Ainda antes vitória por 3 a 0 sobre o time colombiano – na noite desta quinta-feira, em Rancagua, o Brasil sub-17 entrou classificado para o Mundial de outubro na Índia. A melhor campanha da competição sul-americana impressiona – são oito jogos, seis vitórias, dois empates, com 19 gols marcados (média de 2,3 por partida) e apenas três sofridos. Vinicius Junior é o maior destaque do time e artilheiro do Sul-Americano com sete gols em sete partidas. Mas a geração vai muito além do promissor jogador do Flamengo, cobiçado por grandes clubes europeus e observado por olheiros no Chile.
O baiano Carlos Amadeu pode dizer que vive em dois mundos neste momento. O técnico da seleção sub-17 não se cansa de elogiar seus atletas, de ressaltar a força do grupo, a evolução partida a partida e aponta para outros destaques, que não fique apenas no óbvio holofote em cima de Vinicius Junior. As atuações de Alan, camisa 10, também empolgam. O jogador do Palmeiras colocou Vinicius na cara do gol duas vezes e ainda bateu o escanteio para Alerrandro finalizar o placar no estádio El Teniente. Mas por outro lado Amadeu se preocupa também em frear a empolgação em cima desses meninos.
– O Vinicius, assim como todos outros atletas que temos aqui, é promissor. São apenas promissores. Nenhum deles é realidade. Não atuaram na equipe profissional dos seus clubes ainda. Não são Neymar, Gabriel Jesus… Calma! Temos que ter muita tranquilidade nessa hora – disse Amadeu, em entrevista ao GloboEsporte.com, após a vitória sobre a Colômbia.
Grupo formado desde o sub-15
O discurso Amadeu ecoa na palavra dos próprios garotos. Vinicius, Paulinho, Alan, Lincoln… todos garotos, quando questionados sobre a ascensão para os times profissionais de seus clubes, repetem: “não estou pensando nisso agora. Na hora certa vai acontecer”. Mas nem mesmo o técnico da seleção consegue disfarçar a expectativa em ver essa geração chegar longe. Há dois anos sete dos atuais 11 titulares do time que joga o Sul-Americano no Chile foram campeões invictos do continente no sub-15. Deste grupo campeão há dois anos, 12 subiram de categoria e permanecem na seleção sub-17.
Amadeu está na seleção sub-17 há dois anos. Ao lado, hoje, tem o auxiliar Guilherme Dalla Déa, técnico da maioria desses meninos no sub-15 há dois anos. Eles lembram que o maior desafio é justamente criar condições, gerar evolução, para que essa garotada continue subindo de categoria. E aposta alto: a base do grupo pode repetir a do tetracampeonato de 1994.
– A última geração que chegou em grande quantidade no profissional foi a de Dunga, Jorginho, Bebeto, Giovani, Gilmar, Taffarel… Série de jogadores de muita qualidade que subiram juntos. A gente espera que essa geração represente esse retorno e esse resgate de futebol brasileiro, com pitada de futebol atual. Com a dinâmica de jogo, a compactação, a intensidade de jogo, nível de concentração mais elavado possível – lembrou Amadeu.
Um novo camisa 10
Alan – chamado também de Alanzinho – tem apenas 1,62m e 59 kg. A dobradinha que o atleta faz com Vinicius Junior torna missão quase impossível dos adversários pará-los neste Sul-Americano. Na partida contra a Colômbia, além dos dois passes para gols, o garoto do Palmeiras deixou Vinicius na frente do goleiro colombiano outras vezes.
– Jogamos juntos desde o sub-15, fomos campeões sul-americanos sub-15 e a gente é bem entrosado de tanto tempo que joga junto, dos treinamentos – comentou o garoto do Palmeiras.
Amadeu lembra que o papel de Alan no Sul-Americano enfraquece o discurso de quem acha que o futebol brasileiro não revela mais jogadores de criação como antigamente. O treinador vê resultado na filosofia dos treinadores contratados ainda sob coordenação de Erasmo Damiani, ex-coordenador da base, demitido após o quinto lugar no Sul-Americano sub-20.
– Quando chegamos na CBF, toda equipe, liderada na época pelo Damiani, projetava a ascensão desses jovens. Ao invés de convocar muitos jogadores maturados, de muita força, mas que de desempenho duvidoso mais à frente, preferimos jogadores que talvez não tenham níveis de força para competir num Sul-Americano, num Mundial, mas mais talentosos. O grande desafio é levar o maior número de jogadores possíveis da sub-17 para a sub-20, da sub-20 para a olímpica e depois para o profissional – comentou Amadeu.
Sim, de fato não são. Devem ser apenas eles mesmos e nada mais. Chega dessas versões de “Novo Zico”, “Novo Garrincha”, pois já encheu.