Como muitos na torcida do Flamengo passei os últimos anos esbravejando para que o Flamengo riscasse o Campeonato Carioca da sua lista de preocupações para dar prioridade total à Libertadores. Lógico que eu não estava moralmente preparado para aceitar que a prioridade à competição continental significasse eventualmente apanhar do Florminense ou perder pro Macaé, fenômeno que ainda não havia ocorrido durante minha breve permanência no planeta.
Aí um dos lados do meu cérebro, aquele que se acha mais esperto que todo mundo e sempre arranja uma explicaçãozinha cretina pra amenizar toda desgraça que me ocorre, sussurra: priorizar a Libertadores é isso. Atura ou surta. Mas o outro meridiano da minha massa cinzenta, que também é cretino, mas prefere o drama à sátira, reage: que prioridade é essa que vai pro jogo sem técnico, com zaga antiga e sem lateral de confiança? E nessa hora até o lado marrento dos meus miolos fica sem resposta e é obrigado a concordar com o vizinho menos exuberante. Prioridade é o cacete!
Lamentavelmente, tudo indica que o Flamengo, mais uma vez, entrou nessa parada pra perder. E não é porque perdeu pro Macaé com gol de Lepo, essa derrota podemos por tranquilamente naquela conta antiga da maldição onomástica, que a auditoria vai validar. Entramos novamente para perder porque não nos preparamos, não foi feito o dever de casa mais básico que é montar um elenco. É claro que pode dar certo entrar todo errado, taí o Brasileiro de 2009, nosso annus mirabilis a consagrar o improviso e a esculhambação.
Mas se a conquista da Libertadores da América, com todo o prestígio que traz, e, principalmente, com o poder de lavar os pecados pregressos, não motivaram os caras a trabalhar direito esse ano, não sei o que poderia motiva-los. É claro que os sujeitos ocultos na frase anterior são os dirigentes do Flamengo no coletivo e Eduardo Bandeira de Melo e Rodrigo Caetano no particular. Do Rodrigo não esperava muito em termos de pensamento a longo prazo, está funcionário do clube, mas é um profissional do mercado, vai pra onde o quiserem.
Mas do Bandeira, encerrando sua gestão, fechando um ciclo de 6 anos, eu esperava um pouco mais de obsessão pela Libertadores. Por mais modesto e sem ambições políticas que ele seja não é possível que não queira deixar um legado esportivo, uma marca no futebol mais grandiosa que um par de carioquinhas e uma Copa do Brasil. Ou, digamos que Bandeira seja um animal político, que ao menos se interesse em facilitar a eleição do sucessor que resolver apoiar e fortalecer o grupo a que pertence. Se o presidente compartilha essa obsessão com a maioria da torcida não tem deixado transparecer. Porque desde 2014 é a mesma coisa, o mesmo despreparo, a mesma gritante ausência do elán vital comum aos campeões da Libertadores.
Sempre achei que o que o discurso externo que chega até o torcedor através das coletivas e entrevistas exclusivas tem pouco valor no mercado dos fatos. Geralmente é fala ensaiada e cautelosa, mais preocupada em tirar o da própria galera da reta apostando tudo na autocongratulação e na exaltação da união do grupo. E é natural que seja assim, problemas se resolvem internamente e não dando show em entrevista.
Mas não deixa de causar estranheza que se perceba na maioria das declarações emanadas pelos responsáveis pelo futebol do Flamengo um certo alheamento à realidade dos fatos. O time joga porra nenhuma e o treinador diz que tá satisfeito com a equipe, o cara perde pênalti decisivo e na beira do gramado se elogia pelo trabalho realizado e rebaixa o pecado do pênalti perdido à categoria de detalhe, o executivo diz que a vitória sobre o Emelec não é uma obrigação, e por aí segue o bestialógico rubro-negro. Obviamente que isso não é um fenômeno natural, é uma estratégia pensada e executada com ferrenha obstinação. Talvez tenha até sido planificada por um profissional, mas eu duvido muito.
Um profissional que valesse o fee cobrado teria atentado para o fato que a constância desse posicionamento excessivamente corporativista promoveria um afastamento cada vez maior do discurso corrente na torcida. Distanciamento que resultaria fatalmente na completa perda de credibilidade, um marco negativo que acredito já ter sido atingido. Não que o clube tenha por dever reproduzir ou reverberar em seu discurso o sentimento das arquibancadas, não é o caso para esses populismos grosseiros. Mesmo porque a torcida está aí pra torcer e não pra dar consultoria gratuita em gestão. Cada um no seu quadrado.
Essa postura oficial do clube só acentua o isolamento do futebol do Flamengo do resto do clube. Não é novidade pra ninguém que o Departamento de Futebol está para o Flamengo assim como o Vaticano está para a República Italiana. É um enclave com leis próprias, um castelo com fosso e porta-levadiça que tenta manter em absoluto segredo seus métodos e procedimentos. Sempre foi assim, um reino à parte, mas quando era na Gávea a coisa era menos evidente e mais vulnerável à pressão da opinião pública. Agora que foi pras lonjuras do Ninho do Urubu e a imprensa só entra com hora marcada, ferrou de vez. O futebol do Flamengo é uma caixa-preta. Mas é como se fosse aquelas caixas-pretas que se perdem no mar nas tragédias da aviação. Aquelas que nunca são encontradas. Mas um dia a gente acha, isso é certo.
