O jogo de empurra entre a Odebrecht e o governo do estado do Rio de Janeiro arruína o estádio cuja reforma custou R$ 1,2 bilhão
“Como bom brasileiro, o Maracanã nasceu com a vocação da vaia. Lá vaia-se até minuto de silêncio.” O estádio carioca é personagem constante das crônicas de Nelson Rodrigues. O carinho do escritor por aquele lugar também tinha raízes em sua família – seu irmão, Mário Filho, fora um dos grandes apoiadores da construção do estádio para a Copa do Mundo de 1950. Naquele artigo publicado no jornal O Globo em 1966, Nelson Rodrigues incentivava o Maracanã a contrariar sua vocação natural e aplaudir a Seleção Brasileira que iria para a Copa da Inglaterra. “Como se omitir, se a Seleção precisa de todos nós e de cada um de nós? Eis a verdade inapelável e eterna: só o grande amor faz o grande escrete. Por isso temos de inundar o Maracanã com nosso amor.” Seria útil aplicarmos hoje uma releitura das palavras do cronista esportivo. Se não dá para inundar o Maracanã de amor, seria ótimo que ele recebesse ao menos um pouquinho de consideração. O estádio símbolo do Brasil reflete a crise em que o país mergulhou. A história inclui lixo acumulado, cadeiras entulhadas, gramado ruim, gasto excessivo e malfeito, políticos fazendo pose, furto e empreiteira metida no petrolão.
O descaso com o patrimônio é tamanho que nem o busto de cobre de Mário Filho foi poupado. A Polícia Civil registrou na semana passada o furto de dois bustos (o de Mário e o do general Ângelo Mendes de Morais), de duas televisões e de partes de cobre de mangueiras de incêndio. Faltam segurança, limpeza e manutenção. A grama vem morrendo por passar tempo demais sem receber água num verão forte. O Maraca está sem luz e, com isso, as bombas automáticas de irrigação não funcionam. Apesar da dívida de quase R$ 3 milhões de contas vencidas, a distribuidora de energia Light informa que não cortou o fornecimento para o estádio. A hipótese mais provável é que o sistema das bombas de irrigação tenha sofrido algum curto-circuito. Não há certeza porque ninguém foi incumbido de fazer essa vistoria. O cenário não condiz com um equipamento urbano cuja última reforma custou mais de R$ 1,2 bilhão – e tudo verba pública, do contribuinte. Passados os grandes eventos esportivos – a Copa em 2014 e a Olimpíada em 2016 –, o Maracanã ficou órfão. A novela triste começou num passado recente, quando ainda havia dúvida sobre a dimensão da crise em que o Brasil entraria.
O ex-governador fluminense Sérgio Cabral concedeu a administração do estádio ao consórcio formado pela construtora Odebrecht, pela empresa americana de entretenimento AEG e pela IMX, o braço que Eike Batista montou para explorar os mercados do esporte e do entretenimento. O contrato assinado no início de 2013 tinha de durar 35 anos. Por motivos diferentes, cada parte envolvida abandonou a responsabilidade nos anos seguintes. Cabral está preso por envolvimento num esquema de corrupção desbaratado pela Operação Lava Jato. A mesma operação policial colocou no xilindró Marcelo Odebrecht, presidente da construtora. A fortuna de Eike evaporou depois que o mercado notou que ele prometeu muito mais do que conseguiria cumprir, e a IMX foi vendida. Saiu do consórcio. A AEG continua nele, mas fracassou em todos os estádios nos quais tentou trabalhar no Brasil.
O caso específico do Maracanã ainda tem outro complicador. Acuado pelas manifestações populares de meados de 2013, Cabral proibiu a demolição do parque aquático Júlio Delamare e do estádio de atletismo Célio de Barros, ambos parte do complexo esportivo que inclui o Maraca. A Odebrecht, amparada pelo contrato de concessão, derrubaria as estruturas para erguer empreendimentos mais rentáveis, como um shopping center e um estacionamento. Sem essas obras, a companhia teve um prejuízo superior a R$ 100 milhões com o empreendimento desde a reabertura em 2013. O estádio de futebol e o ginásio Maracanãzinho, usado pelo vôlei na Olimpíada, não geraram receita suficiente para o negócio parar em pé.
