Se há um mérito fácil de apontar no trabalho de Mauricio Barbieri é a sua capacidade de, em pouco tempo, ter transformado o Flamengo em um time organizado e, principalmente, sólido. Observe a equipe em ação atualmente. Os jogadores se movimentam de forma sincronizada e os passes saem de forma natural. Pressiona logo para ter a posse e comandar o jogo. Tem esse desejo. E, com isso, permite à defesa ser resistente. Intransponível nos últimos cinco jogos. Com esse pacote, o Flamengo criou uma atmosfera no Maracanã que o levou não só à liderança folgada do Brasileiro. Uma vez mais com o estádio pulsante, o Flamengo venceu o Paraná por 2 a 0, abriu mais um ponto no topo. Deixar o Maracanã em êxtase é rotina.
Fla no início: muitos toques, posse e Vinicius pressionado ao fim
Uma experiência difícil de assimilar por meio de imagens em tvs, por melhor qualidade que tenham. O percorrer dos olhos na arquibancada no frescor pós-gol encontra garotas, mulheres, garotos e homens feitos, até senhores, olhando ao horizonte, mãos ao céu. Acompanhados por sorriso largo, escancarado. Não é apenas satisfação de ver o Flamengo líder. É testemunhá-lo líder com boas atuações. Consistente. Sólido. Isso mesmo diante de mudanças. Se não teve Diego, suspenso, no Fla-Flu, dessa vez Barbieri não contou com Paquetá, pelo mesmo motivo. Há quase uma hierarquia já estabelecida. No 4-1-4-1, Jean Lucas assumiu o lugar do camisa 11 ao lado de Diego, com Everton Ribeiro e Vinicius Junior por fora. Saiu Rhodolfo, lesionado? Entra o garoto Thuler ao lado de Léo Duarte. Um time que, de tão sólido, já faz a torcida escalá-lo de cor.
A dúvida seria sobre o rival. Chegaria o Paraná ao Maracanã disposto a duelar de peito aberto com o Flamengo líder diante de sua gente? Ou, prudente, entraria fechado para esperar o contra-ataque? Inicialmente, Rogério Micale preferiu a primeira opção. Pareceu indicar um 4-2-3-1, com Serginho e Léo Itaperuna pelos lados, Caio Henrique encostando em Carlos. O Flamengo não sentiu. Manteve a posse e, gradativamente, passou a empurrar o Paraná ao campo defensivo com sua característica. O girar da bola, de um lado ao outro, esperando uma melhor brecha. Um tipo de jogo que a arquibancada já parece entender. Não há irritação com a farta troca de passes. Falam, já, a mesma língua, time e torcida. Lua de mel rara no universo rubro-negro.
Paraná no início: tentativa de ser ofensivo, mas empurrado para trás
Ocorre que a troca forçada de Paquetá por Jean Lucas mantinha o Flamengo com o bom toque de bola, mas sem ser tão incisivo. O primeiro é elétrico, onipresente, busca passes agudos, sempre verticais, tentando encontrar um adversário no gol. Jean Lucas carrega mais a bola, toca ao lado e, por vezes, procura infiltrar. Tornou o time um pouco mais lento, até por forçar Diego a retornar mais para o auxiliar o início do jogo. A movimentação entre os meio-campistas, porém, era grande como sempre. Com essa imposição rubro-negra, o Paraná passou a se encolher, indicando um 4-1-4-1. E mantinha o olho em Vinicius: tentou reduzir espaços do garoto. Assim que ele punha os pés na bola, dois ou três jogadores, principalmente Junior, encostavam para reduzir seu campo de ação, a velocidade, o drible fácil. A saída rubro-negra foi inteligente: tocar mais rápido para embaralhar a organização paranista e abrir brechas pelo meio. Mas sempre pressionado a saída rival.
