Depoimento do meia-atacante Vander Sacramento Vieira, 27 anos, ao ESPN.com.br.
Ex-jogador do Flamengo, clube no qual começou a carreira, teve uma passagem conturbada pela Gávea, marcada por problemas extra-campo.
Após se aventurar no futebol do Leste Europeu, hoje brilha e é ídolo no APOEL, do Chipre, clube que ajudou a levar aos playoffs da Uefa Champions League, ficando a apenas mais um passo da fase de grupos do torneio.
Na última terça, ele fez um gol e deu uma assistência na vitória por 3 a 0 sobre o Rosenborg, que colocou a equipe cipriota na próxima fase eliminatória para jogar a Liga dos Campeões da Europa.
Durante sua carreira, ele também passou por América-RJ, Duque de Caxias-RJ, Democrata-MG, Ipatinga-MG, Botev Plovdiv-BUL e AEK Larnaca-CHP antes de chegar ao APOEL, com quem conquistou o Campeonato Cipriota na última temporada.
Leia abaixo o depoimento de Vander ao ESPN.com.br:
Meu pai foi jogador de futebol no Madureira e no Botafogo, mas parou por um problema no joelho. Ele sempre sonhou que eu também fosse jogador. Minha mãe me colocou para fazer caratê, natação, várias coisas, mas não teve jeito…
Comecei na escolinha de futsal do Madureira e passei depois pelo Fluminense. Aí pintou um teste no Flamengo, em 1997, e fui aprovado. Ainda fiquei um tempo fora, porque estava mal no colégio, mas voltei no ano seguinte.
Foi um processo legal passar pela base, mas também doloroso, porque eu era um pouco rebelde. No Fla, joguei com vários caras que viraram: Renato Augusto, Kayke, Anderson Bamba, Paulo Sérgio, Érick Flores, Bruno Mezena, Vinícius Pacheco, Paulo Victor…
Meu melhor momento foi quando jogamos um torneio sub-19 na Malásia, em 2007, contra Milan, Inter de Milão, Bayern, Chelsea, Ajax, PSV, Porto, Manchester United, Juventus, Boca Juniors, Arsenal… Só grandes clubes, e nós ficamos em terceiro lugar!
Eu era o camisa 10 daquela equipe.
Na nossa chave estavam o Ajax, Arsenal e Milan. Empatamos com o Milan e ganhamos as outras duas. Nas quartas, pegamos o PSG e vencemos, mas perdemos para o United na semifinal. Na decisão do bronze, vencemos o Milan, que tinha o Aubameyang. Ele inclusive foi o artilheiro da competição! Também tinha o Thiago Alcântara no Barcelona. O nosso craque era o Kayke, que fez cinco gols e também ficou bem na tabela de artilharia. Minha melhor partida foi justamente contra o Milan, porque fiz um gol, mas joguei todos elas.
Vou te contar uma coisa: com tudo o que aconteceu depois, não sei nem como estou vivo hoje, porque eu era muito deslumbrado. Depois que subi ao profissional, em 2009, teve uma hora que perdi o prazer de jogar futebol. Só pensava em fama, sucesso e dinheiro. Aí eu me perdi.
Não posso culpar ninguém por isso. Tive um treinador, que também foi um pai, uma pessoa especial, que foi o Adílio, cara que me ensinou demais. Sou da Pavuna, de família humilde, gente que me ensinou tudo, mas deixei o sucesso subir à cabeça. Eu era considerado uma das grandes promessas dos profissionais, dei entrevista, fiz matéria falando disso e aquilo.
Deslumbrei. Perdi totalmente o foco. Deixei a noite a vida mundana me contaminarem…
Isso me fez sair completamente do rumo.
Hoje, tudo mudou. Faço questão de testemunhar aos adolescentes que, no futebol, você tem que ter prazer para jogar. É um esporte maravilhoso, mas que exige muito de você. Precisa sempre ter foco, e no tempo que eu perdi o foco, aconteceram coisas horríveis. Perdi a chance de jogar no Flamengo, que é o maior clube do mundo, e disso eu me arrependo até hoje. Apesar disso, agradeço por ter passado 13 anos lá dentro, aprendi demais.
