Fábio Monken: “O futebol e a muleta estatística”

Atualmente temos visto uma turba de especialistas em estatísticas vociferando aos quatro cantos suas justificativas, para o bem ou para o mal, das análises sobre os números desse ou daquele jogador.

Isso é uma temeridade, diria que beira a uma profanação bizarra do futebol quando utilizamos os números como o ponto fundamental da análise sobre o rendimento e, principalmente, sobre a qualidade ou ainda a importância de um ou outro jogador para seu clube.

A mídia esportiva “modernosa” vem cada vez mais se baseando nessas estatísticas infames para justificar escalações e até mesmo comparar um jogador a outro. Isso beira a insanidade. É a muleta dos maus entendedores do antigo esporte bretão.

Qualquer pessoa com mínima noção sobre tática ou ainda sobre a arte do futebol sabe que as análises mais inteligentes são, fundamentalmente, subjetivas. Dito isso, nos basearmos única e exclusivamente em números para discutirmos qualquer questão é um tremendo disparate.

A coisa está tomando um rumo inimaginável ultimamente. Para exemplificar o que digo, darei dois exemplos pontuais: Modrić como o melhor do mundo e Renê como o melhor lateral esquerdo do campeonato brasileiro, ambos casos da temporada passada.

Considero um absurdo completo que esses prêmios tenham sido concedidos aos dois “limitados” atletas. Reconheço suas importâncias às suas equipes, mas acho inimaginável um lateral esquerdo fraco como Renê ter ganhado o prêmio de melhor jogador da posição na temporada.

Sabem porque ele ganhou? Pelos números, pelas estatísticas e pela média ponderada de um determinado número de jogos. Simples assim. Não houve nada além disso, nenhuma outra análise foi feita. E afirmo aqui, categoricamente que isso é uma falácia! Um absurdo completo!

O outro exemplo, digno de pena, Modrić. Não nego que seja um excelente jogador. Isso é fato, suas atuações corroboram com minha opinião, mas como justificar que um volante (disfarçado de meia) que nada cria e não é capaz de ganhar “sozinho” um jogo para seu clube possa concorrer e (pasmem) ganhar a disputa pelo prêmio de melhor jogador do mundo ao ser comparado diretamente a verdadeiros alienígenas como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi?

Esse prêmio europeu já está virando piada. Assim como o Oscar, já não é referência nem unanimidade esportiva pelo simples motivo da falta de credibilidade. O futebol mundial está contaminado pelas estatísticas, é uma epidemia! Fico me perguntando como o Salah não entrou na lista dos três melhores? Como conseguiram colocar um jogador de marcação nessa lista e ainda premiá-lo como o melhor com os outros três citados disputando veladamente qual deles decidia mais jogos?

Mas isso será cada vez mais recorrente, pois estão “gourmetizando” nosso jogo inflando-o de estatísticas e números para basear suas justificativas absurdas e comparações esdrúxulas e injustificadas. Estão alçando o “soccer” ao futebol americano e isso é muito temeroso. Os dois esportes são essencialmente distintos e forma e teor.

Fico me perguntando o que seria de Garrincha nos dias de hoje. Tenho a certeza de que ele não passaria em nenhuma peneira devido às suas pernas serem tortas daquele jeito. Nem dariam chance ao moleque. Ele e outros tantos não teriam vez nesse mundo numeral robótico contemporâneo.

Ressalto aqui que respeito muito os apontamentos estatísticos. Os números são importantíssimos para auxiliar-nos nas análises. Repito: auxiliar! Não podemos nos basear exclusivamente neles e usá-los como verdadeiras muletas para justificarmos essa ou aquela escalação.

Os números são categóricos, única e exclusivamente, quando vêm do departamento médico no sentido de utilizarmos ou não um jogador para não o lesionarmos. Isso deve ser fielmente obedecido, pois é ciência pura e não apenas apontamentos estatísticos. Seria leviano negligenciamos esses números fundamentais do departamento de fisiologia. Esses, sim, são categóricos.

Enfim, para concluir quero deixar aqui registrada a minha indignação com a “estatisticalização” exagerada do futebol. Isso faz com que fiquemos de antolhos para nossa capacidade cognitiva e nosso “feeling” tão importantes nas análises de jogadores, técnicos e do futebol como um todo.

Acredito que também esse seja um dos motivos pelo qual o futebol brasileiro está ficando pra trás, retroagindo em relação ao praticado nos outros cantos do mundo, inclusive na América do Sul, onde éramos exemplo de excelência.

Como diria o grandioso Albert Einstein:

– “Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que se conta pode ser contado.”

Tenhamos essa frase em mente e que comecemos a nos basear muito mais em nossa capacidade cognitiva e filosófica do que em estatísticas para nos basearmos nas escolhas esportivas e, inclusive, cotidianas.

Ainda acredito na capacidade da humanidade. O ser humano ainda é capaz de pensar e realizar escolhas baseadas apenas em seus sentimentos e percepções, amadurecidas ao longo da vida com um todo. Quanto aos números, são auxiliares, apenas um “plus” para confirmarmos nossas escolhas. Mas continuarão sendo apenas números. Ponto pacífico. Vai pra cima deles Mengo!!!

O Flamengo simplesmente é!

Saudações rubro-negras a todos!

Fabio Monken

Twitter: @fabio_monken

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A intolerância e a falta de argumentos são combustíveis para o fracasso!

Fábio Monken

Ver comentários

  • Excelente texto!!
    Um dos melhores que li em muito tempo. Parabéns pela análise!

  • Viva a democracia! Viva a liberdade de expressão!
    Ratificado o direito do autor de exprimir suas opiniões, espero não ser rude, mas o texto expressa apenas uma visão atrasada do esporte. Claro que futebol tem subjetividade e intuição, mas negar a estatística é ser apenas anti-científico e retrógrado.
    O filme Moneyball mostra como a estatística renovou a prática do beisebol. Os românticos dirão que isso é trair a natureza do esporte. Mas ainda é um esporte, é competição, e quanto mais recursos você dispõe, maiores as suas chances de vencer.

    • Concordo com vc Giliard. Negar a estatística é andar para trás. Largar os dados estatísticos de lado é um retrocesso que leva a avaliações subjetivas que podem ser as mais variadas e bizarras possiveis. É uma exposição ao viés da preferência pessoal sem ter um fundamento palpável.

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