“Como bom brasileiro, o Maracanã nasceu com a vocação da vaia. Lá vaia-se até minuto de silêncio.” O estádio carioca é personagem constante das crônicas de Nelson Rodrigues. O carinho do escritor por aquele lugar também tinha raízes em sua família – seu irmão, Mário Filho, fora um dos grandes apoiadores da construção do estádio para a Copa do Mundo de 1950. Naquele artigo publicado no jornal O Globo em 1966, Nelson Rodrigues incentivava o Maracanã a contrariar sua vocação natural e aplaudir a Seleção Brasileira que iria para a Copa da Inglaterra. “Como se omitir, se a Seleção precisa de todos nós e de cada um de nós? Eis a verdade inapelável e eterna: só o grande amor faz o grande escrete. Por isso temos de inundar o Maracanã com nosso amor.” Seria útil aplicarmos hoje uma releitura das palavras do cronista esportivo. Se não dá para inundar o Maracanã de amor, seria ótimo que ele recebesse ao menos um pouquinho de consideração. O estádio símbolo do Brasil reflete a crise em que o país mergulhou. A história inclui lixo acumulado, cadeiras entulhadas, gramado ruim, gasto excessivo e malfeito, políticos fazendo pose, furto e empreiteira metida no petrolão.
O descaso com o patrimônio é tamanho que nem o busto de cobre de Mário Filho foi poupado. A Polícia Civil registrou na semana passada o furto de dois bustos (o de Mário e o do general Ângelo Mendes de Morais), de duas televisões e de partes de cobre de mangueiras de incêndio. Faltam segurança, limpeza e manutenção. A grama vem morrendo por passar tempo demais sem receber água num verão forte. O Maraca está sem luz e, com isso, as bombas automáticas de irrigação não funcionam. Apesar da dívida de quase R$ 3 milhões de contas vencidas, a distribuidora de energia Light informa que não cortou o fornecimento para o estádio. A hipótese mais provável é que o sistema das bombas de irrigação tenha sofrido algum curto-circuito. Não há certeza porque ninguém foi incumbido de fazer essa vistoria. O cenário não condiz com um equipamento urbano cuja última reforma custou mais de R$ 1,2 bilhão – e tudo verba pública, do contribuinte. Passados os grandes eventos esportivos – a Copa em 2014 e a Olimpíada em 2016 –, o Maracanã ficou órfão. A novela triste começou num passado recente, quando ainda havia dúvida sobre a dimensão da crise em que o Brasil entraria.
O ex-governador fluminense Sérgio Cabral concedeu a administração do estádio ao consórcio formado pela construtora Odebrecht, pela empresa americana de entretenimento AEG e pela IMX, o braço que Eike Batista montou para explorar os mercados do esporte e do entretenimento. O contrato assinado no início de 2013 tinha de durar 35 anos. Por motivos diferentes, cada parte envolvida abandonou a responsabilidade nos anos seguintes. Cabral está preso por envolvimento num esquema de corrupção desbaratado pela Operação Lava Jato. A mesma operação policial colocou no xilindró Marcelo Odebrecht, presidente da construtora. A fortuna de Eike evaporou depois que o mercado notou que ele prometeu muito mais do que conseguiria cumprir, e a IMX foi vendida. Saiu do consórcio. A AEG continua nele, mas fracassou em todos os estádios nos quais tentou trabalhar no Brasil.
