Não dá pra dizer que é exatamente uma surpresa. A maior parte de nós conheceu Vinícius Junior exatamente quando começaram as especulações sobre sua saída e o garoto já estava negociado para jogar no time de Cristiano Ronaldo antes mesmo de conseguir cavar uma vaga de titular na equipe de Rodinei. Então, por mais que existisse sempre a esperança de que o garoto ficasse ao menos até o fim do ano, a despedida durante a pausa da Copa do Mundo sempre foi uma possibilidade mais do que real.
Também não podemos dizer que a saída do jogador, que se despedirá praticamente no exato instante em que completar 18 anos, seja algo fora do normal no futebol atual. Vivemos num contexto econômico em que é bem clara a divisão de papéis entre os clubes europeus, que montam grandes equipes comprando os melhores jogadores; os clubes sul-americanos, que tentam montar equipes decentes com promessas que ainda serão vendidas e veteranos que não vingaram; e os clubes árabes/asiáticos que fazem doideiras com dinheiro porque, aparentemente, estão jogando um Elifoot da vida real usando com aquele macete de começar com um bilhão.
E ainda que sirva de algum consolo, o fato de que, com Vinícius Junior, o Flamengo finalmente parou de realizar suas negociações seguindo o padrão “tribo indígena em livro de história” e não vendeu suas maiores riquezas em troca de miçangas, espelhos e vampetas, é fácil ver como o nosso ponta esquerda vai fazer falta nesse time do Flamengo.
Primeiro pelo aspecto técnico. Apesar de jovem e irregular, Vinícius era obviamente um jogador muito acima da média e anos luz à frente dos seus concorrentes imediatos na posição. Dono do drible rápido que deixava um zagueiro no chão, da velocidade que puxava o contra-ataque mortal, ele várias vezes foi a única válvula de escape em partidas complicadas, o único diferencial em tardes pouco inspiradas, a única motivação para se manter acordado durante aquelas noites em que você não sabia se o Flamengo era uma equipe rubro-negra ou um tranquilizante de embalagem vermelha onde a Anvisa havia mandado colocar várias tarjas pretas.
Depois pelo aspecto simbólico. A provável despedida de Vinícius Junior – no mesmo momento em que nos despedimos de Vizeu e se tornam cada vez mais frequentes as especulações sobre a saída de Lucas Paquetá – nos lembra mais uma vez que o papel dos nossos clubes no universo do futebol é formar jogadores, criar meninos talentosos, mas nunca poder acompanhar de perto o auge desses moleques. Irá Vinícius Junior se tornar um novo Messi, um novo Cristiano Ronaldo, ou um novo Keirrison, um outro Kerlon Foquinha? Não dá pra saber, o que dá pra saber é que esse processo vai acontecer longe da Gávea e vamos, no máximo, acompanhar pela televisão, sem que a nossa torcida possa abraçar o garoto de São Gonçalo e sorrir quando ele abrir aquele sorriso imenso de quem está onde gosta, fazendo o que ama.
Porque entendemos, claro, que é como as coisas são e que na realidade do futebol de hoje nós, assim como falam sobre as mães, criamos os garotos não para gente, mas sim para o mundo. Mas se a minha mãe pode me mandar 20 mensagens de Whatsapp por dia e falar pra todo mundo que preferia que eu, com 33 anos, ainda morasse na casa dela, acho que nós temos sim o direito de sonhar com um mundo em que Vinícius Junior nunca precisasse ir embora.
Boa sorte na Espanha, Vinni, seja feliz e, se possível, volte logo. Vamos sentir saudade e saiba, seu quarto segue aqui esperando você. Não vamos deixar o Geuvânio mexer nas suas coisas em hipótese alguma.
Reprodução: João Luis Jr | Blog Isso Aqui é Flamengo
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