Eu realmente achei que estava com tudo ganho na vida, sendo que eu nem ganhava tão bem naquela época. O contrato do profissional era baixo, mas eu ficava feliz. Na vida, você aprende no amor ou na dor. Eu aprendi na dor, porque fui pelo caminho errado, e me vejo hoje como um cara de sorte. Tem gente que tem uma oportunidade na vida, joga fora e depois nunca mais tem outra. Eu tive algumas, e, na última, tive um estalo e soube aproveitar. Pensei comigo: ‘É agora ou nunca’. Hoje, jogo num grande clube e na Liga dos Campeões.
Eu passei uns dois anos treinando separado no Flamengo, sem jogar. Recebia em dia, estava tranquilo, mas um dia tomei um choque de realidade quando meu contrato acabou.
Nenhum clube queria me contratar…
Teve só um time que abriu as portas para mim: o Democrata, de Minas Gerais. O presidente me contratou, mas não fomos bem no Estadual. Fui depois para o Ipatinga, e conseguimos o acesso para a Série B. Eu brilhei num jogo decisivo contra a Chapecoense, em que eles abriram 2 a 0, mas nós viramos aos 46 do segundo tempo, com um gol meu.
Faltando duas semanas para o fim da temporada, eu tive uma lesão feia no joelho. Aí fui para o fundo do poço com bebidas e noitadas… Fiz um tratamento que tinha os melhores profissionais da medicina, mas eu mesmo não fui um bom profissional e fiz tudo errado. Apesar disso, ainda me venderam para o Litex Lovech, da Bulgária, que estava com o Hristo Stoichkov, ex-jogador do Barcelona e da seleção búlgara, como técnico.
Eu cheguei gordo e corria mancando. Fiquei 15 dias treinando e assinei contrato na sexta, mas, no sábado, o presidente do time fez todos os estrangeiros rescindirem, por conta de uns problemas do filho dele na Justiça. Ele ia ter que gastar uma grande com o filho no processo e o clube não teria mais como bancar os gringos. Aí fomos embora, fiquei dois dias empregado… Nem conheci direito o Stoichkov, mas deu pra ver que era um cara gente boa.
Voltei desiludido. Tinha mais cinco meses de contrato com o Ipatinga, e tinha decidido que depois disso ia parar de jogar bola. Já estava certo que seria o fim para mim.
Só que aí um empresáro arrumou outro time para mim na Bulgária, o Botev Plovdiv. A torcida desse clube é fanática demais, me acolheram de um jeito que eu me senti em casa. Me senti muito bem-vindo. E aí começou minha carreira na Europa, aos 22 anos.
Nesse período, tomei um choque de realidade, e minha vida mudou radicalmente. Quando fiz cinco meses no Botev, que foram muito bons dentro de campo, eu queria r embora, porque sofria com o frio, a língua, e saudades do Brasil. Nas férias, faltando dois dias para ir embora de volta para a Bulgária, nem queria saber de voltar, mas tomei um ultimato.
Foi nesse momento que dei minha vida para Jesus e para as coisas boas.
Eu era solteiro, recebia meu salário e torrava tudo, nunca tinha nada. Nas minhas férias, eu não honrava meus pais, pois tinha condição de dar uma vida melhor para eles, mas gastava tudo com porcaria nas noitadas por aí. Foi no dia que sofri um acidente de carro no Rio que minha vida mudou, mais ou menos na época em que meu primeiro filho nasceu.
Eu não estava dando suporte para ele e para ninguém, e isso me fez pensar muito.
Decidi: ou eu mudo, ou nunca vou fazer nada da minha vida.
Na Bulgária, aprendi a ser homem e profissional dentro e fora de campo. Encontrei a mulher que hoje é minha esposa, depois tive meu segundo filho e tudo foi se ajeitando. Mesmo quando eu não ia bem dentro de campo, fora em me sentia em paz. Acabava o dia e eu ficava tranquilo, porque sabia que tinha feito meu melhor. Não estava mais perdido.
Infelizmente, o time acabou falindo, e não deu mais para eu ficar. Acabei vendido para o AEK Larnaca, do Chipre, para começar uma nova etapa na carreira.
Foram nove meses maravilhosos. Cheguei com o campeonato cipriota em andamento, mas fui tão bem que acabei eleito o melhor estrangeiro do torneio, e terminamos como vice-campeões. Isso chamou a atenção do APOEL, que é o maior time do país, e eles foram me buscar com tudo.
Eu tive várias propostas, na verdade, mas sonhava em jogar uma Champions League. Afinal, quem não sonha com ela? Daí decidi junto com a minha esposa e viemos para cá. Na minha primeira temporada, já me tornei campeão nacional! A festa foi maravilhosa!
