Demorou um pouco mais do que demora um miojo. Demorou um pouco menos do que demora um pedido num fast food. Demorou mais ou menos o mesmo tempo que já demoraram alguns momentos da minha ou da sua vida íntima sobre os quais não cabe falar aqui. Mas em sete minutos, com dois gols ainda no começo do primeiro tempo, o Flamengo decidiu a partida contra o Botafogo, abandonando ali a prática do futebol e usando os cerca de 83 minutos restantes para atividades lúdicas variadas, que foram desde brincar de bobinho com o rival até colocar o Pará em campo, passando por, eu imagino, realizar compras online e telefonar para o Marlos Moreno para perguntar se a mãe dele tinha deixado ele ficar acordado até as 19:00 pra ver a partida.
E claro, temos muito a elogiar nessa atuação. Primeiro porque vencemos um clássico, que se tornou ainda mais importante após a derrota vagamente constrangedora de quarta-feira, e garantimos mais uma rodada na liderança do campeonato. Depois porque Matheus Sávio, um jogador que já considerávamos desenganado pela psicologia e pela ortopedia, esteve em campo não apenas sem comprometer como ainda deixou o seu. E também, claro, pelo retorno de Cuellar, que hoje é não apenas o coração e a alma rubro-negra como ainda é um dos poucos jogadores no futebol mundial capaz de realizar a função tática chamada “marcar todo mundo porque o resto do time não parece muito interessado nisso”.
Mas por mais que possa parecer excesso de corneta, por mais que possa parecer exigência demais, existem, é claro, coisas a criticar, mesmo nessa vitória teoricamente tranquila e segura. Primeiro o fato de que ela poderia ter sido ainda mais tranquila e segura.
Diante de um Botafogo tão disposto a atacar quanto uma lagartixa doméstica está disposta a devorar seres humanos, o Flamengo preferiu não matar a partida com um terceiro ou quarto gol, mas sim deixar o jogo de lado, esperar o tempo passar, dando pausas nessa postura apenas para tentar complicar a partida em um ou outro momento aleatório, talvez numa espécie de pegadinha da equipe com Diego Alves.
Depois o fato de que, ainda que claramente o time tenha funcionado melhor do que na partida anterior – muito pelo retorno de Cuellar – o meio de campo e o ataque seguem muito confusos, errando muitos passes, tendo muita dificuldade na armação. Paquetá novamente esteve abaixo da média, Uribe muito disposto mas nada eficiente e Guerrero obviamente dopado de chá, mas sim chá de camomila, já que se encontra praticamente dormindo em campo.
Estamos felizes pela vitória no clássico? Claro. Essenciais os três pontos para se manter na liderança? Com certeza. Mas dada a fragilidade do adversário e o quão próximos estão alguns dos duelos mais importantes que vamos enfrentar na temporada, fica claro que o Flamengo precisa seguir evoluindo, tanto no futebol que joga quanto na sua postura em campo se quiser vencer tudo que tem pela frente nesse segundo semestre. Porque afinal, nem todo time vai ser o Botafogo e nem toda noite vamos presenciar o milagre que é um gol do Matheus Sávio.
Reprodução: João Luis Jr | ESPN
Podia ser 5X0 …ou mais. Mas não quiseram