Deputados Chico Alencar, rubro-negro, e Deley, tricolor, aquecem a ‘pauta’ para o clássico em Brasília
Nos últimos meses, a política nacional virou uma verdadeira guerra. Governo e oposição se digladiando no Congresso Nacional num popular Fla-Flu. Quando a bola rola, os ânimos não ficam menos exaltados, mas parlamentares esquecem as divergências de opinião e se reorganizam na torcida por Flamengo e Fluminense, que se enfrentam neste domingo, às 19h30, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília.
“Nunca fui a jogo com colegas. Mas converso sobre o nosso Mengo – ultimamente, mais para trocar lamentações -, com Maurício Quintela Lessa (PR-AL), Simão Sessim (PP-RJ) e Otávio Leite (PSDB-RJ). Todos reconhecemos que o presidente Bandeira de Mello, que aliás, foi meu colega no Colégio de Aplicação da Uerj, está se empenhando para arrumar a casa, que vivia à beira da falência”, destaca o deputado Chico Alencar, do PSOL-RJ.
Quem conhece muito bem esses dois tipos de Fla-Flus é o ex-jogador e deputado Deley, do PTB-RJ. Em campo, ele foi parte importante da história do Fluminense ao lado de jogadores como Assis, Washington e Romerito. Na política, é testemunha ocular do momento conturbado do país, mas nada que apague as brincadeiras pós-rodada.
“Se ganhar, na terça-feira eu tiro onda com o Chico Alencar e com o Simão Sessim. É com eles que eu converso sobre futebol quando o Fluminense ganha do Flamengo. Outro que é fanático pelo Tricolor é Julio Delgado (PSB-MG), que virou meu amigo de futebol e sempre lembra que adorava me ver jogar quando eu era profissional”, revela Deley.
Chico Alencar, um dos principais opositores do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também rubro-negro, até admite uma trégua se o assunto for o Flamengo.
“A trégua seria só esportiva (risos). O xará, amigo e tricolor Chico Buarque, em chorinho que fez para o saudoso flamenguista Ciro Monteiro, em plena ditadura, cantou: ‘Nós separados nas arquibancadas temos sido tão chegados na desolação’. Com o Cunha é o contrário: podemos estar do mesmo lado na arquibancada (ele na cadeira especial, eu na geral ), mas bem separados na desolação da situação brasileira atual, da qual o considero uma triste expressão”, alfineta Chico Alencar.
O Chico rubro-negro
A história de amor entre Chico Alencar e Flamengo começou há tempos. Nos anos 50, o menino Francisco Rodrigues de Alencar Filho morava perto do Maracanã e tinha um “amigo” que fazia uma grande propaganda do time da Gávea.
“Sou Flamengo desde que me dei por gente. O carteiro, naqueles anos 50 do Rio, entregava lá em casa, na Tijuca, uma volumosa correspondência (os pais tinham família no Piauí e em São Paulo) e sempre chegava com o grito: “Mengo, tu é o maior!”. Aquilo me marcou. Depois comecei a ouvir as transmissões dos jogos pela Rádio Nacional, e, pré-adolescente ainda, comecei a frequentar o Maraca, para onde ia a pé… Peguei a ‘charanga’ do Jaime de Carvalho. Estava no Fla X Flu de 63, quando um zero a zero nos deu o título”, conta Chico, de 66 anos, que exalta a torcida rubro-negra.
“O espetáculo da torcida sempre me comoveu mais que o do gramado, exceto na era Zico, Júnior, Leandro, Adílio & Cia. Isso até hoje…”
O deputado do PSOL tem seu clássico inesquecível em um jogo sem muito brilho e numa época em que o Flamengo viveu uma era de vacas magras.
“O inesquecível foi mesmo esse de 1963, apesar do jogo bem ruinzinho. O time do Flamengo também era sofrível, com Airton, Geraldo e Oswaldo Ponte Aérea no ataque. Carlinhos e Nelsinho, meio-campistas, Espanhol, ponta direita, e o Marcial, goleiro, faziam alguma diferença. E ainda assim fomos campeões. Esse Fla-Flu é inesquecível pelo título, pelo ineditismo para mim, por um estádio com 183 mil pagantes, superlotado. Há outro – a que não compareci, felizmente -, inesquecível pela frustração: aquele mais recente, 3 a 2 Flu, com o gol de barriga do Renato Gaúcho.”
