Presidente da Autoridade Pública de Governança do Futebol (Apfut) fala sobre os primeiros meses de ajustes para que o controle dos clubes que aderiram ao Profut seja, de fato, implantado. Ele diz que o diálogo com os clubes é de alto nível
Como foi o processo de definição como presidente da Apfut? O que tem feito neses primeiros meses no cargo?
Eu recebi um convite do ministro. Na época, ainda estava trabalhando em uma empresa. Falei que teria total interesse. Se eu só seguir o que a lei determina, já vou ter bastante trabalho. Eu não caí de paraquedas. Quando converso com os clubes eu já entendo o que eles estão falando. Eles têm um receio sobre como vai acontecer a fiscalização. Tenho conversado bastante, dizendo como será o processo. Os clubes têm várias demandas específicas para o futebol.
É difícil encontrar as informações necessárias sobre os clubes? Há um problema de transparência no país?
As informações não são tão difíceis. Com clubes de séries A, B e C, as informações estão no site. A discussão está em, por exemplo, como contabilizar atletas nos balanços. Cada clube, por mais que haja uma definição do Conselho Federal de Contabilidade, interpreta de uma maneira. Você pode ter um clube com X milhões e outro que pode ter menos, mas aparecendo mais no balanço porque ele coloca de forma diferente, seja o passivo, o dinheiro de bilheteria, televisão… Não vejo um problema de transparência. É um problema de interpretação.
Pela experiência que acumulou no mercado esportivo, como vê o desenvolvimento da administração dos clubes?
Cada vez mais as entidades têm se profissionalizado. Estou há mais de 10 anos no mercado esportivo. O nível profissional cresceu bastante, seja na parte de marketing, administrativa, contábil… Estamos discutindo a interpretação do balanço, não estamos discutindo se tem balançou ou não.
Como lida com as críticas de que a Apfut está atrasada?
A Apfut foi criada em um momento conturbado do Brasil. Assim que ela foi criada, o país passou a entrar em momento de transição. Houve uma série de questões políticas. O benefício aos clubes foi dado, mas não foi criada a autoridade para fiscalizar. Dadas as circunstâncias, temos o interesse que a fiscalização aconteça.
Brasília vive em ebulição. Toda semana tem uma delação nova, um escândalo novo, o que demanda atenção do governo. Isso atrapalha o seu trabalho?
Não altera em nada. Para mim, é muito mais o processo a ser criado. A Apfut tem amparo legal para pegar informações, mas nunca foram solicitadas. Tem que pegar do Conselho Curador do FGTS, Procuradoria da Fazenda Nacional, Banco Central… Isso demanda tempo, de forma geral. Mas temos reuniões quase semanais com eles para conseguirmos fazer uma análise.
Acredita que o Profut irá mudar a cultura do futebol brasileiro?
Todos os clubes que aderiram sabiam quais eram as contrapartidas. Tenho participado de palestras e seminários e vejo um receio dos clubes quando fazem algum tipo de declaração. “Vai ter contratação? Não, temos que seguir as regras do Profut”. Os dirigentes estão um pouco mais preocupados.Os clubes estão mais conscientes sobre onde investir.
O que vai fazer com os 22 clubes com algum tipo de inadimplência?
Esse é um levantamento inicial feito pela Receita Federal de quem não pagou a primeira parcela, não é que não cumpriram a lei. Então temos que analisar ainda cada caso junto com a Receita para depois definir.
Mas a lei diz que o clube que não pagar a primeira parcela já estaria fora…
Temos que ver cada caso. Não tenho como confirmar isso. Precisamos saber como ocorreu primeiro e analisar antes de qualquer decisão.
E quem vai substituir o Bom Senso?
Estamos conversando ainda, mas, hoje, os membros continuam sendo os mesmos que foram indicados para a Apfut anteriormente. Primeiro tem que haver uma renúncia dos conselheiros que já compõem a Apfut para depois se discutir as opções que temos. E os nomes e entidade que surgirem ainda têm que passar pela aprovação do Conselho Nacional do Esporte. Só então é levado para a sanção presidencial.
Fonte: Lance