Este texto não é para quem se relaciona com seu clube apenas no momento de alta, fica sabendo do resultado pela internet e só quer espalhar memes nas redes sociais e zoar o vizinho ou o colega de trabalho no dia seguinte, mas mal sabe a escalação.
É para você que consome futebol, ainda que priorize o time de coração. Que paga TV por assinatura, pay-per-view, é sócio-torcedor, interage nas redes sociais e tenta participar da vida do clube, mesmo que à distância.
No ano da graça de 2017, o melhor que o torcedor pode fazer por sua paixão é mais do que alimentar os cofres do clube.
Durante anos, décadas, você foi ensinado que o torcedor de verdade é aquele apaixonado, irracional, de amor incondicional. Que sofre, berra, pede a saida do técnico ”burro” e, se preciso, patrulha até o que o craque do seu time faz na folga. Também foi passado ao fanático um ”manual” de explicações para a boa e a má fase do seu time.
Do ”time sem vergonha” ao ”time de guerreiros”. Do ”técnico retranqueiro” ao ”paizão da família”. Do ”apagão” à ”torcida que carregou nas costas”. Do ”grupo na mão do treinador” aos ”vagabundos que quebram na noite”.
Nada lhe ensinaram sobre tática e estratégia. Ou apenas o superficial, como ”time que não tem craques só ganha na tática”, mas nunca explicaram muito bem o que seria isso. Porque sabem que é mais fácil capturar pelo emocional. Convencer que se você gritar o time vai correr e vencer. Mas se perde em casa com estádio lotado explicam que a equipe ”sentiu o peso do jogo” ou ”caiu no oba oba da torcida”.
Por isso, se você quer cobrar de dirigente, treinador ou atleta é preciso algo fundamental em qualquer área da vida: conhecimento.
Para não cair na fácil tentação, por exemplo, de exigir uma goleada do Palmeiras sobre o Jorge Wilstermann no Allianz Parque. Porque sim. Porque o Palmeiras gastou muito e é obrigado a atropelar o pobre boliviano na Libertadores.
Sem compreender que o time de Eduardo Baptista passa por uma transição de modelo de jogo e que se acostumou com Cuca a definir rapidamente a jogada. E contra uma linha de cinco bem treinada, o que não necessita de grandes craques ou um técnico de ponta da Europa, é preciso rodar a bola, trabalhar as jogadas.
Inclusive recuar para o goleiro com o intuito de abrir espaços, tirar um pouco o 5-4-1 do oponente do próprio campo. Mas te ensinaram a vaiar essa prática porque ”é anti-jogo”, ”coisa de time pequeno que não quer jogar”. Então que fique tentando a esmo, despejando bolas na área até conseguir com o gol de Mina nos acréscimos. Esmurrando a ponta da faca ”porque sofrido é mais gostoso”. Será?
Vivemos outros tempos, felizmente. Antes os bolivianos chegavam aqui ingênuos, sem informação de nada. Para perder de pouco. Agora na internet você acha todos os movimentos que uma linha de cinco atrás precisa fazer para fechar os espaços. É óbvio que o técnico Roberto Mosquera conhecia as virtudes e defeitos de Dudu, Borja, Felipe Melo, Guerra, Mina, Tchê Tchê…
Assim como Zé Ricardo sabia que o Flamengo precisava da velocidade e da boa leitura defensiva de Marcio Araújo para limitar os movimentos de Diego Buonanotte, o meia argentino que faz a Universidad Católica jogar.
Escalou três volantes de ofício, sim. Mas só o contestado camisa oito à frente da defesa, com Rômulo quase na linha de Diego e Willian Arão mais aberto pela direita. A velha confusão entre posição e função. Foi ”covarde”, ”jogou com medo”? Como, se finalizou 15 vezes contra 11 dos donos da casa.
O problema foi a eficiência nas finalizações. Paolo Guerrero, centroavante e artilheiro rubro-negro na temporada, teve seis chances. Três dentro da área. Nenhuma nas redes em um jogo parelho de Libertadores fora de casa.
Santiago ”El Tanque” Silva teve duas. Uma na bola mal recuada por Rafael Vaz que parou em Muralha. Na segunda, aproveitou um erro de marcação coletiva – Pará não podia estar com o centroavante bem mais alto – e definiu o jogo.
Berrío, tão aclamado pelo torcedor pela velocidade de ”The Flash”, entrou para deixar a equipe, em tese, mais ofensiva antes mesmo do gol sofrido. Errou tudo que tentou e ainda foi expulso por uma bobagem. Será que a culpa foi mesmo do técnico Zé Ricardo?
Para criticar é preciso conhecer, entender. O ex-jogador e colunista Tostão costuma dizer que o futebol é tão caótico e imprevisível que você pode falar a maior bobagem do mundo e ela acontecer no campo. Sem dúvida. E por isso estamos aqui refletindo sobre o esporte mais arrebatador desde sempre.
Não há dono da verdade neste jogo, mas há tendências. E a análise mais coerente dos fatos. O que é bem diferente de opinião. Não é tão simples dizer que jogou bem ou mal sem o mínimo de base. E o resultado não pode definir a questão e ser o norte da análise, que por aqui quase sempre é feita de trás para frente. Perdeu? Quem é o culpado, por que errou? Se venceu vão achar o heroi, as explicações para a boa fase. Mesmo que tenha conquistado os três pontos jogando muito mal.
Quer ver sua visão respeitada? Tente observar e entender melhor o que acontece em campo. Porque é ele que norteia todo o resto. Bastidores, gestão financeira, política. Tudo. Para reclamar é preciso saber.
