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Arthur Muhlenberg: “Fomos surpreendidos”

Tudo se encaminhava para mais uma inexplicável, sobrenatural e rotineira derrota do Flamengo como visitante na Libertadores. Um resultado que, infelizmente, se vulgarizou em nossas últimas incursões pelos grotões da América Latina. Até os 30 do segundo tempo o roteiro do manjado melodrama assinado pelo capeta estava sendo seguido à risca. O Flamengo esbanjava domínio, assenhorava-se da bola, que muito raramente era tocada pelos pés dos limitadíssimos líderes do campeonato equatoriano e ditava o ritmo da partida. Como castigo por incorrer no pecado capital do Quem Não Faz Leva provocado pelos pés murchos e cabeça-de-arrombar-navio dos nossos mulambos, vimos atônitos, mas não surpresos, os emelequers se aproveitarem da única bola que tiveram no jogo e ficarem na frente no placar. Untragbar!

Nada de desculpas ou muletas, mas o resultado parcial era ainda mais injusto porque o Flamengo, sempre de acordo com o impopular roteiro, também estava sendo roubado na maior das caras de pau. Desconheço o nível de tolerância cleptocrática do Equador, mas certamente é muito alto. O escandaloso pênalti não marcado a nosso favor, em qualquer país com eleições livres, liberdades democráticas garantidas e voto impresso seria motivo de convulsão civil, judiciário sob suspeição e exército nas ruas.

É tristemente notável que nos últimos três compromissos do Flamengo no âmbito da Conmebol (a final da Sula, o jogo contra o River e o de Guayaquil) a juizada sem vergonha tenha passado a mão na nossa bunda sem qualquer pudor. Por que acontece um negócio desses com a gente? Ora, acontece porque o Flamengo, por motivos totalmente alheios à nossa vontade, não passa de um Campo Grande, de um São Cristovão na Libertadores. Somos pequenos. Qualquer juiz hispanoparlante tem a convicção de que é mais vantajoso ficar bem com os cartolas do Emelec, do Cruz Azul ou do Deportivo Lara do que com os nossos.

Fazer o quê? Nosso poder político com essa galera é inexistente. Ficar puto é pior, é melhor encarar a realidade e tentar mudar isso da única maneira possível: sendo grande. Esse é o dever de casa dos dirigentes do Flamengo. Não é um trabalho pra amanhã, tem que ser uma politica de estado, um trabalho contínuo cujos frutos serão colhidos lá na frente. Trabalho que devia ter sido iniciado há mais de 30 anos, mas como não foi, precisamos começar praticamente do zero. A primeira medida é jogar a Libertadores todo ano, sem dar vexames, pra poder começar a fazer as amizades certas e conquistar alguma moral nessa jurisdição. Por enquanto reservaram para nós o papel de otário da mesa.

Mas o juiz não teve peito pra roubar o suficiente para que o jogo terminasse do jeito que quase todo mundo esperava. Carpegiani sentiu a água bater na bunda e fez o que todo técnico do Flamengo, praticamente desde Joel Santana, faz nessas situações: esperou o Flamengo estar perdendo pra botar Vinicius Junior em campo. Supostamente colocar o imberbe craque sarrante só na podre com 20 minutos pra resolver a encrenca não queima tanto um jovem talento como escala-lo como titular e lhe dar 90 minutos pra exibir suas qualidades. Fala sério! Eu não posso mais comprar esse papo brabo. Arrumem outra desculpa.

O fato é que Vinicius Jr entrou com tudo contra ele e em duas pinceladas magistrais acabou com o jogo. O moleque, além de bom de bola, tem muita estrela. Sorte a nossa. E do Real Madrid, que sabe que fez o melhor negócio da sua história, uma pechincha pela qual vai se vangloriar por gerações. Vinicius Junior já é uma estrela mundial, a comemoração de seu segundo gol, no meio da galera equatoriana rendida aos seus pés, é a prova mais recente disso. O parâmetro de humildade do Vinicius Junior é o Usain Bolt. A arco-íris pira, tira as calcinhas pela cabeça, mas vai ter que aturar.

