Viram o jogo domingo? A pergunta parece idiota, mas não é. Muita gente ainda não sabe que o horário das 11 da manhã de domingo, mais apropriado para lavagens de carro, visitas ao açougue pra comprar carne pro churras e maratonas de desenhos do Tom & Jerry, é um sucesso de público e renda no Campeonato Brasileiro. E o sucesso é ainda maior quando os jogos do Brasileiro nesse horário de corno são estrelados pelo Mengão Minha Razão de Viver, contumaz esculachador de recordes de público e renda e pesadelo recorrente dos paraguaios ocupando provisoriamente posições na tabela que não merecem.
Tanto mais quando os jogos do Mengão Perfurator são em Brasília, cidade dos faraós e do Mané Garrincha, o estádio-mausoléu onde está sepultado um bilhão de reais do seu, do meu, do nosso suado dinheirinho. E quando o assunto é bilhão nada se compara à torcida do Flamengo, que no quesito multidão só encontra rivais na Seleção da China e no Combinado Muçulmano. Rubro-negros bem vestidos de todas as partes do país atendem ao chamado selvagem e lotam o Manezão pra empurrar o Flamengo ladeira acima.
O Flamengo entrou todo diferentão em campo. Sem Arão, sem Guerrero e com Mancuello no banco, mas com Damião e Diego titularizados, o que conferiu uma pátina de time novo à nossa mulambada, apesar da conspicuidade de Márcio Araújo – O Intocável, na meiúca. Para minha surpresa esse Mengão Mexidão jogou bem, aliás, muito bem.
Tão bem que recebemos denúncias anônimas de que o Flamengo estaria praticando ilegalmente o futebol-arte em Brasília. Denúncia grave, que merece investigação cuidadosa, de preferência sem os holofotes que acompanham os membros do judiciário menos zelosos com o instituto da impessoalidade. Por enquanto não se pode condenar a ninguém por este suposto crime. Paciência.
O que podemos fazer é cumprimentar Diego e Damião pela estreia auspiciosa, pelos 3 pontos e pelos gols. Damião, bicicleteiro de raiz, mandou várias bikes no gol, acabou com a invencibilidade de Wallace e ainda teve tempo de fazer assistências marotas para que Everton perdesse gols feitos. Diego, líder nato e cheio de carisma, não fugiu do jogo, ao contrário, chamou a responsabilidade e pediu bola o tempo todo. Seu gol de cabeça, arrematando com maldade um centro perfeito de Pará, lembrou a estreia de Adriano Impera no Brasileiro de 2009.
Ontem em Brasília, como naquele então, deu tudo muito certo pro Flamengo e pra todos os sebastianistas que ficam procurando semelhanças entre 2016 e o ano do hexa. E como não confundir as bolas, minha gente? Era Flamengo x Grêmio, que para nós, os bem-vestidos, sempre estará associado à doideira do nosso Hexa, o ponto alto do século XXI. Sem clubismo, o Mengão esmagou os norte-uruguaios, que mal chegaram à nossa área e só fizeram o seu gol porque Rever estava num daqueles dias e entregou a paçoca.
Estamos ficando mais consistentes? Acho que sim, porque entra nêgo, sai nêgo e o time continua jogando igual. O futebol apresentado não é nenhuma Brastemp, mas tá dando muito pro gasto. E nos mantendo enxertados no meio dos paraguaios, que incomodados com nossa presença opressiva acabam por peidar jogo sim, jogo também. Agora então, que a convocação da Seleção Paraolímpica provavelmente desfalcará o Curica, o Porco e a Galinha, tenho fé que essa tabela do Brasileiro ainda vai nos trazer muitas alegrias. Volto a fazer um apelo aos adversários: parem de ajudar o Flamengo. Deixem que o Flamengo se ajuda sozinho.
Agora prestem muita atenção nessa letra: os efeitos do Ácido Heptanóico são cumulativos, a cada dose administrada no organismo ficamos mais viajandões. A atmosfera vai ficando cada vez mais irrespirável pra arcoirizada safada. O característico cheiro de hepta, que é perfume pra nós, é veneno pros alemão. Só não podemos deixar que o oba-oba, efeito colateral dos mais corriqueiros, se imponha ao sapatinho neurótico que tem sido nossa marca registrada nos anos de triunfo. Vamos na humildade, com fanfarra, foguetório e trio-elétrico, claro. Mas sempre na humildade.
Arthur Muhlenberg
Fonte: República Paz & Amor
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Boa...gostei da crônica.
Só em ver a foto ilustração na página inicial sabia que seria um texto do Muhlenberg. O cara é fod@.SRN
Muito bom ver um texto do Muhlenberg por aqui!
Sempre esculacha na sua redação característica.
Salve Arthur!
Grande Gênio!
TMJ!
SRN ST
Tenho um livro autografado do Arthur, sensacional os textos desse ser carismático e 120% Rubro-Negro!
Agora...compara com o Neto...cê tá de brincadeira ô
Pra falar a vÊrdade, o Arthur eh muito milhor que o Neto, que num manja nada de flamengo, digassi de passagi.
Os textos do Arthur são muito bons.Parabéns à Coluna.