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“Felipe, ex-Fla, busca a volta por cima no Boavista, após bebidas, depressão e tatuagem como terapia”

No dia 29 de janeiro, o goleiro Felipe pode estar começando a reescrever sua história no futebol. Contra o Flamengo, seu ex-clube, o Paredão, aos 32 anos, vai estrear no Campeonato Estadual, agora com a camisa do Boavista, com o qual assinou um contrato de quatro meses.

Dispensado pelo Rubro-negro no início de 2015, quando ainda tinha um ano e meio de contrato pela frente, Felipe provou da depressão à esperança. Pensou em desistir e, após ficar um ano sem jogar, reencontrou fôlego no Figueirense e, mais tarde, no Bragantino, onde ficou até setembro.

Seu drama começou no meio de 2014, quando o técnico Vanderlei Luxemburgo, então treinador do Flamengo, afastou-o do grupo.

– Eu ainda pensava: “Isso vai mudar”… Mas houve um jogo fora, e foram relacionados três goleiros. Vi que meu nome não estava. Aí, você larga, para de treinar direito, não se dedica mais, come muito, bebe muito. Para mim, ali já não fazia sentido nada. Aos poucos você vai perdendo o gosto de jogar, não levanta mais para nada, só fica deitado… Foi uma barra difícil que eu passei. Foi um baque para mim aquele afastamento, da forma como foi. Você de repente não presta mais? “Eu estava quatro anos treinando ali com eles e agora estou aqui?” – narrou Felipe, em entrevista ao vivo no Facebook do Jornal Extra.

O goleiro somente percebeu que estava no caminho errado em outubro de 2015, quando não conseguia abotoar a roupa que comprara para a festa de aniversário da filha.

– Bebia cerveja, comia besteira… Você não tem mais noção de que é um atleta. Eu tive só noção no aniversário da minha filha. No meio do ano houve aquela parada para a Copa, e eu comprei uma roupa para usar. Já estava praticamente três meses sem jogar. Quando fui vestir, a roupa não entrou. Foi quando pensei: “Tem alguma coisa errada”. Sem o apoio dos familiares, principalmente minha mulher e meu sogro, que estavam ali comigo, eu já podia ter parado há muito tempo. Os amigos somem, né? Quando você está no Flamengo, a casa está com 50 cabeças, você está com muita gente… E aí, quando você vai saindo dos (clubes) grandes, vê quem é quem. Hoje eu sei quem são as pessoas em quem posso confiar, aquelas que quando você precisa vão estar do seu lado. Quando você está num momento ruim, as pessoas que estiverem perto de você são as que realmente querem o seu bem.

O Boavista é como um recomeço na vida de quem passou aproximadamente oito anos da carreira nos grandes Corinthians e Flamengo.

– Passei muito tempo sem fazer nada em casa, desanimado. Sou novo ainda, tenho muito a dar. Você pode contar uns 12 ou 13 (jogadores) em times de ponta que são mais velhos do que eu e jogando em alto nível. Nesses quatro meses, vou jogar no Boavista como se fosse meu primeiro time – afirmou.

Entre o isolamento no Flamengo e a tentativa de retomar a carreira no Figueirense, não houve somente tristeza e bebida. Felipe passou a tatuar o corpo a tal ponto que já perdeu a conta de quantas imagens estão ali registradas para sempre.

– Isso aqui foi terapia. Eu já tinha algumas. Mas a maioria foi quando fiquei sem fazer nada em casa. Toda segunda-feira eu ligava para o tatuador, e ele ia lá em casa. Ainda bem que eu voltei a jogar, porque minha mãe falou que eu estava pior do que muro de colégio público (risos). Se eu não voltasse a jogar logo, até no rosto eu tinha feito – ironizou.

Felipe leva para o Boavista mais um aprendizado: não pode falar tudo o que pensa, embore reprove o discurso vazio dos jogadores de futebol.

– Essa geração mimimi está muito chata. Tenho certeza de que as resenhas nos bares eram mais engraçadas – lembrou.

Das provocações ao Vasco, feitas na conquista do título estadual de 2014 pelo Flamengo, ele não assina uma. Jura que não saiu de sua boca a frase “roubado é mais gostoso”, após o gol de Márcio Araújo, em impedimento, no último lance da partida, quando os cruz-maltinos já comemoravam.

– Não tem um áudio, não tem um vídeo disso. Mas uma mentira contada dez vezes vira verdade. Aquilo me prejudicou bastante…

Marluci Martins

Fonte: Extracampo

Coluna do Flamengo

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