Pela primeira vez um jogo do Campeonato Carioca será disputado em outro estado. Brasília foi escolhida, mas o deputado federal não poupa críticas ao fato de nenhum dos grandes estádios da cidade terem condições de abrigar ao clássico mais charmoso do Brasil
“É estranho um Fla-Flu do Campeonato Carioca ser disputado tão longe. Consola saber que na capital federal a maioria dos moradores torce por times do Rio, e também lá o Flamengo lidera em termos de torcida. Mas é um sinal da bagunça do futebol e da administração pública do Rio, que nem estádio apto para esse clássico tem. O Engenhão e o Maracanã estarem fechados desde agora é um absurdo, um escândalo! Mais obras para a Olimpíada, já prevista há tanto tempo? Mais corrupção? Ao menos o Mané Garrincha, que foi o estádio da Copa que mais consumiu dinheiro público, para não ser um monumento continuado ao desperdício, será utilizado. Espero que seja um bom espetáculo, mas tenho minhas dúvidas”, explica Chico, que como um bom torcedor não poupa críticas ao time rubro-negro e seu principal astro:
“O time, nominalmente, é melhor que o do ano passado. Mas falta entrosamento, objetividade, padrão tático claro e o fundamental, marca característica do Mengo: garra. Talvez porque a maioria não seja cria da casa – creio que só Paulo Victor, Juan e Jorge o são – e ainda não vestiu a camisa como segunda pele. O futebol de mercado, onde a força da grana predomina, dificulta esse ‘amadorismo’ saudável. Até o Muricy, conhecido pelo ser exaltado, anda light demais. Será que ficar mais frio foi o que aprendeu na Europa? Ou é recomendação médica? O Guerrero ainda está devendo. Não sei se é a má forma física ou a falta de entrosamento, a verdade é que ainda não justificou a fama e o salário. Tem lampejos de artilheiro, mas isso é insuficiente. A gente está sempre esperando que ele desencante. Apesar de ter mais de 30 anos, no Flamengo ainda é uma promessa. Tem esse campeonato do Rio e a tal Primeira Liga para se firmar, isto é, fazer gols, jogar bem. Chegou a hora.”
Deley, dos campos para a gravata
Do lado tricolor, Deley fez um caminho diferente. Foi formado pelo Fluminense, clube que defendeu entre 1976 e 1987. Após abandonar o futebol em 1993, começou a se dedicar à política na região de Volta Redonda, onde nasceu. Ele se elegeu deputado federal pela primeira vez em 2002, mas o sangue tricolor corre em suas veias e em 2013 foi candidato à presidência do clube, mas acabou derrotado por Peter Siemsen, atual mandatário.
“Entrei no clube com 14 anos nas categorias de base do clube. Esse foi o momento principal para afirmar minha paixão pelo Tricolor. Ali não teve jeito, a partir daquele momento me tornei Fluminense de coração”, disse o deputado, que vai na onda da torcida que não anda feliz com o técnico Eduardo Baptista.
“Acho que tem que dar um tempo. Contra o Cruzeiro foi um bom jogo, mas ainda falta um pouco mais de consistência para a equipe. Temos bons nomes e o time precisa melhorar o futebol apresentado. Tem que dar tempo ao tempo. Mas a torcida sempre é impaciente.”
Com a perna direita, Wanderley Alves de Oliveira organizou o time do Fluminense na década de 80, quando o Tricolor conseguiu o título brasileiro de 1984 e o tricampeonato estadual (83-84-85). Com a nostalgia de um ex-atleta, Deley escolheu um dos clássicos em que esteve em campo como o seu Fla-Flu inesquecível.
“Não tem como não ser o de 83. Não pelo jogo em si, mas pelo o que ele representou. Aquele grupo se afirmou a partir daquele título. Muita coisa mudou para aquele elenco. Não éramos favoritos e o time foi se acertando ao longo da competição. A partir dali começamos a ser uma equipe competitiva”, comentou o ex-jogador, que exaltou Fred, que já é o terceiro maior artilheiro da história tricolor com 167 gols.
“Ele é fundamental para liderar o time que tem muitos jovens. Só não pode dar mole como deu naquele jogo contra o Atlético-PR (o atacante foi expulso). Tem que saber se portar e liderar essa garotada de talento que o Flu tem. Eu gosto muito do Gustavo Scarpa, pois é um garoto que participa muito do jogo e sabe ser um jogador moderno, defendendo bem.”
Fonte: O Dia
Fla Flu tem que ser o verdadeiro clássico do RJ.
O Vasco cresce nas costas do Flamengo com esse negócio de rivalidade.
Nisso temos que reconhecer que o Eurico é inteligente.