MCP: “De mascotinhos ao caldeirão, uma aula sobre como usar o mando de campo para esmagar o adversário”

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Flamengo e Cruzeiro fizeram ações de marketing envolvendo as suas mascotes antes do jogo que abriu a decisão da Copa do Brasil. O Urubu recebeu a Raposa e a Raposinha no aeroporto, os levou ao Cristo Redentor, à praia, passearam juntos, lindo! O intuito, aparentemente, era mandar uma mensagem pacífica. Nobre. Pouco útil também. Sem ingressos para a final, os de sempre tentaram invadir o Maracanã, que viveu uma noite de violência, com bombas, correrias, brigas entre organizadas rubro-negras e tiros.

A mensagem enviada por intermédio das mascotes não surtiu o efeito desejado porque os dispostos a tumultuar não se comovem com nada, muito menos com ações de marketing, ainda mais tão pueris. Fica apenas aquela coisinha bonitinha, infantil, mas comprovadamente inútil, por melhor que tenha sido a boa intenção dos departamentos de marketing de Flamengo e Cruzeiro. O caso do time rubro-negro, por estar em casa, esse tipo de cortesia esfria o clima de rivalidade fundamental numa partida decisiva.

Não, evidentemente não estamos defendendo agressividade contra o adversário, ameaças físicas, nada disso. A defesa aqui é pela atmosfera que faz o visitante temer o mandante, a ponto de entrar em campo e se assustar, de os jogadores se perguntarem “como vamos fazer para jogar aqui?”. Isso não se faz na porrada, mas na maior festa possível da torcida (algo que a CBF praticamente impede), no barulho extremo, na tensão proporcionada ao visitante que pode fazer alguns tremerem. Assim é o futebol. Isso é mando de campo.

Aos rubro-negros mais antigos, basta puxar pela memória, para os mais novos, temos o YouTube e o vídeo abaixo. No jogo de maior público na história do Campeonato Brasileiro, com 155.523 pagantes, o Flamengo precisava virar o jogo que estava 2 a 1 para o Santos, placar da vitória obtida no Morumbi com 114.481 pagando ingressos. Note no vídeo abaixo o que aconteceu depois do espetacular recebimento do time da casa, com foguetório e festa histórica na entrada em campo. Preste atenção em cada detalhe até o 1 a 0.

Antes de a bola rolar, os jogadores estão concentrados. Zico, o capitão, sinaliza aos seus companheiros o tempo todo, como quem pede atenção, garra, luta. Veja o vídeo de novo, note como os jogadores de preto e vermelho disputam a bola com imensa disposição, observe como Élder, camisa 7, recupera a posse para dar início ao que seria a jogada do primeiro gol. Veja como, depois de empurrar a pelota para as redes, o camisa 10 da Gávea gesticula para os companheiros. Era preciso mais um gol. Terminou 3 a 0. Flamengo campeão.

O experiente time do Santos ficou atordoado. A atmosfera daquele Maracanã era assim nos grandes jogos e os que visitavam o Flamengo temiam ir até lá. Sabiam que o time carioca não era imbatível, mas às vezes parecia ser quando estava no seu ambiente. Isso mesmo, no seu ambiente, não no do rival. Como fizera o Santos num Morumbi lotado e com enorme pressão. Mando de campo pra valer, uso da própria casa e sua torcida para assustar o adversário, recursos lícitos, do futebol, que fazem muita diferença.

Sei que muitos discordarão, mas acredito que ações de marketing como aquela esfriam essa atmosfera. O Cruzeiro não é inimigo do Flamengo, mas se os dois estão decidindo um título, naqueles dias eles serão grandes rivais, ou deveriam ser. Talvez o sejam na peleja de volta, em Belo Horizonte, vai depender do ambiente que o time Celeste criará no Mineirão, onde conquistou títulos arrancados no apoio de sua gente, como a própria Copa do Brasil em 2000. Virada espetacular sobre o São Paulo com gol no lance derradeiro.

Assista novamente. Note como Fábio Júnior vai buscar a bola no fundo das redes ao empatar a partida apenas 11 minutos antes do apito final. Veja como Geovanni arranca para tomar a frente, ficar com a bola e sofrer a falta que lhe daria a chance de desempatar a finalíssima, como era necessário para o Cruzeiro ficar com o troféu. Desculpe se você não acredita nisso, mas tenho absoluta convicção de que essa atmosfera e o desejo incontrolável de derrotar o rival, encarando-o como tal, é o que movem um jogador numa jogada como essa.

