A escolha de Rodolfo Landim por um candidato para ser seu sucessor à presidência do Flamengo na eleição deste ano pode significar a menor participação de membros da Chapa Azul (Fla Campeão do Mundo) de 2012. Isso não se refere somente a participação de pessoas, mas também ao fato de abrir mão de alguns ideais propagados na criação do grupo que ajudou a reestruturar o clube.
Mesmo com a cisão do grupo original no processo eleitoral de 2015, sempre houve a participação direta de pessoas que, se não foram fundadoras da chapa de 2012, começaram a participar do processo antes de começar a campanha que derrotou Patrícia Amorim nas urnas. Com a divisão, foi comum que até a eleição de 2018, os planos de governo tivessem semelhanças. Não por plágio ou algo do tipo, mas porque as ideias e ideais eram os mesmos.
Se Landim optar por Dunshee como sucessor e concorrer ao Deliberativo, será a primeira vez desde 2012 que um político antigo do clube voltará a comandar o executivo e um membro fundador da Chapa Azul presidirá o órgão legislativo. Em 2012, a Fla Campeão do Mundo apoiou Delair Dumbrosck, depois Rodrigo e Antonio Alcides por dois mandatos, consecutivamente.
AS PAUTAS
Sobre pautas, uma das que destaco primeiramente é a profissionalização. A ideia original era que em todas as pastas, os executivos tocariam o dia a dia e teriam protagonismo, dando ciência das ações ao Conselho Diretor via vice-presidência, que teria participação secundária, se atendo ao cumprimento ou não de metas e estratégias por parte dos profissionais contratados. Nas duas gestões de Landim, o departamento de futebol do Flamengo fez justamente o contrário, tendo situação parecida com o segundo mandato de Eduardo Bandeira de Mello, que tocou o futebol por alguns meses e sofreu críticas por isso. Não há, pelo menos por enquanto, qualquer perspectiva de mudança na gestão do departamento mais importante do Fla. Destaco abaixo a página nove do Plano de Governo do atual presidente em 2018:
“Aprofundar o processo de profissionalização do clube, com diretores de departamento recrutados de mercado, remunerados e incentivados por desempenho e metas desafiadoras, com autonomia operacional na execução de seus planos determinados pelo Conselho Diretor e coordenados operacionalmente por um profissional de reconhecida reputação no meio corporativo e comprovada capacidade de liderança em grandes organizações e/ou projetos”.
Ainda na mesma página, duas propostas fundamentais foram não só deixadas de lado pela atual direção, mas também enfrentaram forte oposição ou foram descaracterizadas nas comissões internas quando discutidas no Deliberativo. Primeiro, a questão do voto à distância: com a inclusão do voto remoto na Lei Pelé, em 2020, por conta da pandemia de Covid-19, a direção do clube fez de tudo para não cumprir a lei. O departamento jurídico do Flamengo travou batalhas judiciais com Walter Monteiro, candidato da oposição na eleição de 2021. Estranhamente, na ocasião, foi adotada a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), dificultando que a oposição tivesse acesso à lista de votantes. O voto à distância virou tema no Conselho nos anos seguintes, mas o uso da urna eletrônica para o voto presencial ficou a critério do presidente da Assembleia Geral.
A segunda proposta era a reeleição. Não só no Plano de Governo, Landim se posicionava contra um novo triênio, mas também em entrevistas. No entanto, mudou de opinião em 2021, quando concorreu novamente e permitiu que apoiadores articulassem a mudança do estatuto para possibilitar um terceiro mandato nos anos seguintes ou aumentar a gestão de três para quatro anos. As ideias não obtiveram aderência interna e foram deixadas de lado. Na mesma página nove, o Plano de Governo de 2018 prometia:
“Realizar proposta (a ser analisada pelos sócios do Flamengo) para a mudança do nosso processo eleitoral, tornando-o mais moderno, transparente, estável e democrático, avaliando novas tecnologias de voto eletrônico e remoto e sugerindo a avaliação de temas como do segundo turno, do fim da reeleição e outros pontos a partir da eleição de 2021 ou 2024”.
ALGUNS CASOS
Esses exemplos práticos demonstram como pautas e princípios importantes que gestaram e deram base à Chapa Fla Campeão do Mundo em 2012 foram sendo relegados ao longo dos anos. Outros exemplos poderiam ser citados e contextualizados. Como a concentração de poder, um dos motivos do rompimento com Bandeira em 2015, pois a ideia sempre foi ter um grupo tomando importantes decisões em conjunto. Quando Wallim Vasconcellos deixou a vice-presidência de finanças em 2020, em sua carta de renúncia, falou sobre isso. “A minha renúncia deveu-se, sobretudo, às divergências em relação ao estilo de gestão, onde a maioria dos Vice-Presidentes possui pouca participação nas discussões de assuntos relevantes e impactantes na vida do clube”, disse em um trecho.
Há também a permissividade para com dirigentes que se envolveram na política externa, utilizando-se, mesmo que indiretamente, da imagem do clube em seus pleitos. Tipo de situação muito criticada com Patrícia Amorim e Eduardo Bandeira de Mello.
Apesar de imaginar que Rodrigo Dunshee apoie algumas mudanças de curso de Landim, há de se esperar pelo seu próprio plano de governo para avaliar suas propostas e o que poderá gestar e fundamentar os princípios que vão, possivelmente, nortear sua gestão caso vença a próxima eleição.
Fato é que, assim como o Flamengo, Rodolfo Landim também mudou muito nos 11 anos de reestruturação do clube. É aguardar para sabermos o quanto daqueles princípios tão elogiados desde 2012 ainda vão permanecer na próxima gestão e quantas pessoas da velha Chapa Azul, a Fla Campeão do Mundo, vão permanecer. O mais importante são os princípios, que devem sempre estar acima das personalidades.
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Nós do Jacs canal 12, torcemos pelo retorno do Bandeira de Mello a presidência do Flamengo, depois de JESUS Cristo o + querido do Brasil.