Fernando conheceu o lado bom da vida. Como zagueiro, teve sucesso com as camisas de Vasco e Flamengo e colecionou títulos nos clubes do Rio no fim dos anos 1980. Mas houve um momento em que o defensor, conhecido por ter um estilo técnico, não conseguiu desarmar a depressão. Ela se desmarcou aos poucos, sem que ele percebesse. Quando viu, o ex-zagueiro tinha sido driblado, havia caído no chão.
Nem ele mesmo é capaz de precisar em que momento a doença o pegou. Depois que encerrou a carreira, em 1996, seguiu no futebol, como técnico e depois gestor. A ficha caiu quando largou tudo, fechou-se para o mundo.
– Geri futebol até 2011. Depois disso, certamente foi um conjunto de fatores que nem mesmo a medicina explica. Foi muito difícil, fiquei três anos sem sair de casa, tive síndrome do pânico e outros sentimentos ruins – revela.
O medo não era um sentimento comum na época de jogador. Foi titular do time do Vasco bicampeão estadual em 1987 e 1988, ao lado de craques como Roberto Dinamite, Romário, Geovane e Tita. Deixou o clube para atuar em Portugal e, na volta ao Brasil, desembarcou no Flamengo, arquirrival do ex-clube. Com a camisa rubro-negra, marcou seu gol mais importante, o do título da Copa do Brasil de 1990.
– Foi uma passagem curta de um ano e meio, mas foi intensa, apaixonante, vitoriosa, como deve ser para quem veste o manto sagrado. Tive o prazer de fazer aquele gol, da primeira partida contra o Goiás (a segunda terminou 0 a 0) – afirmou.
Enclausurado, Fernando não lembrava em nada aquele zagueiro. Foi então que decidiu se tratar. Com os medicamentos, melhorou, voltou a sair aos poucos. Após cinco anos sem trabalhar, passou a ser motorista de Uber. A atividade é uma fonte de renda, mas também ajuda a se ressocializar. No futuro, quem sabe, Fernando volte a trabalhar com o futebol.
– Ele (o futebol) é o meu universo, mas no momento tento estar bem comigo mesmo. Não posso fechar as portas para aquilo que mais amo que é o futebol – afirmou.
Na torcida pelo ex-companheiro de time Milton Mendes
Nas lembranças, Fernando revê Milton Mendes, aquele lateral-direito com quem atuou no Vasco e em Portugal no fim dos anos 1980. Do passado para o presente, não nega que o Flamengo vive momento melhor do que o Vasco, hoje treinado por seu ex-companheiro. Questionado, Fernando não fica no muro, mas também não torce para nenhum lado.
– Milton viveu os momentos de glória de 1986 a 1989 e o Vasco era um senhor time. Ele sabe muito bem os caminhos que tem que ser percorridos para se alcançar o sucesso. Tenho acompanhado os altos e baixos do Vasco e deixo aqui minha opinião: temos que achar nossa identidade – critica Fernando.
A observação vale para o comando do clube e atletas.
– Quem estiver em campo representando essa camisa tem que ter um orgulho sem dimensão, pensar e agir como gigante, é assim que tem que se sentir o atleta do Vasco. Sem identidade, ninguém respeita! – lembra.
Embora aparente um vigor maior ao analisar o Vasco, o ex-zagueiro resume:
– Não tenho porque torcer para um ou outro, os sentimentos são iguais.O que não impede de eu dar minha opinião do melhor momento vivido pelo Flamengo.
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Lembro de não gostar de seu futebol, apesar de saber que existia quem gostasse no Fla.
Torcendo pela plena recuperação do Fernando!