Na noite de quinta-feira, o River Plate deu uma aula do que é mando de campo. A entrada das equipes na cancha com um Monumental de Nuñez entupido e prestes a explodir, fez os jogadores do Jorge Wilstermann tremerem. Sim, estavam apavorados, apesar da gigantesca vantagem construída na Bolívia, onde alcançaram estupendos 3 a 0. Em 19 minutos já estava 3 a 0 para os argentinos, tudo igual. Aos 36 o quarto gol, o da virada no placar agregado. Terminou 8 a 0. Épico. Os Millonarios esmagaram literalmente o adversário.

https://www.youtube.com/watch?v=95pMLnl_xP0

Veja o vídeo mais uma vez, preste atenção ao momento dos cumprimentos entre os jogadores e note como os atletas do clube de Cochabamba parecem assustados. Imagine o que se passava por suas mentes naquele momento, mesmo com a vantagem de três gols. O clima, a atmosfera absurda criada pelos hinchas do River foram um combustível sem igual para uma equipe voraz, determinada, intensa, disposta a arrancar a classificação e deixar tudo no gramado. “Huevos” dizem os portenhos. Não posso imaginar tamanha atuação sem essa gente a empurrar.

Os modismos e as cópias cretinas do que se faz na Europa esfriam nosso ambiente de estádio, assim como os próprios, agora chamados “arenas”, mais frios por eles mesmos. A entrada em campo dos times ao mesmo tempo, as limitações na festa, que também atingem a Argentina, embora menos do que no Brasil; as restrições e, com todo respeito, os frios, gélidos mosaicos, bonitos e “silenciosos”, não ajudam. Já ações de marketing de bichinhos amiguinhos não fazem o cidadão violento deixar de sê-lo e cria uma atmosfera boa para o visitante.

A final da Copa do Brasil em clima de respeito entre torcedores e dirigentes é bacana, elogiável, necessária, parabéns! Mas isso não pode passar do ponto, a rivalidade alimenta o futebol e é capaz de fazer um time ir além do que iria normalmente quando ela transborda das arquibancadas para o campo. Resta saber como as Raposas receberão o Urubu em Belo Horizonte. Só espero que o perdedor não chegue a comemorar com o campeão.

Fonte: Mauro Cezar Pereira/ESPN

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  • Acho que a grande diferença da final de 1983 e a da Copa do Brasil deste ano foi a ausência do Zico, Leandro, Adílio, Junior etc. e não a pressão de torcida. Ou será que o Flamengo não perdia jogo com o Maraca lotado antigamente?
    Ou será que se na final de 1983, o Raul resolvesse imitar o Thiago e espalmasse uma bola nos pés do Serginho Chulapa, a torcida iria fazer o Chulapa chutar pra fora de medo?
    Aliás, no final da partida da final de 1983, os jogadores do Santos meteram muita porrada nos jornalistas dentro do campo, demonstrando que eles não estavam nem um pouco amedrontados não.
    E os bolivianos perderam pros argentinos porque são ruins. Simples. Ou será que o River é campeão todo ano?
    Papo furado de jornalista

  • Maurao sabe das coisas! Assino embaixo em tudo! Só quem viveu o ambiente dos estádios Brasileiros nos anos 90 e começo dos anos 2000 sabe do que estou falando. Aquilo era torcida, mudava o jogo, clima de estádio! Hj podemos ter até mais conforto, mas nem se compara esse New maracanã asséptico, com essa torcidinha de ST fria fazendo mosaicos. Quem acha antiquado eu tenho pena, não sabe o que é sentir que pode fazer a diferença. Dá pra ser raiz e trazer o velho Flamengo de volta sem ser desorganizado administrativamente. Uma coisa não significa a exclusão da outra. Tenho pena dessa nova geração que não sabe o que é Flamengo. E falo com propriedades pq frequento os estádios e principalmente o Maracanã a cerca de 35 anos. Tenho pena de vcs nutellinhas.

  • O pequinês sempre late desesperadamente para tentar passar medo ao seu “adversário”…
    Já o pitbull e outros cachorros grandes, não precisam latir!!! Qual vc sente mais medo, caso pule no quintal errado??
    Mengão e cachorro grande! Só esqueceu disso nas últimas décadas!

  • Papinho furado e antiquado!!! Hj se ganha na qualidade técnica, e na maturidade emocional!
    Não existe isso de inimigos, por isso que os esportes sul-americanos são atrasados e deixam de ser rentáveis, com esse clima hostil que só incentiva a violência e distância o cidadão de bem os “normais” que só queriam consumir o esporte como um entretenimento e não uma situação agressiva que não contribui nada para a educação dos filhos!

    • O negócio é ser torcida de teatro então?

    • Lá tem a questão econômica!tá esquecendo disso

  • Vc olha a cara da raposa e olha a cara do nosso mascote (cara de bonzinho) pô vai se phuder põe um mascote com a cara de mau,um mascote com cunhao ,nas não aquele com cara de bobão….que foi naquela ação de marketing

  • Quem tiver a oportunidade de ver a final do brasileiro de 83 entre Flamengo e sardinha observem o comportamento da torcida e o ambiente externo do jogo, muitos palavrões direcionados ao adversário, o hino do clube sendo entoando, uma versão mais light do: ♫Ó meu Mengão♪, e a charanga tocando; vale destacar também a zona que era ao redor do campo sem placas de publicidade e com centenas de jornalistas invadindo, assim como torcedores que chegam até a dar entrevistas. O maracanã antigo era muito melhor, mas devo confessar que também somos muito traídos pela a nossa memória afetiva.