Meus dois lados do cérebro tão sempre brigando. O lado direito acha que no vamo-lá-porra tradicional dá pra ganhar a Libertadores. O esquerdo tem certeza que na cagada não dá. Atualmente eles só concordam uma coisa: já que não dá pra ficar esperando os milagres da priorização da Libertadores esse ano, que pelo menos priorizem a vitória sobre o Emelec na quarta-feira. E vamo que vamo.
Mengão Sempre
Reprodução: República Paz & Amor/ Arthur Muhlenberg
Já escreveste coisa melhor Arthur. Acho que nessa crônica a tua inspiração estava apática como o time do Flamengo diante do Macaé!
Arthur Mulambo, você voltou.
Até que em fim.
Esculachou o antigo patrão!
Boa!
Companheiro. Tem que fazer uma edição no seu texto:
“ Por mais modesto e sem ambições políticas que ele seja não é possível que não queira deixar um legado esportivo, uma marca no futebol mais grandiosa que um par de carioquinhas e uma Copa do Brasil”
Sem
Ambições políticas? What the fuck!!’
Agora sim, foi bem realista e sensato em suas avaliações. Infelizmente, quem apostaria no Flamengo?
É um acumulado de erros no futebol, quando pensamos que teríamos uma grande folga com a venda do VJ, ocorre o oposto. Falta dinheiro para pagar a divida do Cirino, não há contratações para as carências do elenco, e ainda vendem Vizeu por mixaria e a prazo. Ai voce olha um jogo do Palmeiras e se assusta, com o banco de reserva. Jogadores do nivel de Luan, Scarpa, Lucas Lima, Keno, William, etc., só na reserva, fora os titulares…
Se somos a maior receita do Brasil há 2-3 anos, o elenco está bem abaixo dos melhores. A conta dos Cirinos chegou! Só em 2019 agora…
Maior receita?
Venda milionária recorde do VJ p Real?
Antecipação de receitas?
Onde está o dinheiro?
O problema q apesar de ter melhorado a estrutura e as finanças o flamengo ainda não é tão atraente aos jogadores como as equipes paulistas. Ae vai o sr rodrigo caetano e oferece fortuna a jogadores mediocres. Para poderem aceitar jogar no flamengo. Ceifador ganhando 650 mil. Geuvanio 600 mil. Guerrero 1 milhao. E. Ribeiro 600 mil. Nossa folha ano passado era a mais cara entre todos os clubes. E olha a diferenca do nosso elenco para o do palmeiras. Planejamento no futebol é péssimo e o sol tampado com a peneira pelos balancetes milionários.
Balancete ainda permite truques, contabilidade criativa. Tipo o desconto do Profut, que resultou numa conta de quase 100Mi positivo. As luvas de TV, que apesar de ter parcelas a receber foi reportada ano passado integralmente (a valor presente). Valor de jogadores comprados a prazo (pode sofrer variações), amortizações, etc. Assim como agora essa operação apareceria positiva no balancete.
Mas o problema principal é supervalorizar jogadores. Pagar esses salarios absurdos a jogadores que não estão mais no auge de seu futebol. Planejamento mal feito, pouco focado nos aspectos esportivos. Quase sempre na base da “oportunidade” de negócios, não pelas carências do elenco.
Alguém aí acredita em algum título importante esse ano com esse time que o principal jogador é o Paquetá?
Sei não, se não abrirem o olho, briga p não cair no Brasileirão…….
E tem alguns que comemoram que o time está no azul….. defendem o idiota do Banana de Mello!!!
Vai entender……..
O FLAMENGO precisa de um 220v, essa pasmaceira é contagiante. Ninguém reclama, a torcida não reage…. Precisamos movimentar o clube, algo está errado e precisamos descobrir !!!
Resumo: Só com outra diretoria.
Que 2019 traga bons resultados para o nosso futebol igualmente trouxeram na parte financeira.
Belo texto cara. disse tudo que a maioria pensa sobre esse time,Diretoria incompetente e o elenco do flamengo. tirou as palavras da minha boca.
Nós torcedores estamos de mãos atadas, as nossas cobranças, reclamações, entram em um dos ouvidos e saem pelo outro, diretoria é blindada e blindam os jogadores, acham que está tudo certo, perdem partidas para time medíocres, são eliminados e está tudo certo. Isso é fato comprovado sobre essa diretoria, ela age assim, ótimo trabalho financeiro, mas não tem pulso para cobranças. Infelizmente que venha 2019, alguém que pense em finanças, mas que realmente de valor ao futebol.
“Por mais modesto e sem ambições políticas que ele seja não é possível que não queira deixar um legado…”
Qualquer um vê que o Derrota de Mello é ambicioso e calculista ao extremo, vide a esperteza dele em tirar os montadores da Chapa Azul original da jogada. Esse babaca entregou que é mais uma bandeirete.
Cara, ele falou de forma crítica, não de forma elogiosa. Vamos interpretar o texto.
Ele já relativizou a meritocracia do Zé Ricardo dizendo que naquele caso quem organizava o melhor churrasco podia estar sendo o premiado. Não duvido.