“Por uma breve metafísica de Márcio Araújo”

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E depois de um 2016 irregular em que tanto brigamos pelo título de uma das competições mais disputadas e complicadas do mundo – o Campeonato Brasileiro – quanto fomos eliminados no mata-mata não apenas por um time que disputava a série C, mas também por um outro que representa uma das menores minorias do mundo – os palestinos que residem no Chile –, chega aquele período que nos obriga a refletir sobre a vida, o destino, a trajetória de cada um de nós até aqui.

Não, não falo do fim de ano. Falo da renovação do volante Márcio Araújo.

Porque sim, Márcio vai ficar. Amado pelo técnico, respeitado pela diretoria, elogiado pelos companheiros de equipe, um dos jogadores mais hostilizados pela torcida já está quase garantido na equipe para 2017, enquanto outros que têm níveis parecidos de rejeição já estão descartados – Chiquinho, Sheik – ou ao menos têm sua despedida considerada – Cirino, Damião.

E o que torna Márcio Araújo tão especial? O que permite que um volante considerado limitado e que não agrada a nenhuma torcida já tenha completado 200 jogos por dois dos maiores clubes brasileiros – Palmeiras e Atlético-MG – e muito provavelmente vá atingir a mesma marca pelo Flamengo? Como explicar o fato de que mesmo num time que trouxe um volante estrangeiro para ser titular e que tem outro volante como um dos maiores destaques da base Márcio Araújo prossiga titular?

Existe a chamada explicação “racional”, claro. Márcio rouba muitas bolas, Márcio tem um alto índice de acerto no passe, Márcio parece ter uma obediência tática que faria um robô parecer o Negueba jogando beach soccer após seis rodadas de caipirinhas. Somado isso ao que parece ser uma dose imensa de profissionalismo – imagino que ele não apenas seja o primeiro a chegar nos treinos como também encha as bolas com a própria bomba que trouxe de casa e só durma depois de lustrar todas as traves do CT – faz até um certo sentido todo o lobby dentro e fora do campo para que ele permaneça.

Mas se tem uma coisa que nós sabemos que o futebol não é, essa coisa é “racional”. Então se não continua no Flamengo pelas estatísticas, pelo passe, pelas roubadas de bola, por que um jogador tão comum quanto Márcio, que não é nem tão bom ser elogiado e nem tão ruim pra já ter sido escorraçado, continua num clube como o Flamengo? Bem, talvez, simbolicamente, ele continue exatamente por isso, por ser comum.

Sem habilidade diferenciada, sem fôlego de velocista, sem visão tática de craque, Márcio Araújo é acima de tudo um homem comum dentro de campo, praticamente um de nós, e essa é a talvez a sua mais importante função.

Vendo Márcio em campo, com sua cara levemente confusa, sua vontade de se livrar da bola, seu olhar de quem estava procurando a porta do banheiro num restaurante self-service e foi parar no vestiário do estádio, nós sentimos que qualquer um pode ser jogador de futebol. Eu, que estou um pouco acima do peso, você, que não dobra mais o joelho depois daquela lesão, seu colega do escritório, que tem tão pouca coordenação motora que segura o mouse com as duas mãos.

Márcio, com seu eterno ar de quem não deveria estar ali mas sua constante gratidão por estar, representa muito mais cada um de nós do que a classe de um Diego, a malícia de um Jorge, a coragem de um Guerrero. Márcio, como a maior parte de nós na maior parte do tempo, não sabe o que está fazendo, não se sente aparelhado para fazer da melhor maneira, mas vai continuar fazendo do mesmo jeito. Não vai acertar o lançamento de 50 metros, não vai encaixar o chute de primeira, não vai levantar a taça como capitão, mas vai estar lá, fazendo a sua parte, correndo, brigando, dando aquele carrinho porque sabe que não vai conseguir resolver de outro jeito.

Márcio é cada um de nós na luta diária e constante pra sobreviver num mundo hostil e confuso, onde nada é garantido, brilhar todo dia é complicado e cada gol, mesmo se impedido e sem querer, merece ser comemorado. E num clube tão grande, com uma torcida tão imensa, nada faz mais sentido do que sempre ter dentro de campo ele, um jogador tão comum que talvez exatamente por isso se torne especial.

Ou isso ou ele apenas tem uma sorte do cacete. Pode ser isso também. É complicado explicar o Márcio Araújo.

Marcos Almeida

Fonte: Nosso Flamengo

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  • Nessa época de poucas novidades no futebol vão chover textos deste tipo aqui no coluna. Pessoal que quiser tirar uma de colunista e souber escrever mais ou menos é só mandar algum texto pro site que eles vão publicar. Não precisa ser nada de novo ou interessante, mas dê preferência a assuntos polêmicos, porque eles também adoram chamariz de cliques, como a maioria dos sites.

  • Análise sensacional! Kkkkkk

    Mas uma correção: o autor é o João Luís, do Isso aqui é Flamengo, não o Marcos Almeida. O texto foi publicado originalmente no ESPN FC.

    • Ironia fina.
      Talvez não fosse problema se o DitoCujo apenas compusesse o elenco, sendo relacionado para um jogo ou outro do carioca, entrando só de vez em quando e ficando de fora dos jogos importantes da temporada .

      O problema é esse limitado arremedo ser escalado de titular absoluto sem que os outros tenham as mesmas chances.

  • Te todos os textões defendo o MA, esse foi de longe o mais imbecil!!!!!

    • Foi zoeira, não é uma defesa de fato. Já vi outros textos do João (que na verdade foi quem escreveu) e esse é o estilo dele.

  • Ainda tem uns manés entendidos de futebol que defendem esse inútil !!!!

  • Esqueceu de mencionar que o fdp ainda é azarado mesmo jogando em grandes times nunca foi campeão de nada expressivo, pelo contrário acumula dois rebaixamentos.

  • SENSACIONAL
    ?????????????????????????????? ????

  • Eu acordei meio p baixo até ler esse texto SENSACIONAL, me deu crise de riso!! Quem escreveu poderia substituir o Adnet na globo kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  • Cara..

    Não.

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