Fabricio Chicca: “Maracanã pode ser nosso, mas será sempre um estádio neutro”

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FOTO: REPRODUÇÃO

O exercício libertador do respeito à opinião alheia é fantástico, mas a confusão entre opinião e fato tem efeito diametralmente oposto. Claro, mesmo diante do fato qualquer pessoa tem o direito de ter uma opinião diferente do fato, mas o fato permanece. O fato é: o Maracanã se tornou um estádio neutro. O leitor pode ter todas as razões do mundo para querer ter o Maracanã como estádio do Flamengo, mas, mesmo com todas as alterações necessárias, ainda assim será um estádio que contribuirá pouco para o time da casa.

Escrevi uma mão cheia de artigos para o Coluna do Flamengo falando a respeito de estádios. A TV Coluna do Flamengo também produziu uma série de vídeos (atualmente com mais de 300 mil visualizações, a respeito de estádios, vale a pena conferir, o link está aqui.)

Há algumas razões para que isso tenha acontecido. As reformas para a Copa do Mundo modificaram dramaticamente a configuração do estádio. Hoje, sob uma inclinação única, sem sobreposição de cadeiras e arquibancadas, o torcedor fica mais afastado do campo, ou, quando fica na mesma distância, fica em altura menos elevada. Essa configuração valoriza o que arquitetos especialistas entendem como “C value” ou em português fator C. O fator C é um índice de conforto e visualização, uma relação distância, ângulo de visão, e localização do espectador a frente (ou explicando de forma mais fácil, se tem ou não uma cabeça na sua frente). Esse fator C é um elemento fundamenta da cartilha da FIFA/UEFA para construção de estádios. E aí que mora o perigo. O Brasil teve que adaptar ou construir estádio do famigerado: padrão FIFA. Lembram disso: padrão FIFA… Na época até comoção nas ruas houve. Os estádios estavam sendo desenhados para um padrão internacional e que muitas vezes não se relacionavam com o nosso jeito de torcer. Claro que se valorize o conforto e as alterações necessárias para melhorar a vida do torcedor, a necessidade de se urinar em banheiros de mármore é desprezível. Mas a questão do manual FIFA/UEFA não é o tal do conforto, é o tal do espetáculo. Esse manual, disponibilizado na internet, confirma o que já identificamos: os estádios que seguem o padrão FIFA são desenhados para o espetáculo, e não para privilegiar o time da casa. Dos estádios feitos para a copa de 2014, apenas um claramente favorece o time da casa, os demais são sim estádios para neutralizar o time da casa e servir apenas para o espetáculo.

Há duas maneiras de definir se o estádio favorece ou não o time da casa. A primeira, uma pesquisa chamada qualitativa, é perguntar aos jogadores adversários qual é estádio mais difícil de se jogar contra. Outra, quantitativa, é medir por exemplo, os decibéis e a frequência do som que chega ao gramado e atingi os jogadores no campo. A intenção é que o resultado da combinação do barulho da torcida com o desenho do estádio gere um ruído alto e de baixa frequência (o famoso BASS aquele efeito que sentimos quando passamos, por exemplo, perto da bateria do Salgueiro). Os jogadores da casa, pelo hábito, se acostumam e tiram proveito desse efeito.

No Maracanã, esse efeito já não existe mais. O novo desenho do estádio contribui para dispersão do som, e a nova cobertura, apesar de maior, com o seu desenho serve para absorver o som, ao invés de refletir, talvez tivesse sido melhor nem ter cobertura alguma (para a questão acústica).

Eu fui criado na velha arquibancada de concreto do Mário Filho. Vi jogos épicos como 3 a 2 contra o Galo, em 1981, ou o massacre histórico de 3 a 0 contra o Santos, em 1983. Guardo pelo antigo Maracanã um sentimento que não se apaga, que não se move, indelével. Mas esse estádio não existe mais. Voltei com alegria ao estádio na derrota de 2 a 1 contra o Atlético Paranaense, em uma festa da torcida, para a torcida, e com tristeza vi o que a minha pesquisa acadêmica já vinha mostrado. O Maracanã morreu, sua alma, a torcida do Flamengo ainda mantém o charme do estádio, mas o verdadeiro Mário morreu para a copa de 2014. Sim, ainda guardo o meu luto.

Como qualquer outro, o presidente Landim tem todo o direito de querer ficar no Maracanã, essa é a opinião dele, mas o fato permanece, o Maracanã é um estádio neutro. A maior torcida do país tem o direito de ter um estádio que trabalhe para dar ênfase a ela mesma, ao invés de trabalhar para diminuí-la como faz o Maracanã. LANDIM, QUEREMOS ESTÁDIO, não sente sobre a sua própria certeza, consulte especialisatas, estude, o achismo nesse caso será perda de uma oportunidade.

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  • Será que não seria possível se colocar mais uma camada de lonas distendidas abaixo da atual, feita de um material mais leve para não sobrecarregar a estrutura e que viesse a refletir o som da torcida para dentro do campo? Essa camada teria que deixar a cobertura mais plana e seria ligada a partir dos vértices do triangulo que compõe a menbrana atual. Sei que tudo também depende da angulação da cobertura e talvez o som não pudesse ser jogado para dentro do campo por isso, mas pelo menos manteria o som no estádio em vez do anular a frequencia como faz essa cobertura atual. Também com a retirada das cadeiras atrás dos gols e o consequente incremento da massa de torcedores o ambiete pode ficar melhor. Ainda sonho também com a volta de uma geral nova atras dos gols. Essa nova geral não contornaria o campo todo, ficaria apenas atrás dos gols. Teria que se fazer uma modificação no maracanã aproximando ainda mais a torcida, o pessoal ficaria como na antiga geral, com pontos até abaixo do nível do campo, seria naquela meia lua onde ficam os jornalistas atras dos gols. Claro, respeitando um curto espaço para os jornalistas trabalharem e logo depois o inicio da geral, que poderia inclusive invadir uma pequena parte da aquibancada atual. Então teríamos uma geral reformulada, acima dela, o espaço onde fica a Raça Rubro Negra e as demais torcidas, espaço esse também sem cadeiras, isso atras de ambos os gols. E o restante do estádio se manteria como está. Teríamos um estádio então bem licalizado e com mais de 100 mil lugares. Por favor comenta sobre a viabilidade dessas idéias. Se possível aguardo até uma nova postagem sua sobre isso e também sobre outras idéias que surgirem.

  • Concordo com o seu texto. Porém o Maracanã tem a melhor localização, e ainda tem o problema de o Flamengo ter dificuldades políticas de construir seu proprio estádio por parte dos governantes. Sendo assim, vamos pensar em soluções para esses problemas que você apresentou.

  • Olá Fabrício

  • Rapaz coloque o maracanã para 100 mil pessoas sem as cadeiras e depois construa a arquibancada na Gavea para 30.000 lugares, tem vários projetos com o estadio da Gávea todo vermelho e preto, sai muito mais barato e vamos ser campeão.

  • mas o barulho não e a unica forma de amedrontar o adversário dentro do campo, e da sim pra melhorar algumas dessas questões, com reformas, claro não vai ser a mesma coisa mas vai ajudar bastante

  • Caso eu fosse o Presidente do Flamengo eu faria o nosso estádio no mesmo formato do Maracanã antigo, do jeito que estava em 2009, apenas um pouco menor e mais moderno, com a tradicional marquise, acho que seria uma grande sacada e ainda colocaria além dos telões o placar eletrônico retrô dos anos 80.

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