Arthur Muhlenberg: “A montanha mágica”

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 Até que foi legal o Flamengo e Madureira. Um 4 x 0 molinho, ninguém machucado e nem precisou sujar uniforme de jogo, usaram a impopular terceira camisa. É meio sem sentido dois times que tem camisas tão bonitas jogando com uniforme 3. O Madureira de azul pra homenagear a Portela, que na real fica em Oswaldo Cruz, mas tudo bem. E o Flamengo, descaracterizado, homenageando. . . sei lá. Visualmente ficou esquisito, os dois times em campo pareciam disputar um Villa Real x Eibar no Estádio de La Cerámica.

Esquisito também foi o comparecimento da usualmente multitudinária massa rubro-negra. O ingresso popular a 20 royal, tão pedido pelos fiscais do Sarney e correligionários de Cidinha Campos, não atraiu exatamente uma multidão. Confirmando nas bilheterias que jogo de futebol, no Rio de Janeiro, às 19:30 é programa de corno, ao geralmente ainda mais deserto Vazião de Engenho de Dentro compareceram apenas 4.672 pessoas, muitas destas obrigadas por razões trabalhistas. Um público ridículo, comprometedor, típico de um campeonato que está forçando a barra pra parecer saudável mas que agoniza. E seria um público até desprezível se não representasse 00,21404195 % da torcida do Flamengo, merecendo assim, automaticamente, todo nosso respeito. Respeito que faltou totalmente por parte de quem teve a ideia brilhante de não vender ingresso na hora do jogo. Jenial.

Mas fora isso a galera sabe das coisas e tem a precificação no sangue e na alma. Sacaram logo que 20 reais pra ver jogo-treino tava puxado. A Mão Invisível do Caboclo Pai Adam Smith de Angola não falha. Ao menos os heróis anônimos da resistência rubro-negra que botaram a cara foram recompensados com um jogo tranquilão, com zero sufoco e 4 gols que merecem ter sido gravados com o telefone na horizontal. Obrigado a todos vocês por terem ido.

Mas de uma certa maneira todos nós que preferimos não ir ao jogo também estávamos ajudando o Flamengo, deixando o estádio o mais vazio possível e contribuindo para reproduzir em laboratório as condições em que o time enfrentará o grande desafio do ano contra o Ríver Plate de portões fechados na semana que vem. Aliás, os tempos andam sombrios no Rio de Janeiro sob intervenção. Os poderes repressivos cortaram a onda das torcidas que pretendiam se reunir pacificamente de fuzil e oitão na porta do estádio no dia do jogo pra mandar aquela energia positiva e manter a média de consumo de gás de pimenta pela briosa PM inalterada.

Mas deu tudo errado, até o clube ficou oficialmente contra. Faltou aos organizadores desse flash-mob cívico uma visão de marketing mais acurada. Se tivessem divulgado o evento como um Encontro de Oração e Louvor pra Tirar o Capeta do Corpo do Flamengo na Fogueira da Liberta teriam todo o apoio de boa parte da Imprensa e, quem sabe, até o patrocínio da Prefeitura. Pensando bem, melhor não. Deixa quieto.

Melhor não fazer muito barulho mesmo porque estamos em liberdade assistida pela Conmebol e porque pro rubro-negro atualmente não existe nada mais importante que o jogo com o River. Tudo gira em torno dessa partida e esperamos que no clube a pegada seja idêntica. O Fla-Flor de sábado não tem qualquer importância e o bom senso recomenda que nenhum dos escalados para o jogo da Liberta coloquem suas canelas em risco na Arena Pantanal. Aliás, uma alô pros candidatos, enquanto durarmos na Libertadores o total desprezo pelo nosso rural deve ser uma política de estado no Flamengo, e não de governo. Já nos fudemos ano passado por excesso de zelo com o carioqueta e é inadmissível que isso volte a acontecer em 2018, 2019, 2020, etc.

O time que jogou ontem tá ótimo pra estrear na Liberta. Poderia estar perfeito se o Carpegiani desse uma folga de uma semana pro Renê visitar a família, recuasse o Everton Bolt pra lateral esquerda e botasse o Vinicius Jr desde o começo. Porque é óbvio que essa, considerando a ausência temporária de Cuellar, é a melhor formação que o Flamengo tem no estoque. Dizem que o Everton não tá a fim de fazer a lateral, o que além de ser uma insubordinação inexplicável para um funcionário com o salário em dia, é também muito vacilo. Tem ninguém do RH pra orientar o jovem? Porque mais cedo ou mais tarde Vinicius Jr vai ser titular na bagaça e alguém vai rodar.