Outro dia este blogueiro entrou num Uber e foi reconhecido pelo motorista. Vascaíno, logo começou a reclamar do trabalho de Cristóvão Borges. Mas chamando o treinador de ”muito retranqueiro”. Como havia escrito sobre no dia anterior, expliquei que o problema era exatamente o contrário: o time se adianta, não pressiona quem está com a bola e deixa a retaguarda totalmente exposta. Lembrei um ou dois lances do empate com o Macaé no Engenhão e ele me deu razão. Continuou protestando, mas agora por um motivo mais justo.
Torcedor, estamos na era da informação. Não deixe mais colocarem você numa redoma de ignorância voluntária reclamando e cobrando da mesma forma que seu pai e avô. Procure bons canais de informação, mas também de análise. Que mostre o que acontece realmente nas quatro linhas. Temos ótimas referências no assunto que, felizmente, são as exceções à regra.
O bom técnico se recicla, o jogador se atualiza, mesmo que na marra, por necessidade. O formador de opinião também precisa. Por que não o torcedor que quer ser parte do processo?
Sem populismo, apelação. Também sem essa relação cliente/fornecedor muito presente hoje no jornalismo esportivo: o comentarista diz o que o torcedor quer ouvir. Elogio na vitória e crítica na derrota. Sem contexto. Até para ter paz nas redes sociais cada vez mais bélicas. Exatamente por causa do desconhecimento incentivado por quem deveria esclarecer.
Fuja dessa cilada secular. Não se deixe enganar por quem acha que você não sabe pensar, só sentir. Entenda para cobrar e ajudar seu time de verdade. É bom tirar sarro do rival e explodir de alegria no estádio. Mas melhor ainda é quando se sabe o que está dizendo.
Reprodução: Uol andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/03/17/o-melhor-que-voce-torcedor-consciente-pode-fazer-pelo-seu-time-de-coracao/
Parei de ler no “precisava da boa leitura defensiva de Marcio Araujo”.
Independente da discussão tatica, o FATO é que o flamengo mudou toda a forma que estava acostumado a jogar, pra tentar anular quem ? Messi ? Não ! Bonanotte ? Paaaraaa meu querido. Se isso não for covardia eu não sei o que é.
Era pro Flamengo manter a maneira com a qual estavamos invictos no ano, partido pra dentro e vencido o jogo. Respeito o Zé mas foi mal nessa.
engraçado q o time jogou melhor ainda …. mas fazer oq ne.. fala oq quer quem ver oq quer. Oq seria covardia? atacamos muito mais do q os donos da casa. Culpe quem não empurrou a bola pra rede
Tivemos oportunidades sim. Somos muito superiores. Poderiamos ter vencido apesar do Romulo totalmente perdido.
O time no esquema habitual teria mais posse de bola e sufocaria muito mais o adversario.
A derrota concordo que foi azar. Mas entramos pra empatar. Fla tem que entrar pra vencer.
Pare pra pensar que ele colocou dois primeiros volantes pra truncar o jogo.
Perdemos numa bola parada.
Não dá pra pensar que deu certo.
Mas o time perdeu poder ofensivo nessa mudança? Ganhou na marcação e criou a mesma coisa
Discordo. O time não estava treinado o suficiente pra jogar assim. Romulo perdidinho. Arão acostumado a jogar mais atras toda vez que subiu, subiu sem qualidade. MA desarma bem e toca pro lado, como sempre.
Não achei que valeu à pena. Romulo mais atras daria conta do tal Buoanotte tranquilamente, e a presença do Berrio desde o inicio nos traria mais profundidade.
Qdo Berrio entrou o jogo melhorou muito pra gente. Problema é que entrou pilhado. Na pressão de resolver em poucos minutos. Fora de casa isso é perigoso.
Podia ter dado certo. Eu não acho que tenham sido boas escolhas.
Pode ser. O Rômulo também tem que acordar pra vida, não jogou sequer mais que o MA até agora, e o Arão tem que aprender a finalizar, só porque é volante não quer dizer que tem o direito de perder gols feitos o tempo todo, ano passado já era assim. SRN
Concordo em gênero, número e grau contigo, meu amigo. Desde o dia do jogo eu venho falando isso, eles mostram números de finalizações como argumentos e eu digo, qual dela foi uma clara chance de gol? Nenhuma! No esquema que a gente utiliza sempre o time chega com muito mais perigo. O Zé errou.
Quando falaram pra mim que o caramujo ia liberar a subida de Rômulo e arão eu quase chorei, Romulo tá mais perdido que cego em tiroteio e arão nunca finalizou bem na vida dele. Temos melhores finalizadores (apesar de nem tanto, hahaha) pra que liberar subida de dois volantes que não vão produzir ofensivamente? Melhor deixar eles já função deles é usar os pontas.
Perdeu poder ofensivo sim. Com certeza com a mesma formação dominariam os as ações do mesmo jeito.
É essa empáfia que nos faz perder de 3 x 0 no maracanã contra o america do gordinho cabañas….
Não. Ali foi cachaça mesmo. KKKKK
Essa empáfia é incorrigível. Impressionante. Quem lê alguns aqui parece que está falando do bicampeão da Libertadores e tri do mundo. Vamos acordar, minha gente! 1981 foi há 36 anos! Abraços
sempre falei q o torcedor tbm tem q se atualizar tbm. Ai fica falando merda ai de q coisa q sequer acontece em pelo menos 30 anos
Andre Rocha é disparado o melhor blog de futebol por aqui… Tanto que o Mauro Cezar Pereira o referencia muito…
Ele forçou quando falou do Flamengo. Se é pra colocar o Rômulo quase na mesma linha do Diego, por que o Rômulo e não um jogador que pudesse resolver. As chances do Guerrero foram questionável e não tão claras como a primeira do Santiago que ele perdeu.
Enfim. Sinto que a mídia quer que o torcedor comemore uma derrota.