    SRN #ÓmeuMengão

  • Dá uma tristeza no coração ver o que fizeram com o Flamengo e o futebol brasileiro.

    A torcida do Flamengo hoje, sou obrigado a dizer, é uma das mais sem graça do Brasil, perde até para a do Botafogo no quesito visual, isso que o River fez.

    Quando tem papel picado é o máximo, porque aquelas faixas verticais descendo pela arquibancada, pisca pisca, bandeiras, bandeirões, arremesso de bobinas… Nunca mais se viu. Nossos cantos são plagiados dos outros e ainda por cima com letras bonitinhas e puras sem palavrões pra não magoar a família brasileira.

    Uma das torcidas mais frias que existem, e digo isso porque fiquei incrédulo ao ver como a nossa torcida silenciou com o empate do Cruzeiro.

    Esse é um Flamengo irreconhecível.

    • Você estava no maraca na final?

  • Estava no primeiro jogo da final…e realmente o que senti foi isso sobre o mosaico…o estádio calado…não tinha esse clima de final, os jogadores, entram lêem aquilo e pronto, concordo que se eles entram e sentem a torcida polvorosa gritando, eles estariam pilhados…tanto não estavam que quem tomou as iniciativas no começo do jogo foi o cruzeiro.

  • Coitados, sobrou pra eles, os mascotes. A julgar a presença de mascotes, não teríamos NBA, muito menos FNL com jogos tão emocionantes e aguerridos; e lá estão eles, já consagrados como parte de toda a atmosfera que envolve os jogos, que, “apesar dos mascotes”, são eletrizantes e bem disputados. Quem tem que vibrar é sim a torcida, mas a torcida também precisa de jogadores como os citados no texto, que tinham orgulho, gana e prazer em jogar no time de maior torcida do país.
    SNR

  • Nessa questão de criticar a sensacional campanha de marketing do Flamengo e do Cruzeiro eu sou totalmente o oposto do Mauro César, saber vender o seu produto não é esfriar o clima do jogo.
    Não se usa mais sinalizadores no estádio, não se usa mais bandeiras, não se pode mais usar papel picado, não pode mais absolutamente nada e isso é que deveria ser criticado.
    Parabéns as torcidas argentinas que consegue ainda protagonizar muitas coisas bacanas nas arquibancadas, porém, porque o Mauro não citou que o Santos fez uma recepção f*** e não adiantou absolutamente nada até fogos foram soltar no hotel do adversário e receberam um time apático que conseguiu ser pior em casa do que o visitante adiantou de quê? isso não serve como argumento Porque eu Mauro não quer.

    • Este site virou um apêndice deste Mauro, aliás, eita “jornalista” de mi…

      • Mauro é um baita jornalista, esta crítica é que eu discordo, normal, não podemos pensar com a cabeça dos outros.
        Mauro gosta de coisas ligadas a parte emocional, mesmo que isso gere prejuízo financeiro, ou que a instituição perca uma parte do lucro, já eu penso o contrário, futebol e dinheiro tem que caminhar juntos.

  • Quero ver até onde vai essa corneta. Há tempos que reclamavam que o time não pagava em dia. Já não mais. Depois reclamavam que não tinha estrutura e veio o Ninho em 2015 pra calar a boca de geral no País, com estrutura top brasileira. Mas aí, o problema era que time que foca só em pagar dívidas não briga nas cabeças. E o Fla não sai da luta pela Libertadores desde o início do campeonato (nos últimos 10 anos, quantas vezes isso aconteceu?!) e agora pode se dar ao luxo de conquistar uma “tríplice coroa” (Ferjão + Sula + CB) e qual é a próxima reclamação? Ingressos caros? E quando o clube coloca 50 mil ingressos à venda, o que acontece com os outros 28 mil que faltam pra lotar o Maraca? Onde foram parar? No bolso do clube? Acho que não né…

    Tem que erguer o estádio em Manguinhos e fazer as regras do próprio clube – sejam de gratuidades, sejam de cota pra visitantes. Aí eu duvido virem aqui reclamar que o ingresso mais barato pra partida seja R$ 200,00.

    Acho que os comentaristas criticam o Fla por esporte ou por saberem que crise na gávea dá mais audiência que a conquista de qualquer campeonato por qualquer clube.

    Vai dormir, Mauro César! Olha onde estávamos 5 anos atrás e onde estamos hoje!

    SRN

    • Perfeito.
      E completo: Mauro se aposenta.

    • Apesar de concordar com a maior parte do que escreveu, Paulo, devo fazer o advogado do diabo:

      Atlético mineiro e Vasco ontem estavam na zona lutando lá embaixo. Hoje, estar na zona de Libertadores ou disputar uma vaga é quase que a totalidade das equipes. G6, G7, G8, G15..

      • Quantas vezes o Fla esteve fora do G6 desde o inicio do campeonato

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