Por: Tulio Rodrigues | Blog Ser Flamengo
Mesmo com mais torcedores entre os pretos, pardos e mais pobres, Flamengo foi a ponta de lança da elitização e do afastamento desse público dos seus jogos. A política de privatização do Maracanã também ajudou a deixar de fora quem sempre foi a cara e a essência do futebol, o torcedor mais humilde.
Na pesquisa divulgada em setembro de 2019 pelo Instituto Datafolha, o clube da Gávea lidera com mais torcida no país: 20%, seguido do Corinthians, com 14%. Nos recortes de cor e renda familiar, o rubro-negro também lidera: 23% a 14% entre pardos e 24% a 11% entre pretos. Para quem ganha entre 2 a 5 salários mínimos, o Fla tem 19% contra 15% do time paulista.
Na pesquisa divulgada em setembro de 2019 pelo Instituto Datafolha, o clube da Gávea lidera com mais torcida no país e também entre os pretos, pardos e pobres.
Essa representatividade nos números da pesquisa não é vista na arquibancada. Com a elitização do futebol e dos estádios nos últimos anos, o torcedor de baixa renda ficou impedido de torcer pelo seu time no campo. O Maracanã serve de grande exemplo.
Inaugurado em 1950 para a Copa do Mundo no Brasil e com capacidade para mais de 150 mil pessoas, o estádio foi encolhendo ao longo dos anos. Os setores populares foram dando lugar para camarotes e áreas Premium. Com as reformas nos anos 2000, o Governo do Estádo acabou com o setor da Geral, lugar que abrigava os torcedores mais humildes e folclóricos, geralmente oriundos do subúrbio do Rio. A última reforma começou em 2010 para a Copa do Mundo de 2014. Hoje a capacidade é de 78 mil pessoas.
Em depoimento ao documentário “Geraldinos” de Pedro Asberg e Renato Martins, o agora Deputado Federal Marcelo Freixo traça esse paralelo do frequentador da Geral com o Novo Maracanã: “O Geraldino não serve ao Novo Maracanã. Ele não é desejado no Novo Maracanã. O lugar dele é no pay per view, no subúrbio, perto da casa dele, longe da cidade espetáculo que o Rio de Janeiro se apresenta nos grandes eventos“.
Em 2013, a gestão do Flamengo chegou a cobrar R$ 250 no ingresso mais barato na final da Copa do Brasil contra o Atlético-PR. O valor representava quase 40% do salário mínimo da época: R$ 678,00. Nos anos seguintes, não era anormal cobrar ingressos ao valor de R$ 100 dependendo do jogo ou do campeonato. Para pagar mais barato, tem que ser sócio-torcedor. O plano com menor prioridade não sai por menos de R$ 50.
Aí começou um novo comportamento na torcida do Flamengo. Os torcedores de classe média e alta passaram a querer estar no meio do povão, no meio da festa das organizadas. Com ‘Prioridade 1’ nos planos mais caros do sócio-torcedor, esse “cliente” mais abastado esgota os setores mais baratos, deixando os mais humildes com as opções mais caras de compra como observou em entrevista, Marcelo Frazão, diretor de novos negócios do Fla em 2017:
“Acontece um paradoxo curioso no Flamengo. O Sócio Torcedor que em tese tem uma renda mais estável, corre para o Setor Norte que é um setor popular porque tem essa cultura do Rio de mistura, de querer estar próximo do povo, da festa… Mas ele ocupa mais o espaço desse povo que ele queria estar misturado. É um equilíbrio difícil de preço e ocupação“.
A expectativa é que o projeto de se retirar as cadeiras de trás dos gols do Maracanã ocorra para que os Geraldinos voltem a ter um lugar popular para chamar de seu.