O caso específico do Maracanã ainda tem outro complicador. Acuado pelas manifestações populares de meados de 2013, Cabral proibiu a demolição do parque aquático Júlio Delamare e do estádio de atletismo Célio de Barros, ambos parte do complexo esportivo que inclui o Maraca. A Odebrecht, amparada pelo contrato de concessão, derrubaria as estruturas para erguer empreendimentos mais rentáveis, como um shopping center e um estacionamento. Sem essas obras, a companhia teve um prejuízo superior a R$ 100 milhões com o empreendimento desde a reabertura em 2013. O estádio de futebol e o ginásio Maracanãzinho, usado pelo vôlei na Olimpíada, não geraram receita suficiente para o negócio parar em pé.
A Odebrecht renegociou por mais de um ano o contrato com o governo do Rio de Janeiro, encabeçado pelo governador Luiz Fernando Pezão, vice de Cabral na gestão anterior. Em 2016, abriu-se uma possibilidade de desatar o nó. O Maracanã foi cedido ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 1º de março até 30 de outubro, oito meses, tempo suficiente para que a Odebrecht e o governo do Rio se entendessem sobre quem administraria o estádio após a Olimpíada. A construtora quer revender a concessão para outro consórcio. Interessado em participar da gestão, o Flamengo lutou para que uma nova licitação fosse feita. As regras vigentes proíbem clubes de gerir. O vaivém entre uma hipótese e outra perdurou por todo o ano de 2016. Não se chegou a nenhuma solução. Até que a construtora decidiu: não quer mais brincar de administrar estádio.
A Odebrecht não quer reassumir o Maracanã, porque isso significa voltar a gastar dinheiro, e adotou a estratégia do “quanto pior, melhor”. Acusa o Comitê Rio-2016 de ter avariado as estruturas durante a Olimpíada e se apoia no termo de cessão, cuja cláusula afirma que o estádio precisa ser devolvido nas exatas condições em que foi entregue.
O governo de Pezão faz que joga duro e, no discurso, afirma que a Odebrecht não tem a opção de não reassumir a gestão do Maracanã. Mas a construtora não volta e não há quem contrate equipes de limpeza e segurança. O governo, quebrado (o estado anunciou situação de calamidade pública em junho passado), não assume a responsabilidade.
Em meio à negligência do governo e da construtora, os cartolas do futebol carioca apareceram para “salvar” o estádio. Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), fez uma reunião na quarta-feira, dia 11, com executivos de empresas de segurança, limpeza e gramado, a fim de tentar recuperar o Maracanã em tempo de receber alguns jogos do Campeonato Estadual de 2017. Na quinta-feira, o dirigente sentou-se com representantes do governo, mas não conseguiu autorização para que os prestadores de serviços entrassem no estádio. O governo ficou de responder até a segunda-feira, dia 16. A empresa que instalou o gramado, a Greenleaf, calcula que ele precise de 40 dias para se recuperar.
A importância do Maraca extrapola o futebol. O estádio é um destino turístico e pode ajudar a movimentar a economia local. Em vez disso, os turistas que chegam à Zona Norte do Rio, alguns meses após o fim dos Jogos Olímpicos, dão de cara com portões fechados. Num país organizado, o visitante poderia fazer um visita paga e guiada por arquibancadas e vestiários, visitar o gramado, conhecer a história do lugar e passar por uma loja com produtos alusivos ao Rio, aos clubes cariocas e ao próprio estádio. É um sonho distante. Nas atuais condições, o urgente é que um gestor, preferivelmente privado, assuma o equipamento. O risco é enorme. Algumas perdas, como o busto de Mário Filho, talvez sejam para sempre. O Maracanã merece mais amor.
Fonte: Época
duvido que tenha custado R$ 1,2 bilhão deve ter custado R$ 600 a 800 milhões e o resto dividido e embolsado por esses ladrões do governo
A continha é por aí mesmo “mi zi fio” Narcox…
Muita oferenda pro bolso desses corruptos…
Eu espero que esse estádio exploda, esse é o símbolo da corrupção só assim o flamengo larga ele de mão e corre atrás de algum lugar que seja seu de verdade que não virá ordem de político algum dizendo que mês pode jogar e que mês não pode!
concordo pegar esse Maracanã e dar um tiro no próprio pé porque sem duvida alguma vai da merda