Para aqueles que se alegram em ver os outros falhar ou sofrer, lamento por você. Seja o que estiver acontecendo em sua vida para manter essa raiva e esse ódio, rezo para que isso passe e as coisas boas cheguem até você.”
O desabafo acima é de Loris Karius, goleiro do Liverpool. Publicado no Instagram no domingo (22), foi uma resposta a quase dois meses de excessiva exposição por parte de torcedores e imprensa, entre piadas, xingamentos e até ameaça de morte, desde que falhou em dois gols do Real Madrid na final da Liga dos Campeões. O alemão de 25 anos voltou a ser alvo de comentários raivosos por erros cometidos durante a pré-temporada do time inglês, o último deles na derrota por 3 a 1 para o Borussia Dortmund, em amistoso nos Estados Unidos.
Após novos ataques, ele ganhou o apoio público de companheiros, como o egípcio Mohamed Salah. “Fique forte, Karius. Acontece com os melhores jogadores. Ignore quem o odeia“, aconselhou o atacante do Liverpool. “Deixem o garoto em paz“, esbravejou no Twitter o espanhol Iker Casillas, goleiro do Porto e ídolo do Real Madrid.
Stay strong Karius, it has happened to the best of players. Ignore those who hate.@LorisKarius
— Mohamed Salah (@MoSalah) July 23, 2018
Nos comentários jocosos das redes sociais, Karius virou a versão europeia de Alex Muralha. Convocado à seleção brasileira por Tite em 2016, o ex-goleiro do Flamengo viu a carreira declinar após seguidas falhas. Pelo Albirex Niigata, do Japão, os vacilos voltaram a aparecer e viraram notícia, como no último sábado, em que tomou um gol bizarro após escorregão na cobrança de tiro de meta.
Para Muralha, refugiar-se na Ásia foi uma forma de recuperar a confiança e seguir com a carreira bem longe das cornetas. Para Karius, a pressão pode levar ao fim da linha sua passagem pelo Liverpool, que gastou 72 milhões de euros (R$ 323,3 milhões) para contratar o brasileiro Alisson, o goleiro mais caro da história do futebol. Ainda que desperte o interesse de outros clubes, o alemão virou aposta de risco, desvalorizado no mercado por sucessivos lances infelizes.
As falhas são fatos, e ser cobrado por elas é o ônus de um jogador de futebol. Mas a repercussão entre crítica e público tem ganhado peso extra, desproporcional até, estimulada pelas redes sociais e pela impulsividade que a paixão por um clube provoca nesses casos. A situação levou o UOL Esporte a um questionamento: os excessos cometidos nessas manifestações podem impactar na carreira de um goleiro que vive má fase? A conclusão é que sim. E que estimular a propagação de rótulos não contribui para que o atleta dê a volta por cima.
Consequência da falha é determinante no peso da crítica
Uma coisa é vacilar em jogo de pré-temporada, a outra é falhar em jogos importantes. Além disso, pesa muito o desdobramento que esse lance gera no resultado da partida. Capitão da França na Copa da Rússia, o goleiro Hugo Lloris tentou sair jogando e largou a bola no pé do atacante croata Mandzukic, um dos erros mais bisonhos da história dos Mundiais. Mas, com o apito final e o placar favorável de 4 a 2, ele ficará eternizado por levantar a taça de campeão. Karius não teve a mesma sorte.
“Se aquele gol fosse o da derrota, ele (Lloris) estaria morto“, destaca o treinador Valdir Espinosa, campeão mundial com o Grêmio em 1983.
“Todo goleiro erra. Existem os níveis de erros, as ocasiões e o momento. São fatores determinantes. Karius vinha de boas atuações, mas acabou falhando praticamente no principal jogo do futebol mundial, tirando a Copa do Mundo. Com Muralha já foi diferente. Ele errou em alguns jogos, não tão importantes entre aspas, não em jogo decisivo, mas ele teve seguidos erros“, completa Bruno Cardoso, ex-goleiro de Palmeiras, Portuguesa e Santa Cruz.
Tem goleiro que erra até sem falhar
Ou que ambos são goleiros fracos que possuem deficiência técnica e permanecerão falhando em qualquer clube que joguem.