Vinicius Jr salvou o Flamengo. No coletivo, que não estava em um de suas melhores noites, e também no individual. Dourado, se tiver um pingo de hombridade na cara tem que pagar o jantar pro moleque pelos próximos 6 meses. E sem miséria, porque pela quantidade de gols que perdeu a punição mais justa era que o centroavante de origem controversa voltasse pro Brasil de ônibus. Diego jogou direitinho, bem mais direitinho que nos últimos jogos e ainda deu aquela escorada malandra pro segundo gol do Vini. Jonas esteve digno. Paquetá não rabiscou e ainda deu umas fomeadas. Faz parte. Renê não dá. Everton Ribeiro continua insepulto. A rigor foi isso.

Carpe diem tenebris rubrum. Aproveitem o dia, comemorem sem medo porque o evento foi dos raros. Nos últimos 12 anos o Flamengo só venceu fora de casa na Liberta 3 vezes! 3 míseras vezes! Vitórias do Flamengo como visitante na Libertadores são tão eventuais quanto a passagem de alguns cometas. Por isso valem mais que umas duzentas Taças Guanabara com cobertura de chocolate e cereja no topo, e justificam qualquer doideira comemorativa. Só evitem dirigir chapados.

Carpe diem na consciência, até que se reúna um robusto conjunto de provas em contrário a inhaca da Liberta persiste, nossa margem ainda é mínima. Mas temos pelo menos até o mês que vem pra tirar onda na liderança absoluta e isolada do Grupo 4 da Libertadores. E isso garanto que não estava escrito em nenhuma página daquele maldito roteiro. Que a boa educação esportiva recomenda que tenha  sido esquecido para sempre em alguma lata de lixo equatoriana.

Mengão Sempre

Reprodução: Arthur Muhlenberg | República Paz e Amor

- Coluna do Fla -

Ver comentários

  • Tinha tempo que não saiamos de uma quarta feira com a alma lavada!

    Parabéns a todos!

  • Faço minhas as suas palavras, nenhum texto poderia expressar melhor o que sinto, esse Carpeggiani é burro e covarde demais, o Emelec ficou o segundo tempo todo pedindo pra ser estuprado, mas ele só coloca o menino no fogo e depois diz que tá preservando...

  • Verdade é que o Carpegiane fez uma loucura, insanidade, tomou o gol e resolver colocar o garoto em campo e justamente na direita, onde ele raramente jogou bem, teve sorte por que o moleque resolver chamar a responsa e partir pra dentro, personalidade ele sempre teve, ontem aliou isso a uma pequena dose de sorte e muita técnica. Eu comemoro, mas não me iludo, time mal armado, não possui um esquema de jogo e continua no mesmo estilo que vinha dando raiva, pouca movimentação e uma saída sem qualidade vindo de trás.

      • Eu vi, o problema é que parte da torcida enxerga jogo da seguinte forma: Ganhou? Jogou bem. Perdeu? Jogou mal...eu não sou assim. Esse time do Flamengo é fraco na saída de bola, não joga compactado, é extremamente individualista. Falta a esse time padrão de jogo, o Carpegiane ontem colocou o VJ assim que tomou o gol, ou seja, não fez por opção tática e sim por desespero, por sorte, o talento do garoto fez a diferença. Por que ele não fez isso no jogo contra o River? Simples...Pq Carpegiane é um mais do mesmo, técnico ruim e fraco, mas se uma vitória é capaz de iludir a torcida que assim seja...

        • Amigo, não adianta fazer críticas ao time, os caras caem matando. Tudo geração nutella. Te dou toda razão e parabéns pelo comentário. Aí no próximo jogo, se jogar do mesmo jeito e não ganhar, pode-se criticar. O jogo de ontem, foi um dos mais fácieis que já vi na Liberta. Era pra golear. OS caras não chutavam e a zaga era uma baba. Foi sofrido...SRN

          • Eu diria que o problema não é ser de geração essa ou aquela, mas, de ser racional. O Agnaldo tá coberto de razão!
            E externar críticas como essa, alguns acham, que o cara é antiflamengo .

