Adversário do Flamengo nesta quarta-feira (24), o Bolívar (BOL) só tem a Libertadores para disputar no semestre. Afinal, a equipe foi eliminada pelo San Antonio Bulo Bulo (BOL) nas quartas de final do Campeonato Boliviano. O resultado foi considerado uma surpresa no país, já que o time que avançou é recém-promovido para a primeira divisão. A reportagem do Coluna do Fla conversou com o técnico da ‘zebra’, o brasileiro Thiago Leitão, que fez um raio-x de como joga a equipe de La Paz, dando algumas dicas para Tite.
Atuando em casa, o Bulo Bulo venceu por 1 a 0, no dia 14 de abril. Já na última quinta-feira (18), a equipe do brasileiro Thiago Leitão empatou em 1 a 1 no Estádio Hernando Siles, onde o Flamengo irá atuar, na altitude de 3.640 metros. O treinador revelou a tática usada para segurar o Bolívar, um dos maiores clubes da Bolívia.
— Quando jogamos contra o Bolívar, nós utilizamos a última linha de cinco defensores. Nós trazíamos um volante de contenção entre os dois zagueiros para poder abrir os nossos laterais e tirar essa amplitude. Mas, quando nós recuperávamos a bola, a gente buscava jogar, atacar esses espaços que o Bolívar deixa, principalmente atrás, com os defensores que são lentos. Então, a gente aproveitou esses espaços e conseguimos pressionar também alto — disse Thiago, ao Coluna do Fla, que também destacou os pontos fortes do Bolívar.
— O Bolívar tem jogadores muito habilidosos, principalmente do meio campo para frente. Eu destaco o volante de contenção, o Justiniano, que é quem inicia todas as ações ofensivas, a bola sempre passa por ele. Depois eles têm dois meias, que é o Ramiro Vaca, que é um dos melhores jogadores do país, e o Fernando Saucedo. Eles jogam no esquema 4-3-3 na fase ofensiva. Pelo lado esquerdo eles têm o Patito Rodrigues, que é um jogador, para mim, o mais perigoso do time. Ele jogou com o Neymar no Santos. Sempre busca trazer a bola para dentro pra poder encontrar o Francisco da Costa, jogador perigoso. Também tem outro brasileiro que é o Sávio — acrescentou.
Além disso, Thiago Leitão contou outros pontos fortes e fracos do Bolívar, tratou a questão da altitude como “psicológica” e não recomenda que Tite escale do Flamengo na retranca para o jogo desta quarta-feira (24). Por fim, o brasileiro contou um pouco da história pessoal e o desejo de retornar ao Brasil um dia. Veja, na íntegra, a entrevista.
“Bom, o treinador (Flavio) Robatto é um gosta muito do jogo associado, de jogar sempre com a bola por baixo, pé em pé, buscando essas conexões, passes entre linhas. O Bolívar tem jogadores muito habilidosos, principalmente do meio campo para frente. Eu destaco o volante de contenção, o Justiniano, que é quem inicia todas as ações ofensivas, a bola sempre passa por ele. Depois eles têm dois volantes, que são os interiores, os volantes ofensivos, que é o Ramiro Vaca, que é um dos melhores jogadores do país, e também tem o Fernando Saucedo.
Depois desses três jogadores, vem os três jogadores atacantes, que eles jogam no esquema 4-3-3 na fase ofensiva. Atacam com três jogadores, que pelo lado esquerdo eles têm o Patito Rodrigues, que é um jogador, pra mim, o mais perigoso do time. Ele jogou com o Neymar no Santos. É um jogador muito habilidoso, muito rápido. Ele sempre busca trazer a bola para dentro pra poder encontrar o Francisco da Costa, que é um nove de área, que é um jogador perigoso. Ele define muito bem, principalmente em jogada aérea, o Chico da Costa. E com o Patito, eles buscam essa associação. O Patito sempre chega na linha de fundo. Quando ele não vai para dentro, ele encara.
