Foi com bastante pesar que acompanhei a punição por doping recebida por Paolo Guerrero após partida das eliminatórias sul-americanas. Na imprensa, de modo geral, não era raro encontrar o assunto amparado por termos que remetiam à injustiça para com o jogador e seu país, até então animosos para com a ausência do maior ídolo de sua história na primeira Copa para o Peru em 36 anos. Quanto ao Flamengo, o teor midiático se limitava a debater a abalada relação entre clube e jogador após sucessivas suspensões de contrato por parte do jurídico rubro-negro ao passo do cada vez mais véspero fim de vínculo entre as partes, que agora parecia estar distante em função do mencionado descontentamento do atacante com a “ausência de apoio”.
Resumo da ópera, sobre toda a história do doping: um hotel foi culpado pelo fato; o jogador e seu país foram as vítimas da injustiça desmedida; o Flamengo foi pouco solidário. Quando a punição foi suspensa e Guerrero foi, enfim, liberado para disputar a Copa do Mundo, o hotel caiu no ostracismo, o jogador e seu país entraram em festa e o Flamengo foi desprezado. Final feliz, não é? Menos pro Flamengo.
Algo deve ser destacado e nunca esquecido: a responsabilidade pelo doping do jogador deve ser completamente atribuída à federação peruana, já que o fato ocorreu enquanto Guerrero servia à sua seleção, em um hotel alugado pela mesma. Para o Peru, que efetivamente perdeu seu principal jogador somente para os dois confrontos contra a fortíssima Nova Zelândia, pela repescagem da Copa, a punição saiu muito barata, até mesmo considerando que uma possível reativação do afastamento no pós-Copa não tirará o atacante da Copa América de 2019. O Flamengo, por outro lado, que nada teve a ver com o desenrolar da intoxicação do craque, somente perdeu. Perdemos nossa referência durante o período de convocação, durante as finais da Copa Sul-Americana e durante praticamente todo o primeiro semestre de 2017, incluindo os jogos da Libertadores. Alguém duvida que o título da Sula seria muito mais palpável com Guerrero em campo? Alguém duvida que poderíamos ter apresentado melhor rendimento neste ano com Guerrero no lugar de Dourado?
Mas não. Nessa história toda, há gente que insiste em enxergar que um dos culpados é… o Flamengo. O Flamengo, que pagou o salário de um jogador por meses sem tê-lo em campo e que foi condenado quando decidiu – legalmente – por parar de fazê-lo. Estávamos errados, pois deveríamos continuar a pagar valores próximos a 1 milhão mensais a um jogador condenado por ingestão de substâncias ilegais pela maior instância julgadora do esporte, eles inferiam, mesmo já arcando com transferência e salários de substituto. Nós, que perdemos o jogador mais bem pago do elenco no momento mais importante de 2016 por um erro de terceiros, justamente no melhor ano de sua carreira. Ironia? Não, é disso que estamos sendo acusados.
Guerrero, o Flamengo é tão ou mais vítima que você nessa história. Se você não tem culpa por ter ingerido algo contaminado, quem dirá nós? Qual foi exatamente o apoio que você esperava do clube além de declarações públicas de nosso presidente assegurando a certeza em seu profissionalismo, em sua inocência e na total observância do julgamento para buscar a renovação do contrato? Como é pra você ignorar todo o apoio que a torcida te deu nos jogos que você conseguiu fazer antes do segundo julgamento da punição e em todas as suas redes sociais? A relação entre Flamengo e você sempre foi muito mais do que profissional, da nossa parte. Talvez esse tenha sido um dos motivos que tanto nos fez sentir sua ausência. E nós perdemos, Guerrero. Seja justo consigo mesmo, seja justo conosco.
SRN!
Rodrigo Coli
Twitter: @_rodrigocoli
Flamengo, óbvio
Ambos, mas à federação tinha que arcar com todo o prejuízo e transtorno!
Muito boa coluna! Concordo plenamente!! SRN
Melhor coisa que aconteceu, esse pé frio fora é reforço para o Flamengo. Sempre que o fla está em boa fase é pq esse ze ruela esta fora
Muita marra. Pode se adiantar.