O Palmeiras habituou-se no returno a fazer mais com menos. Perdeu os gols de Gabriel Jesus, apesar de decisivo no empate com o Flamengo, o fulgor de Roger Guedes e capacidade de construir volume de jogo. Mas Cuca compensa com as jogadas ensaiadas, a ênfase nas cobranças de lateral de Moisés, nos chutes fortes de Tchê Tchê. Também nas defesas de Jailson, um achado para repor a dura perda de Fernando Prass.
Acima de tudo, no pragmatismo de não se importar em sofrer para garantir os três pontos e na eficiência para matar o adversário, mesmo que ele não ofereça tantas oportunidades, ou a própria equipe não apresente qualidade para criá-las. Apesar do jogo ansioso, que define rapidamente as jogadas, e muitas vezes pobre, o time vence, pontua e que sigam o líder.
Já o Flamengo construiu a campanha de recuperação com base no desempenho. O time de Zé Ricardo cresceu com as entradas de Diego e Leandro Damião, se ajustou num 4-2-3-1 compacto, com posse de bola e jogadas trabalhadas. Mesmo sem placares elásticos, as atuações eram sólidas. O jogo fluido, consistente. Paciente.
Até a hora em que se viu a um ponto do topo da tabela, a disputa com o alviverde ficou mais polarizada pela queda do Atlético Mineiro e, para buscar o título, resolveu que as partidas seriam “para ganhar e não jogar”. Arrancar os três pontos à forceps, se preciso. Um culto à mediocridade que o Corinthians no ano passado provou não ser necessário. A senha para se perder.
Esse Fla não sabe ser minimalista e apressado. Pelo contrário, normalmente para ir às redes precisa de muita posse, de rodar a bola, de minar as forças do rival e finalizar várias vezes. Sem desempenho restaram as jogadas aéreas. Que já eram muitas, porém a equipe não dependia tanto delas.
Dos últimos cinco gols, quatro foram em cruzamentos na bola parada: o gol atribuído a Damião no Fla-Flu, o de Rever contra o Internacional e os dois de Guerrero no empate com o Corinthians na reabertura do Maracanã.
Jogo que já se configurava perigoso durante a semana. Normalmente quando o assunto futebol fica longe da pauta não termina bem. De segunda a sábado só se falou de STJD e depois dos ingressos esgotados.
No domingo o estádio estava lindo e o mosaico “Tua Glória é Lutar” belíssimo. Só que isso não ganha jogo. Pelo contrário, costuma dispersar o próprio time e agigantar o rival. Não por acaso, os vários “Maracanazos” na história recente do clube.
O Flamengo achou que o Corinthians só se defenderia. Ainda mais com Oswaldo de Oliveira escalando Willians no lugar de Camacho. Mas o 4-1-4-1 armado estava pronto para o contragolpe. Com os pontas Romero e Marquinhos Gabriel procurando as diagonais e Guilherme como “falso nove” circulando às costas de Márcio Araújo e Willian Arão.
Porque Zé Ricardo promoveu as entradas de Emerson e Mancuello, porém não alterou o desenho tático já estudado e mapeado pelos adversários. O mesmo 4-2-3-1, com o argentino tentando ser um ponta armador pela esquerda e o camisa onze buscando as diagonais para se juntar a Guerrero.
A “ressurreição” do Sheik é inexplicável. Um gol no Palestino no Chile pela Sul-Americana foi o suficiente para reaparecer. Emerson era o jogador símbolo do time desconjuntado de Muricy Ramalho. Nos últimos tempos, se tornou o típico atacante “enganador”.
Repare: ele não se esconde do jogo, se apresenta, corre muito para seus 38 anos. Ainda “faz fumaça”. Mas em toda jogada aguda, seja assistência ou finalização, o acabamento técnico é ruim. Objetivamente colabora muito pouco. Ou quase nada. E ainda sobrecarregou Pará por não voltar pela direita. Bem pior que os outros ponteiros velocistas.
Restou ao Flamengo despejar bolas na área para reagir diante de um Corinthians que trabalhou como o time rubro-negro costumava fazer: jogadas de aproximação, com triangulações e movimentação na frente. Abriu o placar com Guilherme recebendo livre e finalizando fraco, mas no canto. Depois Rodriguinho completou a mais bela jogada da partida, com direito a corta-luz do camisa dez.
Foram nada menos que 41 cruzamentos em pouco mais de noventa minutos, O 19º encontrou Guerrero (muito) impedido para o primeiro empate. O peruano marcaria o segundo no rebote do toque de Arão, que no final deu lugar a Damião. Após a tola expulsão de Guilherme o Fla partiu para o abafa num descoordenado 4-2-4.
Lutou, suou, com fibra e persistência. Mas futebol mesmo entregou muito pouco. Uma nova atuação bem abaixo da média do time na competição. E sem desempenho o resultado normalmente não vem. O Palmeiras das últimas rodadas é a exceção.
O Flamengo vive um paradoxo: achou que precisava não jogar para pontuar e seguir o líder. Agora se não resgatar sua essência pode até sair do G-3. Os jogos contra Atlético Mineiro e Botafogo viraram decisões pela vaga direta na fase de grupos da Libertadores.
O futebol é dinâmico.
Fonte: André Rocha
Excelente análise!
Otima análise!
Sempre vi isso, só que esse time iludiu muita gente por aqui!
Time fraco com jogadores muito abaixo do nivel para jogar no Flamengo!
Hoje o flamengo gasta muito e gasta mal!
Fora Rodrigo Caetano e Godinho!
Gestão Bandeira é isso otimos administradores e financistas porém um grupo fracassado no futebol!
Ótimo texto. O Flamengo tem que esquecer o título, já era. Tem que se preocupar em ficar entre os 3 primeiros pra ir direto pra fase de grupos da Libertadores.
Esse Fla não sabe ser minimalista e apressado. Pelo contrário, normalmente para ir às redes precisa de muita posse, de rodar a bola, de minar as forças do rival e finalizar várias vezes. Sem desempenho restaram as jogadas aéreas”.
Exato! E ainda tem gente que quer crucifixar os caras… &;-D