Na linha de fundo e faz esse passe para o Chico da Costa. Também tem outro brasileiro de boas condições que é o Sávio. É um jogador mais técnico, um jogador que pensa muito, um jogador que tem um bom passe. Então, o Bolívar é um time perigoso, com a bola no pé. Agora, sem a bola, eles deixam muitos espaços. Como eles gostam de atacar, depende muito da ideia do professor Tite.
Quando recuperar essa bola, eles vão ter muitos espaços, principalmente nas costas dos laterais, que os laterais procuram atacar muito. Em determinado momento, os dois laterais atacam ao mesmo tempo. E eles fazem um movimento tático interessante, que os laterais sempre iniciam as ações ofensivas por dentro, buscando essa vantagem numérica na metade do campo. Para poder abrir os externos, esses corredores externos tanto para o Patito como para quem estiver do lado direito, pode ser o Algarañaz, pode ser o próprio Sávio, ou também eles têm outro jogador Vaca, Henry Vaca, muito habilidoso também, então eles deixam os laterais por dentro para abrir esse espaço para que os extremos possam receber mano a mano com os laterais e em velocidade encarar e chegar na linha de fundo.
Por isso eu digo, quando recuperam a bola, o time do Flamengo, eles podem aproveitar esse ataque rápido, buscando a velocidade, buscando esse ataque pelos lados que vão encontrar muitos, muitos espaços. Na bola parada também, o Flamengo pode aproveitar, tem que aproveitar essa ação de bola parada porque na altura é difícil ter muitas oportunidades de gol. Geralmente, os times que não são da altitude ficam em bloco baixo e é muito difícil chegar no gol rival. Então, tem que aproveitar as bolas paradas e com convicção. O Flamengo é amplamente superior. Agora, tem que correr. Se não correr, a altura cobra caro. O Bolívar vai marcar alto e, se o professor Tite tem que saber saltar linha com o goleiro, encontrar um homem livre mais à frente e sair dessa pressão para que o Bolívar não possa recuperar essa bola mais perto do gol adversário. O Flamengo tem que fazer um jogo inteligente. Em La Paz, fiz uma linha de cinco para tirar a amplitude e profundidade do Bolívar. Além de uma linha de quatro, para filtrar os passes. Eles não tiveram conexão, se equivocaram muito, e essa foi uma virtude nossa. Não sei se o Professor Tite pode tirar alguma lição disso”.
“Sem dúvida, a nossa classificação contra um rival da altura do Bolívar, o Bolívar hoje é um time muito respeitado em toda a América do Sul. O Bolívar é um time que cresceu muito com a ajuda, com a injeção econômica do Marcelo Claure, um multimilionário, e ele colocou dinheiro, construiu um centro de treinamento muito, muito avançado, com cinco, seis campos, são bem cuidados, com uma infraestrutura tremenda, paga muito bem aos seus jogadores, tem jogadores no Bolívar que recebem 50, 60, 70 mil dólares, salários de Série A no Brasil.
Então, é um clube que é muito forte, mas no futebol a gente sabe que dentro do campo quem não corre, quem não se entrega fica para trás. Então, sim, eles foram muito pressionados por essa eliminação contra um time que subiu o ano passado, nosso time subiu o ano passado. Estamos fazendo uma campanha maravilhosa. Ontem (terça), nós ganhamos no primeiro jogo da semifinal, ganhamos de 6 a 1 e agora a gente joga com essa vantagem o jogo de volta para poder classificar a final. Isso já nos dá o direito de ter uma vaga ou na Copa Sul-Americana, saindo vice-campeão, ou na Copa Libertadores, fase de grupo, saindo campeão, que é um valor econômico.
Para a Bolívia é muito importante, que são os 3 milhões de dólares, mais contratos de patrocínio, mais vendas de entradas e tudo isso. Então nós estamos nessa briga para poder sair campeões, para poder ratificar o bom trabalho nosso e acompanhando. Também os times brasileiros na Copa Libertadores e agora o Flamengo vindo jogar na altura”.
“Acho que só ficar na retranca não dá resultado. Nós, quando jogamos contra o Bolívar, nós utilizamos essa última linha de cinco defensores. Nós trazíamos um volante de contenção entre os dois zagueiros para poder abrir os nossos laterais e tirar essa amplitude. Mas, quando nós recuperávamos a bola, a gente buscava jogar, atacar esses espaços que o Bolívar deixa, principalmente atrás, com os defensores que são lentos.
