Arthur Muhlenberg: “A maldita janela”

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O Paraná não é lá um defunto que mereça muita vela, mas batucar ou ler umas mal traçadas sobre o jogo não vai arrancar pedaço de ninguém. Foi um domingo rubro-negro sensacional. 60 mil bem vestidos no Maracanã deram show na arquibancada e viram o Flamengo passar por cima do Paraná praticamente sem tomar conhecimento da presença do adversário em campo. Houve quem só percebesse que o Flamengo não estava sozinho no gramado quando no 2º Tempo entrou em campo o querido come-e-dorme Carlos Eduardo, jogador símbolo da maldição de contratar errado da Chapa Azul.

Com esse exemplo exagerado e ficcional até os mais desatentos percebem a extensão do domínio do Flamengo na partida. Que mesmo sem ter nenhuma de suas estrelas em noite exuberante construiu o placar com tranquilidade e método. Como fez contra o Flor, o Flamengo deu pressão nos 45 minutos iniciais, arrumou o seu gol e voltou para a fase complementar disposto a chamar o adversário pro seu campo para provocar um contra-ataque que permitisse a estocada final, o golpe de misericórdia. Foi exatamente o que aconteceu.

O Flamengo continua mostrando consistência e consciência do que está fazendo em campo. Um óbvio sintoma do trabalho do Barbieri, que por mais recente que seja já mostrou uma característica muito forte: escalar sempre os melhores, sem panelagem ou protecionismo. Pode parecer pouca coisa, uma obrigatoriedade lógica da função do treinador, mas há muitos e muitos anos a torcida do Flamengo não assinava embaixo das escalações do time com tamanha convicção e unanimidade. Ponto pro Barbieri, aquele interino que todo mundo respeita.

Ao lado das circunstâncias, a sorte, menina levada e inconstante, também tem ajudado ao estudioso treinador a colocar em campo os melhores. Principalmente na defesa, a cada dia mais sólida sob o inegável comando moral de Diego Alves, há dias e dias sem levar gol. Verdade que bastou que os zagueiros velhos e fora do prazo de validade cedessem seus lugares cativos para Léo Duarte e Thuler para que a vulnerabilidade da defesa, sobretudo pelo alto, se tornasse uma mera lembrança de tempos ruins. Todo o respeito aos veteranos e à suas folhas de serviço prestados, mas os números atuais da defesa confirmam o que quase todo mundo sabia, mas não tinha coragem de dizer: o tempo de Juan e Rever já passou.

Mas a sorte de Barbieri não serve para explicar a fase espetacular de Cuellar, o ex-reserva de Márcio Araújo. A bola que El Fosforito vem jogando está destruindo a cada rodada, em tempos distintos, a boa imagem que dois zés levaram anos para construir, o Ricardo e o Pekermann. A não ser que tenham descoberto um Beckenbauer colombiano para o lugar de Cuellar na selección cafetera, é evidente que o treinador argentino assinou um atestado de burro em 3 vias autenticadas. Azar o dele, Cuellar já renovou contrato com o Mengão e a multa é pesadona.

Quem também vem jogando sempre bem é o Everton Ribeiro, que demorou pra se adaptar, mas que agora é um fator de desequilíbrio, no meio ou na ponta. Paquetá foi substituído pelo Jean Lucas, que não fez feio e segurou a onda. Diego foi quem mais sentiu a falta do Rabiscador e teve que voltar muito pra buscar jogo, coisas do esporte. Quem também vai deixar saudade é o Vizeu, que nos últimos 3 jogos foi decisivo. Sem ele no banco a cobrança sobre Dourado será ainda maior. E correta, afinal, um centroavante de 17 paus que não joga no Florminene não pode viver só de pênalti. É bom começar a ceifar que nem homem porque se não o fizer Lincoln vai atropelar.

Mas a falta que vamos todos sentir demais será a de Vinicius Junior. Inegável sua importância na ascensão do Flamengo de time caro e frouxo para a solidez do líder inconteste do Brasileiro. O moleque é especial mesmo, por isso nada mais natural que o Real o convocasse assim que o contrato e as leis permitissem. Quem já pagou 45 milhões de euros por um jogador do sub-17 sabe do que estamos falando.

Há quem perceba no cumprimento do contrato celebrado entre Vinicius, Flamengo e os espanhóis traços de um mau planejamento atribuído ao Rodrigo Caetano. Uma afirmação discutível se levarmos em conta os direitos de quem está pagando a conta sem chiar. É triste que tenhamos curtido tão pouco a presença de Vinicius Junior em campo, mas antes de Barbieri todos os professores insistiam em só deixa-lo entrar no segundo tempo e com o placar desfavorável. Se alguém merece ser vaiado por isso são eles e não o ex-diretor.

E tem mais uma coisa, Vinicius Junior é cria, raízes e sangue rubro-negro ali são mato, é Flamengo da cabeça à ponta das chuteiras, porém, é um moleque. E não se pode culpar um moleque por querer viver o sonho de jogar no atual céu do futebol. Ele chorou a se despedir da galera no Maracanã, óbvio, mas é óbvio que ele também está amarradão e ansioso pra descobrir o que o destino reservou pra ele. Se Vinicius Juniroestiver sendo bem orientado, e tudo indica que está, já aprendeu que o destino é igual ao dinheiro, não aceita desaforos.

Que Vinicius Junior vá em paz e que arrebente com tudo por lá porque fez muito por merecer. Se por acaso acharem que ele não está pronto pra se unir ao time A dos blancos, beleza, no Flamengo vai sempre ter lugar pra ele. Mas é muito improvável que isso venha a acontecer, não existe mais bobo no futebol. E se por acaso existirem certamente não estão ganhando Liga dos Campeões todo ano.

O Flamengo vai bem, obrigado. A liderança até a volta da Copa está garantida e consolidada. Festa na favela, baile do Jaca, Borel, Borel. A torcida pode dançar até o chão, chão, chão, mas não tem o direito de se iludir. A janela, etapa decisiva do Campeonato Brasileiro, já começou a nos fuder. E nada nos garante que esse será um coito rapidinho. Bola pra frente, segue o líder.

Reprodução: Arthur Muhlenberg | República Paz & Amor

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