E o mais ameaçado de pegar um banquinho é o Everton mesmo. Seu xará Ribeiro e Diego ganham muito pra serem reservas e Paquetá, bem, Paquetá é o atual craque do time, manda soltar e manda prender, não pode sair de jeito nenhum. Como diz o Diogo Almeida, do portal Mundo Rubro Negro, se o nome dele fosse Lucas Guarujá já estaria rolando uma gritaria no país inteiro para que fosse testado na Seleção.

Em resumo foi isso, Mengão se impôs, Madureira chorou e fim de papo de Carioca. Dane-se a Taça Rio, deixa os dimenó cuidando disso e só chamem o time titular de volta na hora da semi do campeonato. E só se precisar mesmo chamar. Nego tem que entender que agora, oficialmente, acabou a brincadeira, finalmente estamos sob as leis restritivas da Libertadores. Que  o Flamengo deve encarar como se fosse aquele sanatório no alto da montanha em Davos no romance do Thomas Mann. Se viemos até aqui não foi pra passear e curtir a paisagem. Foi pra nos curar de uma moléstia grave e pra isso devemos seguir obsessivamente as recomendações médicas.

Se não for uma ideia fixa macabra, monotemática e doentia de todos, jogadores e torcida, em ganhar outra vez essa porra, não vai ter jeito de tirar do nosso corpo esse bacilo continental que nos consome as vísceras há 37 anos. Vamos fazer tudo certinho. Sem rebeldias infantis ou folgazãs. Vamo subir juntos essa montanha mágica, Flamengo! Rumo à cura. Só o cume interessa!

Mengão Sempre

Reprodução: Arthur Muhlenberg

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  • Bom texto. e penso da mesma forma.

  • “Se não for uma ideia fixa macabra, monotemática e doentia de todos, jogadores e torcida, em ganhar outra vez essa porra, não vai ter jeito de tirar do nosso corpo esse bacilo continental que nos consome as vísceras há 37 anos” Tem que colocar isso na cabeça dos jogadores e de mutos torcedores, pra eles, taça Guanabara é título e ainda serve pra alguma coisa, não cabe mais essa mentalidade.

  • Site ficou dias sem poder fazer comentários? Ou foi meu celular?

    • Acho que era o site mesmo. Também não pude fazer do meu PC.

    • Parece que o problema era no site mesmo,tava acontecendo isso com todo mundo.

  • 4.672 testemunhas e tem gente querendo estádio pra 60 mil. Não dá , ja tá provado que a torcida do Flamengo só vai na boa.

    • Falou tudo! Já cansei de pedir aqui pra essa diretoria esquecer esse terreno perto do chiqueiro do Vasco e construir um estádio de pequeno porte para 35 mil pessoas no Parque Olímpico. Pode ser até em parceria com os Flores que tiveram a brilhante sacada.

  • Desde quando eu ví este Jonas jogar, ontem foi a primeira vez que ele jogou!!

  • Lindo texto.
    Humor de primeira.

  • Arthur está coberto de razão sobre o Flamengo nas Libertas dos últimos 37 idos. O bicho ruim varea, toma forma com pobremas psicorógicos, e vai ingerindo-se até às entranhas da escala do mundo espiritual.

    Os come-dormes do time devem ter bagos de aço para vencer essa porra. Tem que botar a piroca para fora e fazer cara de mau para o capiroto.

  • Texto bom demais de ser lido! Parabéns!
    Bora mengão!!! Só o cume interessa!

  • Galera, o que houve com os comentários?

    • Eu acho que andei a xingar demais aqui! hehe

    • Acho que limpeza na base de dados

  • Eae Coluna, agora voltou? Podiam dar um feedback para os leitores do Site, ridículo, mais de 1 semana sem poder interagir no site.

  • Karalhoooooooooo essa porra não chega, a ansiedade ta como????

  • Será pq q tiraram os comentários a dias d todas as matérias do site? Só hj voltou

  • Eu acho que muitos flamenguistas são o que são, por causa das cores da camisa.
    Meu irmão , eu sou flamengo , mesmo sem camisa.

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