E lá vai Rubens Barichello rumo a mais uma vitória na Stock Car, na etapa de Curvelo (MG) do campeonato da categoria… Oh, não! Na reta final, o carro ficou sem gasolina e o piloto acabou ultrapassado, quando tudo parecia bem. Os times cariocas sentem na pele uma dor parecida com a de Rubinho no último domingo: dentro de suas limitações e objetivos, eles vinham bem, até que, cerca de um mês atrás, tudo desandou. Do Flamengo, que sentia o cheiro do título do Campeonato Brasileiro da Série A, ao Vasco, que tinha o mesmo projeto na segunda divisão, passando pelos intermediários Botafogo e Fluminense, nada deu certo.
Nas cinco últimas rodadas, os grandes times cariocas, somados, ganharam três jogos, empataram onze e perderam seis. O Fluminense (que, depois de um momento de euforia no Brasileiro, quando chegou à quarta colocação, após a vigésima oitava rodada), que já vinha mal, conseguiu a proeza de não ganhar nenhum jogo. A última vitória do tricolor foi exatamente a que encerrou o período de vacas gordas, ainda no começo de outubro: 3 a 1 no Sport, em Edson Passos.
O objetivo da equipe era alcançar a Taça Libertadores, tarefa facilitada depois que o Brasil ganhou novas vagas e o G-4 virou G-6. Mas foi tudo por água abaixo: agora, para sonhar com a competição continental, o Flu precisa vencer Figueirense e Internacional (o que, na fase atual, soa como missão impossível) e torcer para outros resultados para, num eventual título da Copa do Brasil do Atlético-MG, conseguir a vaga como sétimo colocado.
– O estado atual do Fluminense é o retrato da instabilidade de seu departamento de futebol – analisa Carlos Eduardo Mansur, colunista do GLOBO. – O clube tem um projeto muito bom, forma atletas, mas em vez de usá-los, contrata pacotes de jogadores medianos e caros. É uma decisão incoerente com o perfil de clube formador.
´Marcelo Barreto, apresentador do Sportv e também colunista do Globo, vê outro fator como decisivo na campanha tricolor.
– O ano eleitoral atrapalhou tudo – decreta. – O time vinha bem, mantendo o mesmo técnico (Levir Culpi), mas não aguentou.
Mansur e Barreto não acham que exista um fator comum na queda dos quatro times. O segundo ainda separa grupos.
– Dois times, Flamengo e Botafogo, saíram melhores do que a encomenda, acho que bateram no teto – analisa ele. – O Flamengo paga um preço físico, pois viajou o ano inteiro. É até cruel, ele pagou no Maracanã por não ter conseguido jogar lá. O Botafogo veio da Série B, olha onde estão os outros times que subiram, dois já desceram (América-MG e Santa Cruz) e o Vitória vai brigar para ficar até o fim.
O Botafogo está cinco posições na frente do Fluminense na tabela (sexto contra décimo primeiro). Por algumas rodadas, ele foi a sensação do campeonato, mas agora sofre para se manter no G-6. Nas últimas cinco rodadas, o time do técnico Jair Ventura marcou apenas cinco pontos dos quinze possíveis.
– Acho que não se pode falar em frustração no Botafogo – diz Mansur, corroborando a teoria de Barreto. – A posição atual é realista, até otimista para o elenco e o investimento do time. Realmente a equipe encaixou seu jogo com o Jair Ventura, teve um momento espetacular, mas, como acontece com todo time que vai bem, o Botafogo começou a ser mais estudado, a enfrentar times mais cautelosos.
De qualquer forma, ele é taxativo quanto ao diagnóstico final da equipe alvinegra:
– Mesmo que não ganhe mais nada, está de bom tamanho.
O Flamengo, por ter tido a maior pretensão – e, segundo a maioria dos analistas, contar com o melhor elenco -, talvez seja o que enfrenta a maior frustração. Se tivesse vencido o Coritiba na último domingo, no Maracanã, em vez de empatado por 2 a 2, o rubro-negro ainda teria chances de título, com 69 pontos contra 74 do Palmeiras.
Nos últimos cinco jogos, foram quatro empates, contra Corinthians, Atlético-MG e Botafogo, além do time paranaense. Se tivesse vencido mais um dos jogos que empatou, o Flamengo teria três pontos menos do que o líder e uma chance real de título. Na vida real, o Palmeiras precisa apenas empatar com a Chapecoense em São Paulo, no domingo, para se sagrar campeão. À frente do Fla, o Santos é o único a ter uma microchance de título, com 68 pontos.
TROPEÇOS NO FIM
– O ano do Flamengo foi ruim, mas o Brasileiro foi bom – analisa Mansur. – As viagens pesaram, mas não podemos esquecer que elas aconteceram por culpa do clube, que decidiu que o time não teria casa no Rio até a reabertura do Maracanã. Acho que na hora de decidir faltou um pouco de repertório tático, também teve a contusão do Everton, que passou um tempo fora e fez muita falta.
O nível de frustração dos três times fundados na Zona Sul carioca pode variar, mas todos sabem que disputarão a primeira divisão em 2017. Drama, drama mesmo vive o Vasco, que precisa vencer o Ceará no sábado, em São Januário, ou torcer para que o Náutico, em boa fase, não derrote o Oeste, para, na última rodada, voltar à Série A. A alta faixa etária do time, alardeada desde 2015, é citada como problema pelos dois analistas.
– No primeiro semestre, a gente contava quantos jogos tinha a série invicta do Vasco (foram 34, em várias competições), ficava imaginando em que posição o time estaria se jogasse a Série A – lembra Barreto. – Acho que a base com jogadores de mais de 30 anos, como Nenê, Andrezinho, Rodrigo e Júlio César, acabou pesando, e a conta veio neste segundo semestre. Agora, o time que nunca deixou o G-4 da Série B corre o risco de sair de lá exatamente quando não pode, na última rodada.
Mansur diz que o Vasco não passa por uma queda.
– Vejo uma diferença entre desempenho e resultado – diz ele. – O Vasco, mesmo quando estava ganhando os jogos, não jogava bem. O talento individual resolvia. Faltou a comissão técnica colocar mais a base para jogar, para poupar os jogadores mais velhos. Agora não dá para cobrar dos garotos, nessa pressão.
Outro colunista do GLOBO, Fernando Calazans enxerga um fator comum aos quatro times:
– Nenhum deles é bom.
Fonte: O Globo