A chegada de Paolo Guerrero, em 2015, representou, de certa forma, um momento muito específico para a trajetória recente do Flamengo: a hora em que deixamos de ser o clube que perde jogadores por não pagar salários e nos tornamos o clube que tira jogadores dos clubes que não pagam salário. A chegada do atacante, responsável pelo gol que deu um título mundial ao Corinthians, foi um dos marcos de uma nova fase em que o rubro-negro da Gávea deixou de ser um clube famoso por contas vencidas e atletas que fingiam jogar porque fingiam ser pagos e se tornou a equipe mais conhecida pelo sucesso financeiro e as recentes negociações envolvendo grandes valores, tanto nas compras quanto nas vendas.
E de 2015 até agora muita coisa aconteceu na relação entre Flamengo e Guerrero. Amamos Paolo por sua raça e por seus gols, mas ao mesmo tempo odiamos Guerrero por suas oportunidades perdidas e seu temperamento explosivo. Fomos solidários com o peruano durante sua exagerada suspensão por doping, não fomos tão solidários assim diante de suas ausências em momentos chave, seja por lesão, servindo à seleção, ou mesmo durante essa mesma suspensão, quando pensamos que por conta de um chá perdemos um dos nossos principais jogadores quando mais precisamos dele.
Mas da mesma maneira que Guerrero, quando chegou em 2015, se tornou símbolo de um Flamengo que ousava investir mais pesado, adotar outra postura na gestão e no mercado, em suma, sonhar mais alto, ele hoje, em 2018, é talvez o símbolo maior de como esse sonho chegou num ponto em que precisa ser reformulado se quisermos mesmo que ele se torne real.
Não é que Guerrero seja um jogador ruim, claro. O peruano tem méritos, qualidades, e não foi à toa que se tornou ídolo em seu país e chegou até um clube da dimensão do Flamengo. Guerrero é um jogador aguerrido, corajoso e técnico, que atua em toda partida como se sua vida dependesse disso e não tem medo de zagueiro ou defesa nenhuma. Mas, ao mesmo tempo, e talvez isso seja o que mais importa para o Flamengo hoje, Guerrero, aos 34 anos, é um centroavante pouco afeito aos gols, com um contrato para vencer, cuja renovação possivelmente vai custar uma fortuna e que, em três anos de clube, tem como conquista apenas um título estadual.
Em um ataque com o recém-chegado Uribe querendo mostrar serviço, o jovem Lincoln pedindo passagem e até mesmo Henrique Dourado em busca de reabilitação, é complicado encontrar espaço para Guerrero, ainda mais com um salário astronômico e exibições recentes bem abaixo de justificar um aumento ou mesmo uma manutenção de salário. Os possíveis 900 mil reais do salário de Guerrero não seriam melhor investidos em 2 laterais de 450 mil cada um? Sua posição no elenco não pode ser ocupada, com a mesma qualidade, por um atleta mais jovem e mais barato?
E exatamente por isso fica cada dia mais claro que é hora, talvez, de deixar Guerrero partir. Não com nenhum tipo de hostilidade ou rancor, já que Paolo sempre atuou pelo Flamengo com dignidade e coragem, sempre vestiu o manto-sagrado com o respeito que essas cores merecem, sempre ofereceu tudo que era possível oferecer, dentro de suas capacidades. Mas com a frieza de um clube que precisa tomar decisões baseadas nas necessidades técnicas da equipe, que precisa analisar o custo-benefício de cada um de seus movimentos, que percebeu que se os últimos anos puderam ser vistos como uma era de reestruturação do futebol, agora é a hora de vencer e talvez ele não seja mais o nome adequado para esse projeto.
Paolo é um grande jogador e teve uma passagem pelo Flamengo que com certeza foi marcante para ele, para o clube e para nós torcedores. Mas parece ter sim chegado o momento em que Guerrero deve chegar em algum outro clube e o nível de caô cresceu tanto que o Flamengo vai precisar de outra pessoa para acabar com ele.
Reprodução: João Luis Jr | ESPN
Excelente texto. Falou bem dos pontos positivos e negativos, expôs a importância da sua contratação como um novo cartão de visitas do CRF e se despediu agradecendo e desejando sucesso pra onde for.
Quero ainda acreditar que isso tudo que se fala na imprensa venha de quem cuida da carreira do jogador, e, não do próprio! A contratação realmente foi importantíssima para atrair olhares, para mostrar o quanto o Flamengo é grande! Ele deveria sair pela porta que entrou, mas com tantas notícias negativas, até suas recentes entrevistas, faz com que a torcida o queira fora! É uma pena, acredito que teria sim importância para o Flamengo! Mas não com altos valores pedidos ou ressarcimento como vem falando os veículos de comunicação!
Guerrero tem q ficar no Flamengo