A partir de 2016, o Flamengo contabiliza mais de 90% de seu elenco à disposição durante toda a temporada, número que supera o valor mínimo estabelecido pela Uefa, de 80%. A escassez de lesões e o rodízio de jogadores nas partidas também em 2017 comprovam o sucesso da metodologia aplicada pelo Centro de Excelência em Performance do clube aplica há um ano.
Com uma série de informações e relatórios em mãos, o técnico Zé Ricardo organiza treinamentos e define com quem pode contar nas partidas. No domingo, não terá Rômulo, que segue para o CEP para fazer reforço, e volta Márcio Araújo. Nesse contexto, a comissão determina a brecha para o aproveitamento de jovens e maior rotatividade do elenco, com o objetivo de tornar homogênea a condição física e técnica dos atletas em meio a um calendário de jogos apertado e de viagens pelo país.
— O que dá mais segurança para o treinador fazer o rodízio é saber que todas as áreas falam a mesma língua. Não adianta só tecnologia. Não adianta ter uma Ferrari se você só dirige um Fusca
— afirmou Márcio Tannure, coordenador médico do CEP Fla. Depois de viajar por centros de treinamentos na Inglaterra, o profissional voltou com o orgulho na bagagem.
— Observei essa pesquisa da UEFA para avaliar o nosso resultado. Houve queda drástica do número de lesões já no ano passado. E desde o início do ano mantivemos o índice. Comparado a outros times de referência, o Flamengo ficou bem ranqueado mesmo com muito mais jogos — vibra.
O trabalho que levou a esse resultado partiu da qualificação dos profissionais do clube para a utilização de tecnologias que somadas representam um investimento alto. Após um ano de experiência com total integração entre os setores da comissão técnica, o Flamengo quer transformar as anotações e observações em um verdadeiro caderno metodológico para ser, quem sabe, exportado.
— Queremos criar um caderno metodológico, com estudo próprio, isso passa por um processo de educação continuada, com novas praticas para as pessoas entenderem e saberem onde querem chegar. Isso foi feito com profissionais da base e profissional — conta Tannure.
Tecnologia e rotina
A implementação de equipamentos de GPS, variabilidade de frequência, mas principalmente exercícios para objetivos como equilíbrio muscular e o método funcional, reeducaram os atletas. Diariamente, no quadro de avisos e por email, as tarefas individualizadas são detalhadas. A cada treino, Zé Ricardo sabe o que fazer com o grupo que joga constantemente, com o que espera para entrar e com o que não é relacionado.
Nesse contexto, cada atleta entregue ao departamento físico e médico só é devolvido ao treinador quando está 100%. Dentre os exemplos recentes, Diego é o principal. Chegou da Europa e teve a estreia adiada para ser totalmente preparado. Quando entrou, não saiu mais, e sequer sentiu adaptação. O método vale para Ederson e Conca, os únicos hoje ainda em transição para o campo.
Para os atletas que tem jogado, o método é diferente. Quem acusa um desconforto ou tem algum sinal detectado em exame, é entregue ao departamento médico para corrigir os problemas antes da lesão aparecer. Casos recentes de Berrío, Gabriel e Rômulo. Tão logo curam a fadiga, voltam sem maiores problemas.
— As informações fazem a gente chegar a diagnóstico e fornecer o máximo para o treinador. Isso vai ajudar a tomada de decisão — diz Tannure, cobrando avanço de todos os clubes nessa direção.
— A gente no Brasil parou no tempo. Em metodologia e treinamento. O futebol mudou. Os números mostram intensidade. Tem que mudar o treinamento. Com a evolução nos últimos dez anos, não pode fazer a mesma coisa. É burrice.
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