São Jerônimo, tradutor da Bíblia do grego para o latim, a chamada Vulgata, dizia que a virgindade pode ser perdida até por um pensamento. Hoje em dia ninguém mais se preocupa com uma película como o hímen, mas a afirmação que o Doutor da Igreja fez no século II se aplica perfeitamente ao que aconteceu com o Flamengo no Dia das Mães em Chapecó. A invencibilidade rubro-negra, uma espécie de virgindade metafórica, por maior que fosse a sua desimportância prática, já entrou na Arena Condá meladinha, seriamente comprometida pela escalação assinada por Barbieri.
O jovem estudioso, quem sabe agindo como procurador de seus superiores hierárquicos, achou por bem que valia a pena colocar em risco a liderança do Brasileiro para dar um descanso ao time que vinha até então dando conta do serviço e escalar a nata dos come-e-dorme do elenco sem, contudo, providenciar a quantidade de treinamentos mínima para que os reservas, enjeitados e recém incorporados ao menos simulassem algum entrosamento dentro das 4 linhas.
Um risco mal calculado à beça para assegurar que o Flamengo entraria com a força máxima contra o Emelec na quarta-feira e diminuir as chances de que o time viesse a cometer o supremo pecado de não passar para as 8as da Libertadores. Que, infelizmente, se tornou uma embaraçosa tradição esportiva da atual administração do clube. Em uma linguagem mais pedestre, o Flamengo se poupou não por virtude, mas por cagaço. E por isso foi punido com extrema severidade, mas não sem justiça.
Com um calendário que não respeita as necessidades orgânicas dos atletas e tampouco as conquistas trabalhistas celebradas na finada CLT todo mundo concorda que não dá para ser campeão do Brasileiro estourando seu time titular em 38 rodadas. Mas também não dá pra ficar nesse pânico de moça que viu barata passar no chão da cozinha pra jogar com o Emelec. Sem ideologia de gênero, mas tal atitude simplesmente não combina com a tradição rubro-negra e nisso não há soberba ou arrogância, posto que o Emelec, o 4º colocado no Campeonato Equatoriano, não existe. Pelo menos não existe na mesma dimensão em que o Flamengo pretende se impor, a dos maiores times do continente.
A Chapecoense, que tem seus próprios fantasmas a enfrentar, entre eles o rebaixamento que é um perigo real e imediato, não quis nem saber e entrou em campo disposta a tudo. Enfiou a porrada desde o começo, correu mais que o Flamengo e aproveitou como pode cada falha e desajuste da nossa escalação cagona. Verdade que contou também com a incompetência mal-intencionada do Vuaden, um árbitro de péssima reputação e ainda pior visão periférica. O Flamengo foi mais uma vez roubado, mas nem precisava.
Nosso lado esquerdo parecia aquela pista do Sem-Parar no pedágio, vagabundo passava direto. Trauco é incapaz de marcar até encontro com a namorada. Nossa zaga, para a surpresa de ninguém, foi horrorosa, Léo Duarte ainda não é o zagueiro que precisamos e o Juan, lamentavelmente, já não é mais. Já passou da hora da Fla-Eventos marcar o seu jogo de despedida, fazer uma linda festa, entregar aquela placa bonita e um abraço. Quem sabe com a sua aposentadoria tardia o Flamengo acorde pra vida e tente contratar algum zagueiro que ainda esteja no prazo de validade. Já o César, brincadeira, um frango e um gol contra, não dava pra ser pior. Não há justificativa técnica ou física pra poupar goleiro, sua escalação foi uma maluquice Barbieriana que nos custou muito caro.
Como dizia o São Jerônimo, o cabaço se perde no pensamento. E o pensamento de que o Flamengo tem um time B é pornográfico, um convite à depravação. Não temos sequer um time A equilibrado o suficiente. Agora vai ser aquele Deus nos acuda na quarta-feira, principalmente se Diego, que ao que tudo indica volta ao time, jogar a bolinha sem vergonha que jogou. Deu duzentos e cinquenta passes pra trás, ralentou nosso ataque e ainda saiu de campo dizendo que tem esperanças de ser convocado pra Copa do Mundo. Era pra ter saído no meio-tempo, mas cadê a moral do interino pra tirar o patrão da resenha?
O Flamengo perdeu porque jogou mal. E dessa vez, bem pior que o adversário. Aí não tem jeito, 3 pontos a menos. Só pra não terminar nessa amargura total admitamos que os gols de Guerrero e Vinicius Junior foram bonitos. E que valeram tanto quanto uma virgindade perdida.
Mengão Sempre
Reprodução: Arthur Muhlenberg | República Paz & Amor
Perdemos porque a atitude foi perdedora desde o inicio. Entregou gols, nem no penalty soube como se comportar para não ser roubado. Parece que entrou para perder mesmo…
Destaque para a volta de Diego e Guerrero. Exatamente quando o resto do time está sendo poupado, é tão estranha quanto a conveniencia temporal da contusão de Diego. O tal racha entre Diego e Paquetá, será que é verdade? Diego está perdendo a moral como líder? E Guerrero, ficou isolado? E Juan, deixou o time na mão num jogo, e volta para entregar? Enfim, não dá pra confiar nesses caras pelo histórico, e por isso mesmo precisamos ficar de olho que eles não atrapalhem a evolução do time.
Uma análise correta do que ocorreu no jogo. Porém, faço a ressalva do trauma que tem sido ser seguidamente eliminado na fase de grupos da Libertadores. Foi pensando nela que arriscamos a liderança do Brasileiro, e depois da derrota de ontem o ato de poupar jogadores deve ser devidamente justificado com uma boa vitória na quarta feira. Se ela não vier…bom, aí nem sei onde vão parar algumas cabeças coroadas do clube.
A intenção foi boa, mas de bem intencionados o inferno está cheio. Porém, do jeito que andam caçando Paquetá e VJr. em campo, se um deles se machucasse e desfalcasse o time pra quarta feira, iriam dizer que o técnico errou, do mesmo jeito. Ele é “burro” quando faz, e é “burro” quando não faz. Não tem lógica isso.
Ainda somos lideres do Brasileiro (não isolado) e estamos inteiros pra quarta-feira. Tem é que ganhar do Emelec, e se pra conseguir isso foi preciso perder pra Chape no início do Brasileiro, então que seja. O fiel da balança para o Flamengo é a classificação para o mata-mata da Libertadores. É a fina linha que separa o céu do inferno. Quem é rubronegro sabe bem disso.