          • Pois é...eu concordo com você, a zaga do Emelec é fraca, nossos meias são habilidosos, Carpegiane fez uma mexida no susto e conseguiu resultado, mas eu julgo mais pela habilidade do VJ do que por méritos do técnico. Fluminense foi eliminado ontem...Abel está logo ao lado, por mim, fazia uma oferta pra vir treinar o Flamengo, posso estar enganado, mas esse time nas mãos do Abel teria mais probabilidade de conseguir bons resultados.

        • Ontem o Flamengo dominou o Emelec Jonas foi seguro na proteção na frente da zaga as bolas levantadas eram rebatidas com tranquilidade e logo se armava no ataque o ponto negativo ontem pra variar foi o René é o Henrique Dourado a única chance que o Emelec teve no jogo foi o gol foi uma partida estilo a semi final da taça Guanabara contra o Botafogo ate concordo que o time esta longe de ser constante agora falar que não foi bem ontem?

          • Cara o time jogou bem, muita raça e vontade, coisa que a gente não via há algum tempo. Porém, NA MINHA AVALIAÇÃO, faltou bola no chão, faltou tranquilidade,entregamos algumas bolas bobas e nosso meio se mostrou muito individualista, principalmente o Paquetá que insistia em dribles constantemente, os laterais quando pegavam a bola, ficavam sozinhos, vê o gol do VJ, quando ele pega a bola quem está com ele? Ninguém, ali entrou a personalidade e talento do moleque. Quantas vezes o Everton foi ao fundo tentar uma tabela? Uma jogada? Nenhuma que eu me lembre...Sabe o que é isso? Time mal treinado, sem padrão tático de jogo, a saída de bola zaga/meio/ataque funcionou muito mal e não foram poucas vezes que o chutão foi o artifício utilizado . Time do Emelec é fraco, muita correria, bons pontas, mas uma zaga medonha, se tivéssemos tranquilidade e articulação no meio, tínhamos ganhado sem sustos.

          • Fazendo igual ao Jack vamos por partes:
            Paqueta realmente estava numa noite muito individualista onde deixou de passar a bola para um companheiro melhor posicionado pelo menos duas vezes (onde em uma gerou uma discussão entre ele e o Diego e Henrique Dourado), o primeiro gol do Vinicius jr eu concordo com vc realmente a jogada toda foi individual, porem o segundo gol foi um lançamento na corrida e Diego chegou a tempo de receber o passe (por sorte nao conseguiu controlar e sobrou pro Vinicius Jr arremetar), realmente nao lembro de jogadas do Everton na lateral exceto o lance do primeiro gol perdido do Henrique Dourado onde ele tentou passar a defesa tirou e ele na raça conseguiu passar, varias vezes houve chutão? nisto eu discordo o que vi e que a defesa bem postada tomava a bola e ja armava um contra ataque na base da correria (onde ai entra a noite fominha do Paqueta) o Emelec e fraco mais o jogo e de libertadores com casa cheia é time nivel medio no Brasil, mesmo com estes erros apontados acima so nao goleamos porque o Henrique Dourado conseguiu perder sendo camarada Dois gols feitos (o do primeiro tempo ainda pode ate dizer que nao era um gol feito) e o Emelec a rigor so teve o lance do gol.
            Quanto ao time esta mal treinado concordo em partes, ainda precisa melhorar muito a aproximação entre defesa e meio campo, mais pelo menos NA MINHA OPINIÃO vejo melhoras em relação a 2017.
            Que jogos como este de quarta feira seja a regra nao a excessão, pois mesmo com estes erros dominamos o adversario e que a repetição faça estes erros diminuirem, ja que no quesito vontade e raça foi perfeito.

