GE: “Marcelinho festeja 500 jogos pelo Flamengo e se diz “leve” com adeus”

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Imagine quanto pesam 11 anos de conquistas por um mesmo clube? Do quarto de seu filho, que costumava ser seu “escritório”, Marcelinho Machado retira primeiro as caixas com os troféus, depois uma outra, com medalhas e, por fim, uma enorme, que tem todas as camisas que já vestiu, temporada a temporada. Apesar da variedade, o vermelho e o preto predominam.

Afinal, é o clube pelo qual o ala de 42 anos mais jogou. De longe. E é também o time de seu coração. Neste sábado, quando entrar em quadra para jogar contra o Minas na Arena Carioca 1, no Parque Olímpico do Rio de Janeiro, completará 500 jogos com o “Manto”, como ele carinhosamente chama o uniforme do time da Gávea. O Marcezico, apelido que ganhou de torcedores rubro-negros, diz estar realizado por estar entre os maiores nomes do basquete do Flamengo.

– É com muito orgulho. Não sei se sou o maior da história do basquete do Flamengo. Mas estar entre os maiores me traz muito orgulho. É um clube gigantesco, do meu coração. Poder escrever meu nome na história desse clube e saber que daqui a 15, 20 anos, vão falar desse time, isso nao tem preço. Se me falassem há anos, quando eu era moleque no Maracanã, que faria história com essa camisa, perguntaria: onde eu assino? – fala o jogador que, nessa semana, abriu sua casa para a reportagem do Globo Esporte para mostar seu acervo de conquistas.

Marcelinho chegou ao Rubro-Negro em 2007, já com 33 anos, ou seja, um veterano. A missão? Ajudar o Flamengo a conquistar seu primeiro título nacional. Foi muito além. Hoje, em 2018, ele pode olhar para trás e, com orgulho, falar que teve papel de protagonista nos seis títulos nacionais do clube, sendo um Brasileiro e cinco NBBs.

Mas não foi só isso. Ele ganhou muitos Estaduais, a Liga Sul-Americana em 2009, a Liga das Américas em 2014 e, o mais importante, o Mundial, também naquele ano. Quebrou recordes atrás de recordes e se tornou inspiração.

– Os mais novos costumam falar: “Você é meu ídolo”. Eu falo: “Que isso, cara, para, a gente tá jogando junto”. É difícil você entender isso jogando. Vou entender mais quando eu parar. Está bem perto, eu estou feliz. Eu sempre curti muito jogar basquete. Mas estou curtindo agora de maneira mais relaxada. Tudo que envolve o jogo. Tudo. Treino, convivência, os pequenos momentos de viagem. Estou curtindo de forma diferente – falou Marcelinho.

A aposentadoria está marcada para depois do fim da temporada do NBB 2017/2018. Ele espera, é claro, que seja com título. O Flamengo atualmente é o segundo colocado na fase regular do campeonato nacional, com 85,7% de aproveitamento, sendo 18 vitórias e três derrotas em 21 jogos. Está atrás apenas do Paulistano, que tem 87,5%.

De sua casa, Marcelinho vê a Arena Carioca 1, palco dos jogos do Rubro-Negro nessa edição, e começa a se concentrar para os jogos. Apesar do foco ser o mesmo, ele está mais relaxado.

– Quando tomei essa decisão de parar em conjunto com minha família, eu sabia que iam acontecer muitas coisas, homenagens e tal. Mas foi mais por uma questão pessoal. Viver a última temporada sabendo que é a última temporada. Viver cada momento sabendo que é o último. Talvez se fosse diferente eu não vivesse da mesma forma. Estou feliz com tudo que estou conseguindo viver nessa temporada – falou o jogador, que tem 10.591 pontos pelo clube da Gávea.

Marcelinho começou sua carreira nas categorias de base do Flamengo. Mas se profissionalizou fora da Gávea. Passou por Tijuca, Corinthians, Botafogo, Fluminense, pela Espanha, Itália e até Lituânia até enfim voltar ao Rubro-Negro no profissional.

– Eu brinco que estava fazendo estágio. A gente não escolhe muito. A nossa carreira vai. Você vai escolhendo o que eh melhor de acordo com as opcoes. Tive sempre na minha cabeça que ia crescer jogando. Eu jogava no Fluminense e no Botafogo e tinha mais espaço pra jogar contra os melhores do campeonato. Fui pra Europa pra crescer, fiquei três anos. Veio a proposta do Flamengo e juntou muito a ideia de eu ter uma família.

O pai de Marcelinho Machado trabalhava no Fluminense. Foi por isso que ele saiu cedo do Rubro-Negro para defender o Tricolor. Ele atuou de 10 a 14 anos no time da Gávea. Ficou nas Laranjeiras de 14 a 19 anos. Foi onde terminou sua formação de base. Mas ele garante que sempre torceu para o Flamengo.

– Lembro do Maracanã antigo, aquele Maracana lotado. Ficávamos sempre atras do gol à esquerda. Era uma aventura, tinha que sempre estar junto do meu pai. Lembro de algumas situações. É engraçado criança, né? Lembra certas coisas. Até falei isso pro Zico. Me lembro de um gol que o Zico meteu contra o Santa Cruz, e um jogo na Gávea que ele deu um passe de bicicleta. São momentos que guardo. Poder ouvir do Zico hoje que sou amigo dele, do Junior, chego na Gávea e encontro Adílio… É maravilhoso.

O mais curioso é que, apesar da temporada ser o adeus de Marcelinho, ele tem feito a diferença em muitos jogos para o Flamengo. Talvez por estar relaxado. Em jogos cruciais, como o clássico contra o Vasco, e no duelo contra o Franca de Leandrinho, o ala foi o principal atleta em quadra. Saiu como cestinha. Marcelinho gosta de desafios.

– A gente tenta se preparar da mesma forma. Mas isso é uma ilusão. O ser humano não é um robô. Quando é clássico, tem clima de revanche, acaba trazendo pra gente um fôlego a mais. Eu falo sempre no Flamengo: temos nossos protagonistas, mas nosso coadjuvantes sabem fazer papel de protagonista. Nossos protagonistas sabem que um dia poderão ser coadjuvantes. Isso traz muita dificuldade pro adversário. Eu sou um coadjuvante que sempre tenho essa fagulha de querer ser protagonista.

Apesar das caixas de medalhas, troféus e camisas, Marcelinho sabe que o mais importante foram as pessoas que conheceu, as amizades que fez pelo caminho e as histórias que, com muito orgulho, pode contar:

– É muito expressiva essa marca de 500 jogos porque hoje em dia é difícil. Quando fiz o contrato de três anos (2007), era difícil. Depois outras equipes passaram a fazer também. Chegar a 11 anos e 500 jogos com essa camisa que é um Manto é maravilhoso. Os troféus, camisas e medalhas são muito legais de guardar, mas contar as histórias é muito mais especial – concluiu.

Reprodução: Globo Esporte

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