Então, a gente aproveitou esses espaços e conseguimos pressionar também alto. Quando o Bolívar tinha um tiro de meta, nós adiantamos linhas, pressionamos alto, tiramos todo tipo de conexões que eles tinham na saída de bola. Isso prejudicou muito o funcionamento do Bolívar. E aí aproveitamos, fizemos 1 a 0 lá em La Paz, estávamos ganhando 1 a 0, conseguimos manter esse 1 a 0 por mais de 90 minutos, eles fizeram, eles nos empataram no tempo adicional, então conseguimos o empate, conseguimos a classificação e eu acho que o Flamengo agora com os jogadores que tem, assim mesmo jogando com jogadores que não são considerados titulares, eu acho que o Flamengo tem que ir para cima, tem que buscar o resultado porque é amplamente superior ao Bolívar”.
“Temos uma certa vantagem porque nós treinamos aqui em Cochabamba. Nossos jogadores moram aqui em Cochabamba, nós treinamos aqui, aqui nós temos 2.500 metros de altura, não é igual aos 3.600 de La Paz, mas nós estamos preparados para jogar na altura, também muito bem preparados fisicamente, então nós não sentimos muito altura. Eu acho que o problema da altura é muito psicológico.
O jogador, se estiver bem preparado, se estiver passando por um bom momento, nós temos vários exemplos das seleções que vêm aqui jogar contra a Bolívia e saem com resultados positivos, de clubes também, então eu acho que a questão é mais psicológica, é de saber o momento certo para contra-atacar, manter muito a posse de bola e depois a qualidade técnica dos jogadores brasileiros são amplamente superiores, então eu acho que em qualquer momento o Flamengo pode aproveitar esses espaços e pode fazer os gols para sair daqui de La Paz como vitória”.
“Altitude você tem que estar preparado. O atleta hoje em dia tem uma preparação muito melhor do que na minha própria época. Estamos falando de 2003, são 20 anos, mais de 20 anos e a preparação física teve uma evolução muito grande. Então hoje eu acho que os atletas não sentem muito altura. Podem sentir alguns efeitos como dor de cabeça, como enjoo, mas eu acho que dentro do campo, na parte física, o metabolismo dos jogadores, essa preparação faz com que não sintam muito esses efeitos. E com isso a gente vê resultados positivos de times aqui jogando na Bolívia, jogando no Peru, jogando em outras. Como no Chile também, em outros países com altura, e conseguindo bons resultados. Então, eu acho também que a condição técnica dos times brasileiros e argentinos sempre prevalece, essa altura já passou muito tempo, esse mito agora é algo que já não é tão de se temer, tem que vir jogar, tem que jogar de igual para igual e tem que buscar o resultado, não tem outra”.
“Então, a nossa meta, a minha meta como treinador do San Antonio é poder conseguir que o nosso time cresça. É óbvio que nós estamos já em uma semifinal com muitas possibilidades de poder chegar à final. No primeiro jogo da semifinal nós ganhamos de 6 a 1 jogando em casa, então nós temos uma certa vantagem para jogar fora. Domingo nós jogamos, domingo às 6 da tarde nós jogamos lá em Sucre, na capital da Bolívia e vamos tentar chegar na final. Queremos sair campeões, saindo campeões nós temos já classificado a fase de grupos da Copa Libertadores e saindo vice campeões nós classificamos a Copa Sul-Americana também.
É um objetivo que nós tínhamos traçado já desde a pré-temporada. E não pensávamos já nesse primeiro campeonato, porque aqui na Bolívia se joga dois campeonatos. O primeiro é através de grupos, depois se joga quartos de final, semifinal, final. E o segundo campeonato é um todos contra todos, são 30 rodadas, são 16 clubes. Então nós não pensávamos já nesse primeiro campeonato chegar nessas instâncias finais, mas nós estamos preparados e vamos em busca desse título. Eu acho que nós temos um bom time, temos um time que joga um futebol muito alegre, nós temos um time que ataca muito, nós temos um time que pressiona para recuperar essa bola o mais rápido possível, para voltar a atacar.