Para chegar aos playoffs da Champions, a gente teve que passar pelo Rosenborg, da Noruega, e foi complicado. Eu estava revendo os vídeos dos gols das duas partidas e não tem como explicar, só o cara lá de cima (risos)… O time deles era muito bom, nós sofremos no jogo de ida inteiro, mas ainda conseguimos marcar um gol lá. Perdemos só por 2 a 1…
Eu tinha sido titular em todas as partidas das eliminatórias, mas na partida de volta, o técnico falou que eu ia entrar no segundo tempo. Dormi bem pouco, porque estava ansioso, pilhado. Não digo que estava com medo, mas naquela ânsia de ajudar a equipe.
Eu entrei faltando uns 20 minutos para acabar, e estava todo mundo olhando no relógio o tempo todo. Estava 0 a 0, e nós precisávamos só de um golzinho. A gente pressionou o jogo inteiro, mas o goleiro dos caras pegava tudo. Além disso, eles fizeram catimba a partida inteira, não queriam jogar. Estava todo mundo já desistindo e jogando a toalha…
Até que, numa fração de segundo, tudo virou para a gente!
Foi uma noite abençoada. Fui muito feliz e tive o prazer de ajudar meu companheiro, dando uma assistência para ele marcar nosso primeiro gol, aos 46 do segundo tempo. Aí eles se descontrolaram. Depois, eu fiz um gol e, aos 54, o De Vincenti, argentino, fechou a conta.
3a 0 para nós!
Foi uma noite maravilhosa, que vou guadar para sempre. O vídeo do jogo eu vou mostrar para meus filhos e netos. Foi o primeiro gol meu que minha esposa viu no estádio, então tem um sabor mais que especial. Foi um dia lendário para a história do clube, que será lembrado para sempre pelos torcedores.
Agora, nosso objetivo é chegar na fase de grupos. Tudo na minha vida é passo a passo, e estou confiante que conseguiremos.
E pensar que quase joguei tudo isso fora…
Fonte: ESPN
Mais um que da pra perceber que a culpa das nossas promessas não vingar não é o clube, o jogador tem que ter responsabilidades que muitas vezes não tem.
Só deve ter filho se pastor no Santos, no Inter, no SP,…
Não precisa ser pastor, basta ser responsável.
Ok. Nos times que citei só tem jogadores responsáveis, por isso revelam tantos jogares.
É óbvio que o clube é o maior responsável pela formação dos jogadores e o Flamengo não sabe trabalhar com divisões de base. Todo jogador que o Flamengo revela ou foi na sorte ou teve parte da formação em outro clube.
Seria mais prudente colocar o verbo no passado, porque talvez as coisas estejam mudando na atualidade, não?
Não vejo isso.
O Vizeu, único a ser utilizado, foi aliciado enquanto jogava no América.
E Jorge foi vc quem o formou
Jorge é aquele que a torcida vaia?
Kkkkkkk a torcida o que ? Sai daí maluco
O clube pode fazer o muito que quiser, se o jogador não tiver cabeça não chega longe! A vida profissional não é pra ficar passando a mão de gente cachaceiro e irresponsável.
Acontece que o clube investe muito pra formar o jogador e independente de quem é a “culpa”, se há algo que o flamengo pode fazer pra diminuir os que se perdem, deve fazer. Como por exemplo investir na educação dos atletas, assistência psicológica etc.
Sim, mas se o jogador não quiser não vai adiantar mt não. Na maioria das vezes as pessoas passa a mão na cabeça dos jogadores e simplesmente ignora que deve ser deles a responsabilidade de se cuidar.
Grande merda os times por onde passou e pior ainda… “craque” do grande APOEL do Chipre! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Provavelmente ganha mais que você, a saúde dele com certeza é melhor que a sua, a mulher deve ser mais gostosa…
Boa sorte e que Deus o abençoe, que isso não aconteça com essa nova geração do Flamengo.
Botev Plovdiv!, Botev Plovdiv!, Botev Plovdiv!. A torcida do Botev Plovdiv, só poderia ser fanática mesmo, pois até na Bulgária, esse nome é difícil da torcida gritar. Botev Plovdiv!, Botev Plovdiv!. Por isso que na Bulgária, torço para o Litex Lovech.
Os mais jovens que estão nas categorias de base deveriam ler esse depoimento. Muitos se iludem e jogam suas carreiras no lixo. Esse teve uma segunda chance.