Desta forma, chegou ao gol. Diego abafou a saída e a sobra caiu nos pés de Vinicius Junior. O drible falhou, mas a estourada da defesa foi em Jean Lucas e caiu de novo nos pés da revelação rubro-negra. Com 17 anos, ele já causa temor aos adversários. Três deles se juntaram para manter a estratégia de limitar o seu espaço. Ao fazer isso, o Paraná abriu brechas. Renê e Diego ficaram sozinhos. O lateral avançou, recebeu a bola e rolou para Diego, rápido no drible para ser derrubado sem piedade pelo zagueiro. Na cobrança do camisa 10, o Maracanã recheado de luzes na arquibancada viu a bola bater na barreira antes de vencer Thiago Rodrigues, goleiro do Paraná. 1 a 0 que deixou o Maracanã, de novo, em um tom só.
Ao fim, um Fla mais veloz, mas ainda sólido: consistência de líder
A vantagem fez não só o Maracanã pulsar, mas o Paraná encolher ainda mais. O Flamengo manteve a calma na troca de passes, mas por instantes mudou de estratégia. Como o time de Micale geralmente marcava bem desde a intermediária de seu campo, concentrando seu esforços em anular Vinicius pela esquerda, o time passou a tramar o jogo pela direita. Interessante: era por ali, com Serginho e Igor, que o Paraná tinha as saídas mais rápidas para o ataque. Por ali, inclusive, Carlos deu chute perigoso rente ao travessão de Diego Alves. Ao acionar mais Everton Ribeiro, com apoio de Jean Lucas e as ultrapassagens de Rodinei, o Paraná ficou ainda mais tímido, resignado com o caráter defensivo que deveria ter para manter o jogo ainda aceso no segundo tempo. De fato, a equipe de Micale conseguiu limitar o número de finalizações do mandante. Foram quatro, apenas um no alvo, a do gol, na primeira etapa. Muita posse, poucas chances reais.
Era, no entanto, um Flamengo imponente. Estava bem claro de que o Paraná teria dificuldades para duelar com o time rubro-negro. A dupla de zaga, Thuler e Léo Duarte, cumpria mais uma ótima apresentação. Por vezes avançavam além da linha do meio de campo. Mas, velozes, conseguiam recuperar rapidamente a posição com o auxílio de Cuellar, uma vez mais um soberbo em desarmes nos contra-ataques rivais. Micale tentou duas vezes soltar mais a equipe. No intervalo sacou Johnny Lucas, volante, e colocou Carlos Eduardo, contratado como astro no Flamengo de 2013. Queria mais posse e criatividade. Depois, sacou Serginho, mais velocista, por Thiago Santos, de maior presença de área. A opção era cruel de uma maneira: postar-se mais à frente significava dar mais campo ao Flamengo para jogar. Espaços, justamente o que tentara reduzir na primeira etapa. Barbieri entendeu o recado. Precisava de mais velocidade para manter o embalo do Maracanã, pulsante. Um time de acordo com a arquibancada. Que, ainda assim, destoou por alguns segundos.
Tão logo Jean Lucas, já amarelado, cometeu falta em frente à área, Barbieri chamou Willian Arão. As vaias chegaram em peso. Ao mesmo tempo, chamou Felipe Vizeu, ovacionado. Uma ótima sacada: deixou a arquibancada na dúvida sobre o comportamento a seguir e a indecisão dissipou a insatisfação. Ainda com o controle do jogo, o Flamengo passou a girar a bola como antes. Mas agora com a diferença: Arão infiltra com muito mais velocidade do que Jean Lucas. Ideal para Everton Ribeiro. Adaptado e mais solto, o camisa 7 fez ótima partida. Dribla por instinto, costura as jogadas por dentro e sabe achar espaços com posicionamento ou o passe. Parece conhecer cada metro do Maracanã, o tempo a dar ao jogo. Ao receber a bola, ele enxergou Arão passando como um raio pela direita. O passe açucarado se transformou em um cruzamento fatal, nos pés de Vizeu na pequena área. 2 a 0.