Então nós temos uma defesa muito sólida também. E um goleiro, um goleiro com vinte e um anos, um goleiro que sabe jogar com os pés, sabe também defender muito bem, principalmente pênaltis, é um goleiro muito ágil, então nós temos em todas as linhas, nós estamos bem com jogadores jovens, jogadores que estão demonstrando o nível necessário para poder estar onde a gente está hoje”.
“Sou de Campinas, eu me formei, joguei muita bola na Ponte Preta desde moleque, desde os meus 10 anos, me tornei profissional na Ponte Preta, no grande time que nós tínhamos como presidente, o Sérgio Carniel e era um time muito forte, com o Ronaldão na zaga, Zé Carlos, o lateral direito da Copa, Fabinho, que foi dirigente do Flamengo, Fabinho, volante pitbull aí no meio campo, tínhamos o Mineiro, que foi campeão mundial com São Paulo, Dionisio, que era prata da casa também, Wander, que foi negociado junto com Luís Fabiano ao Rennes da França, tínhamos o Claudinho, um 10 que jogou na Seleção Brasileira.
Tínhamos Macedo, tínhamos Ranieli. Tínhamos Washington, Coração Valente, ou seja, Piá também, que foi um ídolo na Ponte Preta, ou seja, nós tínhamos um time muito forte, e esse time era difícil de jogar, então eu fiquei ali alternando, jogando alguns jogos sim, outros não, e quando apareceu a oportunidade, em 2003, eu vim para cá, para a Bolívia, para o Jorge Wilstermann.
Na primeira temporada, eu fui muito bem, classificamos para a Copa Libertadores, saímos vice-campeões aqui nacional, eu fiz 33 gols numa temporada, fiquei em segundo como o maior artilheiro da América do Sul, e fiquei em décimo segundo como o maior artilheiro de todas as ligas do mundo, na frente do Ronaldo Fenômeno, que, se eu não me engano, estava na Itália, na frente do Thierry Henry, e eu sou um 10, um meio campo, eu não sou um centravante, então foi uma temporada muito bonita aqui, minha primeira temporada.
Eu joguei aqui nos principais clubes, depois joguei no Oriente Petrolero de Santa Cruz, joguei no Bolívar, joguei no The Strongest e terminei minha carreira no Sport Boys, no Sport Boys de Warnes. Depois estudei para treinador e em 2017, como auxiliar técnico, classificamos o clube Jorge Wielstermann na Copa Libertadores, em 2018 saímos campeões, classificando também outra vez a Copa Libertadores, depois a gente disputou a Copa Sul-Americana, saí do Wielstermann para poder me tornar treinador, primeiro treinador no Clube Aurora, que era o rival do Wielstermann, depois trabalhei no Clube São José, trabalhei no Palma Flor, trabalhei no Always Ready, trabalhei no Blumming e agora eu estou como treinador do São Antonio fazendo essa boa campanha e brigando pelo título”.
“Olha, voltar para o Brasil, claro que eu sonho. Como treinador, quem sabe, algum dia ter uma oportunidade em um clube no Brasil seria muito bonito para a minha carreira. Eu estudei muito, me capacitei muito também. Hoje eu tenho a licença pró, não só da Federação Boliviana, mas também tenho a licença pró da Conmebol, o que me permite treinar qualquer clube em todo mundo, inclusive seleções. Então, eu estou preparado, sou um treinador jovem, quero ainda seguir aprendendo, quero seguir melhorando como treinador, tenho um corpo técnico capacitado ao meu lado, então tudo no seu tempo.
Eu acho que essa oportunidade vai vir e quando vir eu espero estar bem preparado para poder assumir essa grande responsabilidade e dirigir um clube no Brasil. Se não for no Brasil, pode ser em algum outro país que nos dê condições de trabalhar. Isso é o que eu quero, é ter uma possibilidade de trabalhar um clube com condições para a gente poder fazer o nosso melhor sempre”.