas com raízes italianas, Francesco aproveitou para traçar um paralelo entre os dois países e abordou alguns costumes. Durante a declaração, sobrou espaço para citar sua experiência em outros lugares, como a Flórida, a facilidade de aprender idiomas e como isso vai ajudar na adaptação aos Estados Unidos.
– Eu nasci em São Paulo, mas morei na Colômbia, no México e no Rio de Janeiro. Nunca cheguei a morar na Itália, mas minha família é 100% italiana: meus pais, tios e avós. Eu sempre vou lá duas vezes por ano, a cultura que tenho em casa é muito italiana, tanto na comida, como nas tradições. Já joguei pela seleção italiana sub-16, mas fui cortado antes do Europeu. Tenho essa dupla nacionalidade, mas adoro Itália e Brasil. Sempre que me perguntam, eu digo que sou ítalo-brasileiro, não defino de jeito nenhum. Falo português, italiano, inglês e espanhol. Aprendi inglês academicamente. O italiano morando no Brasil, com a minha família, e o espanhol quando morei no México, naturalmente. Com certeza isso vai facilitar minha vida. Falo muito para os meus amigos que a cultura americana é diferente da brasileira. Eu amo a cultura brasileira, existe muita amizade e compaixão. O americano é mais frio, quieto e competitivo. Como morei lá durante três anos, acho que sei lidar com os americanos – analisou.
A evolução em quadra é tratada com naturalidade pelo garoto, que se comporta como um veterano. Ao comentar o assunto, surgiram diversos elogios direcionados aos técnicos que o ajudaram.
– Eu acho que evoluí muito esse ano, principalmente como armador. Existe uma diferença grande entre o jogo brasileiro e o americano. Nos Estados Unidos, é muito mais atlético, rápido e com contra-ataques. No Brasil, é mais calmo e organizado. Especialmente, acho que me encaixo mais no sistema de jogo brasileiro. Chupeta, Fernando e Rodrigo me ajudaram a entender meu papel em quadra, me mostraram como eu tinha que usar minha habilidade. Com o Fernando, minha leitura de jogo melhorou muito. O Chupeta me ensinou a armar um time, me fez comandar melhor meus companheiros e ser líder e capitão. O Rodrigo me deu confiança para jogar num nível alto. Então, eles me prepararam muito para agora. Também tem o Rafael Bernardelli, que fez um trabalho físico muito bom. Estou pronto para chegar lá e mostrar minha visão de quadra e distribuição de jogo – enfatizou.
Firme em todas as respostas, Francesco abriu um largo sorriso ao falar dos amigos que fez no Flamengo e de sua história recente no clube. No fim, se declarou torcedor e disse que espera, quem sabe, retornar um dia.
– Meu time é incrível e eu amo todos eles (jogadores), sejam da minha geração ou da geração mais velha. Os dois times me receberam de braços abertos. Quando voltei, no ano passado, fui acolhido imediatamente. A amizade que tenho com todo mundo vai durar a vida inteira. É uma amizade que dá para ver que, quando estamos dentro de quadra, estamos felizes entre si. E fora de quadra também tem muita diversão. Eles são meus melhores amigos. Os convido quando vou a um restaurante ou à praia, por exemplo. Passei ‘cinco anos’ no Flamengo e nunca pensei em jogar em outro time do Brasil. O Flamengo está numa fase excelente, muito bem dirigido pelo José Neto, que é um técnico ótimo. Ao longo desses anos, falei com o Rodrigo que, quando eu voltar, vou ter mais um ano de sub-22. Meu plano é treinar e me esforçar para conseguir uma faculdade com basquete melhor. Jogar profissionalmente é um sonho. Pelo lado acadêmico, agora vou estudar e aproveitar tudo que posso. Lá na frente, vou ter que escolher entre o basquete e minha outra profissão, que será economia ou engenharia molecular – finalizou.
Fonte: Garrafão Rubro-Negro (Globo Esporte)