Ao fim, Paraná mais à frente, buscando gol, mas cedendo empates
Um jogo liquidado. A solidez atual deste Flamengo permite raciocinar assim. Dificilmente dá brechas. É firme. A pressão na saída rival continua mesmo com vantagem. Talvez por isso deixou um Maracanã entorpecido com a certeza de que a liderança seria rubro-negra ao menos até meados de julho. Pulsava. Vibrava. Gritava. Mas também angustiado pela incerteza de que sua grande promessa, com ares de realidade, poderia dar o seu adeus. O próprio time rubro-negro tentou tornar a partida uma possível despedida digna de Vinicius Junior do Maracanã. Na grande chance, em contra-ataque, duas certezas: Vinicius, com o peso de sua possível saída, teve noite discreta. Perdeu chance clara na frente do goleiro. Mas mesmo assim consegue ter momentos para ser diferente: o passe dado pelo alto para Everton Ribeiro completar um voleio em cima do goleiro seria daqueles lances de eternizar na memória do torcedor. Não foi possível.
Maduro, o Flamengo alcançou os 26 pontos na tabela em uma partida na qual trocou 562 passes e teve 58% de posse, de acordo com o Footstats. Um Flamengo calmo, paciente, mas que empolga. Sólido, o líder do Campeonato Brasileiro vive céu de brigadeiro com o qual sonhou por tanto tempo. Não é um voo de verão. É um time sólido, com ideias claras e capaz de se impor aos adversários. E, assim, tornar o êxtase da arquibancada uma rotina no Maracanã.
FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 2X0 PARANÁ
Local: Maracanã
Data: 10 de junho de 2018
Horário: 19h
Árbitro: Marcelo Aparecido de Souza (SP)
Público e renda: 54.526 pagantes / 59.488 presentes / R$ 1.745.965,09
Cartões Amarelos: Jean Lucas e Felipe Vizeu (FLA)
Gols: Diego (FLA), aos 19 minutos do primeiro tempo e Felipe Vizeu (FLA), aos 20 minutos do segundo tempo
FLAMENGO: Diego Alves; Rodinei, Thuler, Léo Duarte, e Renê; Cuellar; Everton Ribeiro, Jean Lucas (Willian Arão, 17’/2T), Diego (Marlos Moreno, 26’/2T) e Vinicius Junior; Henrique Dourado (Felipe Vizeu, 17’/2T)
Técnico: Mauricio Barbieri
PARANÁ: Thiago Rodrigues; Júnior, Jesiel (Neres, 19’/2T), Rayan e Igor; Torito e Jhonny Lucas (Carlos Eduardo / Intervalo); Léo Itaperuna, Caio Henrique e Serginho (Thiago Santos, 10’/2T); Carlos
Técnico; Rogério Micale
Reprodução: Pedro Henrique Torre/ Chute Cruzado
Ainda vou esperar passar o mês de agosto pra fazer críticas ao trabalho de Barbieri, mas o time está muito bem, praticamente não toma gol, 2º melhor ataque do brasileirão, controla o jogo e tem jogado de forma consistente, tem tudo pra evoluir ainda mais, mas para que isso aconteça, precisamos de qualidade no elenco, precisamos de reforços! Não podemos depender sempre dos garotos, só sobrou Paquetá e nem sei se ele continua pro restante da temporada, quero comemorar pelo menos 1 título esse ano…
Fla será campeão pois os céus querem, varios motivos, o mais importante é que as bolas estão entrando, quando não entravam, em 2016/17. O gol de falta de Diego ontem foi iconico no desvio esotérico na barreira, alem disso temos tido sorte com árbitros que não estão comprometendo nossos ultimos jogos, tanto pelo brasileiro como copa do brasil. Jogadores jovens estão tendo chance e abafando, a safra da base surpreendentemente formidável, Vejam Paqueta, VJ, o Jean Lucas, o Viseu q entra e marca,quando tudo parece que a nau vai afundar pois os cascudos da defesa foram para o DM, surgem Leo Duarte e Thuler, rapidíssimos e arrebentando. E se não bastasse, o Rene, aprende a jogar e o Rodnei encaixa completamente com E. Ribeiro que passou a jogar muito. Ou seja, eu não discuto com Deus, vamos ganhar titulos galera