    • É o que eu tambem penso,e venho falando desde ontem;se nao fosse o Brilho do V.Junior,o flamengo nao teria vancido esse jogo. o Carpegiani o colocou na marra e por ter tomado o gol,pois se nao eu duvido que ele tivesse colocado ele. eu gostei da vitoria e da raça do time,mas essa vitoria nao me ilude muito;pois o futebol continua o mesmo e as deficiencias do time tambem. o time ainda precisa evoluir muito,se quiser ir longe nessa libertadores.

      • Se quiser ir longe tem que evoluir muito mesmo...Eu estou bem preocupado com o que tenho visto, talvez queime minha língua, mas hoje, não vejo um bom trabalho do Carpegiane.

  • Agradeçam, porque se estivéssemos ganhando, quem entraria seria o Arão ou o Rômulo. Aí, quem levaria a virada seríamos nós.

  • Estou muito feliz pela vitória, principalmente pelo Vinicius. Mas a depois de fazer o segundo gol, o time se contentou e parou de atacar e ficou só na defesa, acho que poderia ter feito pelo menos mais um.

  • Está na hora de reescrevermos a nossa história, Flamengo precisa saber jogar a libertadores, ontem foi uma vitória maiúscula, que continuem nessa pegada.

  • Tem matéria que fala muito e não diz nada.
    Só querem críticar, e quando não podem, mesmo assim falam mal do Mengão em duplo sentido.

    • Qualquer neófito que leia essa matéria sem nunca ter lido um texto do Muhlenberg, corre o risco de pensar dessa forma. Caso contrário saberia que a sátira colocada muitas vezes como idolatria exagerada e em algumas outras como a atual, debochando da notória e consensual incapacidade do time de realizar as expectativas criadas pelo seu elenco, é a marca registrada do autor que sempre recebeu grande admiração e respeito desde os tempos de blogueiro oficial do Flamengo no jornalismo esportivo do O Globo.

      • Nosso poder político com essa galera é inexistente. Ficar puto é pior, é melhor encarar a realidade e tentar mudar isso da única maneira possível: sendo grande. Esse é o dever de casa dos dirigentes do Flamengo. Não é um trabalho pra amanhã, tem que ser uma politica de estado, um trabalho contínuo cujos frutos serão colhidos lá na frente. Trabalho que devia ter sido iniciado há mais de 30 anos, mas como não foi, precisamos começar praticamente do zero. A primeira medida é jogar a Libertadores todo ano, sem dar vexames, pra poder começar a fazer as amizades certas e conquistar alguma moral nessa jurisdição.
        !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

        • Eu entendi e não considero nem crítica nem duplo sentido. Por acaso nessa parte ele falou de forma séria algo que os fatos dão margem a termos esse tipo de pensamento.
          Ou seja, quando vemos que a arbitragem possui uma constante parcialidade contrária a nossos interesses, tendemos a pensar que ela é influenciada politicamente pelos interesses da organizadora do evento.
          E como esses interesses parecem ser favoráveis a outros países sul-americanos menos ao Brasil, depreendemos que trata-se de política de bastidores entre esses países e a Comebol.
          Portanto, esse texto que você destacou, se justifica sim, pois o Flamengo precisa também tentar se inserir nesse meio, mostrando que tem direito a ser um membro influente dentro dessa política da organização do futebol sul-americano.

  • Vamos apoiar q o Flamengo sempre vai ganhar e parar de criticar pois ontem todos jogaram bem

  • Cara, se a gente reclama quando não tem resultado, então tem obrigação de elogiar quando tem.

    Achei que houve alguns erros individuais, mas o coletivo compensou. O Flamengo jogou como se estivesse em casa, dominou as iniciativas, criou mais, e teve a atitude certa, que estamos pedindo há tempos. Foi pra cima pra vencer, não se contentou com empate. É isso ai, é isso que estamos pedindo. Os jogadores merecem apoio agora! E o técnico paz para trabalhar...

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