O futebol vive através dos grandes confrontos – dentre os quais, os clássicos. No ápice da passionalidade, tudo ganha mais cor, mais alegria e mais emoção, ao menos até o apito final, quando somente um lado permanece aceso. Desde o sorteio até as arquibancadas as torcidas fazem festa e se provocam, passando por redes sociais, encontros cotidianos pelas ruas e provocações. A diferença do clássico para o torcedor é que ele não se reconhece somente como alguém que apoia um dos lados para a vitória; ele se sente como parte do seu clube, que irá ganhar ou perder junto. Ele irá compartilhar da alegria da vitória ou da tristeza da derrota. Por isso, ele realmente joga junto.
Com todo esse repertório, perder é ruim demais. As expectativas e as previsões são jogadas no lixo e automaticamente nos tornamos alvos dos rivais, sem piedade. E disso todos sabem, todos já se decepcionaram com uma derrota para um rival. Entretanto, existe algo pior do que perder um clássico: ser derrotado com um time moroso e descompromissado em campo. Gastamos dinheiro, tempo, nos estressamos, nos colocamos à mercê de zombarias rivais e nos preparamos para uma partida de futebol. O mínimo que esperamos é comprometimento. Quando este não vem, logo nos arremete à cabeça aquele pensamento “se eu estivesse ali, faria melhor”. E poderia fazê-lo, mesmo. Imaginem um time de torcedores contra o Botafogo, contra o Fluminense, contra o Vasco?
Mas nem sempre existe essa distinção. E quando os jogadores são torcedores? E quando sentem a emoção que você sente? Hoje também temos esse privilégio. Não conheço os sentimentos pessoais de cada jogador, mas somos agraciados, mais destacadamente por três deles: Pará, Paquetá e Juan. Claro que temos outros rubro-negros no elenco, mas esses três me chamam especial atenção.
O primeiro é reconhecidamente notado por sua entrega e disposição. Não é dono de nenhuma técnica apurada, porém conseguiu passar de criticado à apoiado em pouco tempo, através de seu comprometimento. O repórter Eric Faria, inclusive, chegou a comentar a passionalidade de Pará, ao dizer que o lateral era frequentemente visto indignado e até chorando, às vezes, com derrotas do Flamengo.
Já Paquetá, bem mais recente, teve seu fanatismo conhecido através das redes sociais. Tão logo começou a ganhar fama entre a Nação, surgiram tweets, vídeos e fotos do então adolescente apaixonado pelo Flamengo. Um de seus posts mais famosos e compartilhados é o que chamava Gabriel de “câncer”, caindo nas graças da torcida. Mais recentemente, foi divulgado um vídeo do meia cantando uma versão do “bonde do Mengão sem freio”, no qual já se incluía como o jogador Paquetá, no auge de seus 14 anos.
Juan também merece especial atenção, à sua maneira. Recatado e concentrado, o zagueiro consegue passar profissionalismo aliado ao sangue rubro-negro. Quando atuava pelo Internacional, chegou a marcar um gol contra nós e sair de braços abertos para a torcida, batendo no peito e mostrando o escudo, em sinal de respeito e indicando que não iria comemorar. Aqui, já foi flagrado cantando o hino do Flamengo e sempre ressalta a qualidade dos jogadores rubro-negros formados na Gávea.
Não perder a essência rubro-negra dentro do plantel é um papel que a diretoria deve procurar cumprir, pois já é semi-ídolo quem pisa em nossos gramados com a alma rubro-negra. Tenho a certeza de que Zico, Adriano, Júnior, Ronaldo Angelim e tantos outros não teriam sido os ídolos que foram se não tivessem essa marca comum em sua história. Eles se motivam, motivam aos demais companheiros e também à torcida, simplesmente porque também são o Flamengo. Encerro com uma frase de meu ídolo pessoal, Ronaldo Angelim, que deveria servir à todos os jogadores que passam por este clube: “Minha única vaidade é ver o Flamengo vencer (…). Poderia me colocar lá na arquibancada que estaria torcendo do mesmo jeito, tranquilo, porque a única vaidade é querer o melhor para o Flamengo”.
Rodrigo Coli
Twitter: @_rodrigocoli
Muito fod4 o texto! Parabéns!
#rumoaotetra
Todos os times campeões do Flamengo mesclaram a prata da casa com jogadores vindo de fora. A prata da casa é fundamental, pois traz a essência rubro negra e possui uma identidade latente com a torcida, além de perpetuar a cultura de ‘fazermos craques em casa’.
E o Rueda em 10 dias já percebeu mais da nossa identidade do que o Ruela em mais de 1 ano.
Parabéns, excelente texto…
Essas observações fora das quatro linhas e que torna o futebol apaixonante