Minha primeira recordação de um jogo de futebol no estádio é de ir às cadeiras do Maracanã com setor misto na final do Estadual de 1986. Flamengo e Vasco decidiam o título, e o meu pai vascaíno levou a mim e a minha irmã, ambos rubro-negros, à decisão. Saímos festejando e ele quieto após os gols de Bebeto e Júlio César.
Essa é uma das melhores lembranças que tenho do meu pai, hoje já falecido. Sem gostar muito de futebol, com temperamento difícil e com especial antipatia pelo Flamengo, deu uma demonstração de tolerância ao nos levar ao jogo. Meu pai e seu amigo vascaíno nos carregaram nos ombros ao final do jogo.
As imagens daquela tarde voltaram à minha cabeça quando a Justiça do Rio decretou a torcida única para os clássicos no Rio de Janeiro. Não é só o prazer da arquibancada que se perde com isso. A torcida única pressupõe que somos todos inimigos incapazes de conviver com o diferente. Ao se isolar torcedores de equipes rivais, os torcedores vão se tornar cada vez mais radicais e mais afastados uns dos outros.
É só ver que medidas históricas na política para separar pessoas, como o muro proposto por Donald Trump para conter imigrantes, só tendem a aumentar a distância e a raiva entre as pessoas. Se você não convive com o outro, nunca vai entender o ponto de vista dele, sua identidade. Se há a possibilidade de aproximação, há a chance de compreensão.
A tese do promotor Rodrigo Terra aceita pelo juiz é de que essa é uma medida que vai reduzir a violência, após os atos de barbárie do último Botafogo e Flamengo. Primeiro, é preciso lembramos que neste clássico houve uma falha da polícia militar cujos soldados não foram para o estádio como estava nos planos. Foram contidos por protestos de familiares. Os certos torcedores organizados são tão violentos hoje quanto nos últimos anos: só estavam livres para agir.
E o argumento da redução da violência se torna quase nulo quando constatamos que a maioria das mortes de torcedores em conflitos de organizadas se dá longe dos estádios. Basta lembrar do torcedor do Fluminense, que não era de organizada e apenas gostava de seu time, agredido perto do Maracanã neste ano quando voltava de um jogo em Xerém. No máximo, vai se reduzir a tensão em volta dos estádios porque tem ocorrido, sim, brigas dentro e fora deles.
Uma decisão importante como essa que afeta mais de 100 anos de tradição de festas compartilhadas no Rio foi tomada sem que se ouvisse a sociedade. Um promotor e um juiz definiram a ”solução” sem um levantamento dos seus efeitos, sem consultas públicas na assembleia estadual, sem nada.
Esse tipo de medida arbitrária tornou-se uma tônica no Rio dos últimos tempos. Tivemos de pagar caro para organizar dois megaeventos (Copa do Mundo e Olimpíada) sem nenhuma consulta popular. O Maracanã, um símbolos da cidade, foi transformado pelo padrão Fifa também por decisão solitária do então governador Sergio Cabral. E, agora, nos tiram a festa como ocorrera em São Paulo.
Como sempre, o argumento é de que se trata de um mal necessário para nosso bem. Mas o que vejo é que a polícia terá seu trabalho facilitado, o promotor vai poder dizer que ”resolveu” o problema e o torcedor perde o seu direito. Será impossível se repetir uma cena como essa do meu pai me levando para o estádio para ver um jogo dos nossos times.
Em 1987, o Flamengo voltou a enfrentar o Vasco na final do Estadual. O time cruzmaltino venceu com belo gol de Tita após passe de Dinamite. Eu estava lá novamente com meu pai e sai triste do estádio, e ele com um sorriso discreto na boca para não me chatear. Fomos embora juntos eu, ele e minha irmã.
Foi uma lição: me ajudou a aprender a perder e a entender o outro, também inspirou em mim um respeito que guardo até hoje pelo Vasco, por sua história, por sua torcida, por seus times, e pelo meu pai. Se não for capaz de despertar esse tipo de sentimento em torcedores adversários, o futebol torna-se cada vez mais um instrumento para alimentar o ódio e perde boa parte do seu sentido.
Fonte: Rodrigo Mattos | UOL
Tudo que eu queria, politica barata no meu futebol.
Vim nesse bost só pra falar isso.
Eu achava que no RJ já havia torcida única. A do Chorafogo, por exemplo, não consegue nem lotar o Engenhão em jogos da Libertadores. Sem contar que tirando os jogos do Flamengo o restante é só prejuízo nos jogos do Estadual. SRN!
Citar Donald Trump, é um argumento simplista, diria até uma “modinha” entre os chamados “globalistas”, que propõem um mundo sem fronteiras, uma verdadeira utopia. Valendo lembrar que não precisamos ir muito longe, aqui mesmo no Brasil, temos um “edificante” exemplo do mundo sem fronteiras de braços abertos aos imigrantes, onde milhares de Bolivianos, maioria ilegais, vivem em São Paulo, principalmente no ramo de confecções, em péssimas condições. Quando se constata que boa parte daqueles que participaram dos atentados de 11 de Setembro, tinham uma vida de Americanos, inclusive treinaram pilotagem nas escolas Americanas, aproveitando-se dessa “falha” na segurança, que o atual governo tenta corrigir. Mas admitamos, parece tarde, pois a grande mídia globalista, parece estar nos quatro cantos do planeta vendendo a idéia do mundo sem fronteiras.
SRN
O Brasil, por exemplo, faz fronteira com os três maiores produtores de cocaína do mundo.
Bem lembrado. Servindo até de entreposto para envios desta droga, a vários países.
SRN
“Se você não convive com o outro, nunca vai entender o ponto de vista dele, sua identidade.” — Hum… depois de anos, anos, anos, anos, anos e anos de futebol, as torcidas organizadas não se entenderam até hoje. E agora (em reação contra a medida estipulada), quer promover este entendimento? Quanta ingenuidade! &;-D
Claro a melhor maneira de defender um apartheid é o sendo comum.
O Rio já dava mostras inclusive de ter criado uma força-tarefa que seria a solução para os conflitos.
Agora chega o estado e não paga a polícia assim como prega pagar mal todo funcionalismo no país inteiro e vc quer que a coisa continue funcionando?
Quem é o ingênuo?
Um conflito FORA do estádio já basta para uma enxurrada de comentários de senso comum estilo Datena, é impressionante como o brasileiro é manipulável.
Não basta a bosta da lei, ainda tem que ler confrades concordando com ela aqui nos comentários,
Sério, RIP Futebol brasileiro, enterra logo que a gente não merece.
A obrigação de dar segurança é dos clubes e da FERJ.
Quer dizer que um evento que da 1 milhão de renda não pode arcar com sua própria segurança. Tem que deslocar todo efetivo da polícia no dia.
Torcida única é uma solução. A outra é acabar com as organizadas, os clubes pararem de dar ingresso , pagar viagem, etc
KKKKKK ridículo. O que Trump tem a ver com essa palhaçada? Só pra registrar quem iniciou o muro com o México foi Bill Clinton, que praguejava, assim como Trump, contra os imigrantes ilegais.
Falou tudo o ‘muro’ existe há um tempão e nunca causou discórdia. Só agora.
Entre os comentaristas esportivos tem um bando de esquerdistas querendo instrumentalizar o esporte a favor de sua causa nefasta. É preciso ficar atento e forte. KKKKKK