Cabeça quente do Amaral, apagão de todo mundo em jogo no Maracanã, escorregão do Samir, Nação Rio nem tão presente assim, desfalques mil, jogos do Carioqueta no meio pra atrapalhar, novelinha chata com o Elias, trairagem do Luiz Antônio, ufa…
Parece ou não um roteiro que só poderia culminar em uma catástrofe de proporções bíblicas? E sem barquinho de Noé pra salvar e livrar da extinção na Libertadores um derradeiro casal de urubus.
O troço tava se desenhando de tal maneira escabroso que até duas coisas das mais raras aconteceram.
Primeiro foram os Smurfs geniais da Chapa Azul. Logo após a literal derrapada que demos nas alturas bolivianas, o povo blue entrou em pânico e danou de mandar email pra tudo quanto é sócio-torcedor: “Olha… Pensando bem… quem quiser comprar ingresso extra com desconto, além dos que o plano dá direito, é só chegar”.
Basicamente o pânico tomou conta dos caras e eles deixaram de lado todas as estratégias “jeniais” de marketing, toda devoção pelo Deus-Ticket-Médio, passando de uma hora pra outra a utilizar técnicas elementares e eficientes de feirante. Como começaram a acreditar que a mercadoria-ingresso podia encalhar e apodrecer na mão deles… Trataram logo de organizar uma tremenda xepa.
Outra coisa curiosa foi a repentina mudança de horário do jogo. Sabe-se lá por quê, e longe de mim insinuar que a TV mexeu seus pauzinhos, de uma hora pra outra o jogo do Flamengo foi antecipado e o do “Botafogo na Libertadores” (até que a expressão é curiosa e atrativa mesmo), passou a ser o preferido para o de dez-e-quando-a-novela-acaba da noite dessa quarta. A essa altura, a tia que fica com uma bola de cristal tentando prever qual jogo será mais atraente deve até estar desempregada.
Não culpo os Smurfs e a TV. A sequência de confusões que arrumamos pareciam mesmo trilhar o caminho inevitável do precipício. Como nem um e nem outro arriscam depositar fé no Flamengo baseados somente na emoção, foram os primeiros a abandonar o barco.
E quem diria que para se opor a todos aqueles obstáculos expostos lá no primeiro parágrafo, teríamos liderança ímpar do Alecsandro recém saído do banco, lançamento genial do Negueba, Welinton jogando bem na lateral… Realmente é uma participação curiosa nessa edição da Libertadores.
Mas é assim mesmo. Antes do jogo da quarta passada eu comentei com amigos: “Pronto. Agora chegamos aonde queríamos. Enrolamos tudo até conseguir ficar naquela situação em que não se pode nem pensar em derrota. Nem por placar mínimo”.
Enfim… Tudo passou. O roteiro esquisito e obscuro que parecia rumar para uma colisão com um iceberg deu uma virada e agora caminha a passos largos para a grande festa (mais uma) que faremos hoje no Maracanã.
Uma festa linda, emoldurada pela frase que adoramos muito e que andava meio sumida das nossas vidas. “TODOS OS INGRESSOS VENDIDOS”.
Esse é o Flamengo que a gente conhece e ama. Subverte a lógica e qualquer raciocínio. Perde em casa pro mais fraco pra ganhar fora do melhorzinho. Vê zagueirão derrapando. Zagueiro virar lateral. Perde a cabeça em jogo morno. Dilacera as planilhas frias dos planejamentos smurféticos. Faz a Toda Poderosa TV virar motivo de chacota.
Deuses do futebol. Deuses do marketing. Deuses do dinheiro.
Daí de cima cês não conseguem ver a coisa direito. Aqui embaixo as leis são diferentes.
Catástrofe que vira festa e festa que vira catástrofe (bate na madeira).
Isso aqui é Flamengo.
Boas Festas, Nação.
Fonte: Falando de Flamengo