Foi numa terça-feira, dia 9 de janeiro, que Paulo César Carpegiani chegou para ser anunciado e apresentado como novo técnico do Flamengo. Apesar de toda a história que o respaldava dentro do clube, a coletiva de imprensa deixou uma pulga atrás da orelha de muita gente. O próprio treinador dizia que poderia deixar a função caso o clube encontrasse outro técnico, com o gaúcho de Erechim, de 69 anos, voltando para a função que exerceria anteriormente – a de coordenador técnico.
Menos de dois meses depois – com sete jogos, seis vitórias, um empate, oito gols marcados e apenas um sofrido – o retrospecto e o dia a dia no Ninho credenciam seu Flamengo como favorito na final da Taça Guanabara. Um time que foi montado com participação e ideias de Reinaldo Rueda, contratações imaginadas pela diretoria e um toque de experiência e trabalho de Carpegiani.
O GloboEsporte.com remonta abaixo alguns pontos importantes na construção desta equipe que disputa a final neste domingo, em Cariacica.
O molho colombiano
As duas principais contratações da temporada estavam definidas antes de Carpegiani virar técnico. A busca no mercado passou pelo pedido de Reinaldo Rueda no fim do ano passado: a palavra de ordem era rejuvenescer setores do elenco. A diretoria buscou Pablo, zagueiro de 26 anos, campeão brasileiro pelo Corinthians. O Bordeaux não aceitou a proposta do Rubro-Negro. Os dirigentes da Gávea dizem ter chegado ao limite de oferta para trazer o zagueiro.
Marlos Moreno foi indicação de Rueda. Mesmo com a saída do treinador, o atacante colombiano foi contratado. Henrique Dourado tinha características de jogador que interessava a Rueda, que vivia pedindo “homem-gol” em entrevistas. Na lista, que tinha Fred e Vagner Love, Dourado já tinha sido aprovado pelo técnico colombiano no fim do ano passado, nas reuniões de planejamento.
A imersão no Fla
Logo que voltou ao Flamengo, Carpegiani lembrou passagem da montagem do time campeão do mundo em 1981. Contou que Adílio mal treinava com o grupo principal e que o puxou para formar o meio de campo daquele time histórico e vitorioso da Gávea. Nos poucos dias que teve para conhecer a garotada que iniciou o Estadual, Carpegiani fez praticamente imersão no Flamengo. Conversava a todo momento com Jayme de Almeida, que conhecia todos os garotos – da reapresentação do dia 4 -, e com Mozer, em reuniões diárias de avaliação de trabalho e de montagem de treinos.
O esquema
Antes de entrar com apenas um volante fixo (Cuéllar contra o Nova Iguaçu), Carpegiani já fazia testes deste tipo na pré-temporada estendida que teve com o grupo que se apresentou dia 13. Sua ideia era simples: povoar o meio de campo, sim, mas com o máximo de talento que puder contar. Queria encaixar no mesmo time Everton, Éverton Ribeiro, Diego e Lucas Paquetá. Sem perder a competitividade. Assim, com muito trabalho tático, exigiu concentração máxima e repetições. Com muita cobrança.
O método de treinos
Bem mais curtos que os praticados por Rueda, os treinos geralmente são comandados pelos três auxiliares – Mauricio Barbieri, Jayme de Almeida e o filho Rodrigo -, com Carpegiani entrando no trabalho tático. De maneira bem didática, o treinador orienta posicionamento, volta jogadas, questiona e provoca os jogadores a pensar durante as atividades e também distribui algumas broncas (“Acabei de explicar!”, costuma dizer nos dias mais impacientes).
O que não é regra em muitos treinadores, é marca de Carpegiani. Ele avisa quando e como pretende colocar o jogador com antecedência – Rueda, por exemplo, anunciava a escalação no dia para deixar todos ligados. Alguns jogadores recebem orientações por Whatsapp, do departamento de futebol, com vídeos de posicionamento em treinos e jogos, com instruções para automatizar os movimentos, como bem disse Diego em coletiva de imprensa. O camisa 10 lembrou que o esquema exige muita movimentação e troca de posições.
O esforço dos atletas
Com a primeira pré-temporada depois de mais de três anos longe, Éverton Ribeiro pediu orientações particulares do departamento de futebol.
– Eu quero voltar bem – dizia para quem encontrasse o meia-atacante.
No retorno ao Brasil, ele sentiu o ritmo das partidas e a maratona e rendeu bem menos. A recomendação era: descansar 15 dias e seguir cronograma estabelecido pela comissão técnica. O camisa 7 voltou bem melhor. É um dos exemplos mais citados internamente. Carpegiani conversou com alguns atletas ao pé do ouvido para explicar o que queria.
Com grande desempenho no fim do ano passado e no início deste ano, Paquetá foi outro muito procurado pelo treinador do Flamengo. Para Diego, 2018 é o ano do camisa 11 do Rubro-Negro mudar de patamar.
– É um privilégio jogar com ele – disse o camisa 10.
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