No último domingo o Flamengo estreou no Campeonato Carioca 2014 utilizando sua equipe B. Muitas pessoas tem usado erradamente, pelo menos na minha opinião, o termo “Flamengo C”, considerando que esta equipe é a reserva da reserva. De fato é, porém uma equipe é formada por seus titulares e reservas, fazendo com que os jogadores que irão para a Libertadores façam parte de uma mesma equipe (a equipe A, com seus titulares e substitutos), deixando para a “equipe B” a incumbência de enfrentar alguns adversários no Campeonato Carioca. Além disso o Jayme de Almeida dividiu o elenco do Flamengo em dois grandes grupos, justamente o grupo da Libertadores e o grupo de alguns jogos do Carioca. Feita essa pequena observação, vamos à estreia.
Logo no início da partida, quando o Flamengo foi para cima, tocando, chutando, marcando bem, pressionando o adversário no ataque, forçando-o a errar passes e “dar chutão” e fazendo um gol logo aos 5 minutos, eu decidi: “vou escrever um artigo sobre este jogo, que nos trará um grande resultado”. Os fatos mostraram que eu estava parcialmente errado (para ser bem gentil comigo mesmo), mas, além dos três pontos, tivemos grandes momentos durante a partida, em que alguns jogadores, que não acreditávamos mais e que foram relegados à “reserva da reserva”, tiveram uma excelente tarde. Fora o fato bastante interessante e raro de termos em campo sete jogadores “pratas da casa”. Desafio os rubro-negros de boa memória a lembrarem da última vez que algo parecido aconteceu. E sem contar que este time do Flamengo foi o único grande a vencer. O Flamengo B foi melhor que todos os outros clubes de expressão na 1ª rodada. E isso já merece um grande destaque.
Os melhores da partida
Com toda a certeza, a defesa do Flamengo foi o setor mais consistente e equilibrado do time nesta estréia. À exceção do João Paulo, que fará a torcida ter calafrios quando André Santos se machucar ou ficar suspenso, o restante da defesa jogou muito bem: Paulo Victor (com boas defesas durante a partida), Welinton e Frauches (seguros, muito bem postados em campo e indo para o ataque) e Digão (dando passe de 30 metros, algo que ele nunca havia feito na vida, pelo menos não que me lembre). Veio da defesa, inclusive, o gol da partida, marcado pelo Welinton (quem poderia imaginar?).
Outro setor bem interessante do Flamengo foi a proteção da zaga, com Val e Cáceres. Bons lançamentos, passes acertados, presença na área nos escanteios (no gol do Flamengo, foi de Cáceres o desvio de cabeça que deixou Welinton na cara do gol). Nixon não foi mal: se movimentou, fez tabelas, voltou para ajudar na marcação. O problema é que a bola não chegou com qualidade para que pudéssemos vê-lo finalizar mais vezes, aí poderíamos criticá-lo ou elogiá-lo. O fato é que sua função, de atacante, não foi executada, simplesmente por má qualidade na armação do time.
Os piores
Foi justamente na armação que o Flamengo deixou muito a desejar. Jayme de Almeida escalou três jogadores no meio para executar esta função: Matheus, Negueba e Gabriel. Infelizmente os três foram muito mal, com lampejos de bom futebol (como na troca de passes entre Negueba, Gabriel e Nixon no final do primeiro tempo).
Na segunda etapa entraram: Muralha, no intervalo, no lugar de Negueba; Carlos Eduardo, no lugar do merecidamente vaiado Matheus; e o estreante Feijão, na vaga do Gabriel. Não por acaso os três piores jogadores da partida foram substituídos. Para os torcedores pedirem Carlos Eduardo mostra que a coisa estava muito feia.
As vaias para o Matheus
Precisava escrever pelo menos um tópico sobre o acontecido. Em entrevista dada em 2012, falando sobre as vaias que a Seleção Brasileira vinha recebendo da torcida, Zico emendou: “Vaias sempre ocorreram. Cansei de entrar em estádio debaixo de muita vaia e, no dia seguinte, tinha ainda de aguentar as perguntas dos jornalistas e pressões no clube”. E completou: “os ataques ‘amadurecem’ o grupo”. Ele estava falando das vaias “ao grupo”, mas logicamente as colocações também servem para os jogadores, individualmente.
Em minha trajetória como torcedor do Flamengo, já vi a torcida vaiando Romário, Sávio, Júnior Baiano, Vampeta, Alex e, mais recentemente, Ronaldinho Gaúcho, Carlos Eduardo e Adryan. Welinton também já foi vaiado e parece ter dado a volta por cima. Ídolos recentes, Íbson e Renato foram alvos da fúria flamenguista em momentos ruins. A minha conclusão é: se não agüenta vaia, tem que procurar outra coisa para fazer da vida. Futebol mexe com o imaginário e as emoções mais íntimas de um torcedor. Se quando um fanático torcedor apaixonado, desesperado por ver o jogador matando todas as jogadas possíveis de ataque do time não vaia, o que ele vai fazer? É a reação mais natural e automática possível. Espero que o Matheus aprenda com os erros e tente não perder mais um gol tão feito quanto aquele. Ele poderia ter feito de tudo: chutado no goleiro, tentado driblar, tocado pro Nixon na marca do pênalti, chutado com força “na lua”. Só não poderia chutar para fora de forma tão medonha como fez: fraco, displicente e sem objetivo algum. Não cometendo o mesmo erro, com certeza a torcida o aplaudirá e esquecerá os momentos ruins.
Em tempo: Matheus já fez 12 partidas pelo Flamengo, sem fazer nenhum gol. Na verdade passou bem longe de marcar um, esta chance que perdeu domingo foi a mais próxima que chegou. Alguma coisa deve estar muito errada com este garoto. Ou a expectativa é exagerada ou o nervosismo tem tomado conta dele. Algo tem que ser feito.
O grande erro do Jayme
Continuando com o “tema Matheus”, finalizo apontando o grande erro do Jayme: não ter tirado o jogador no intervalo para a entrada do Carlos Eduardo. E considero erro por dois motivos: primeiro porque Matheus estava mal já no primeiro tempo e dificilmente conseguiria melhorar somente com a entrada de um volante no lugar do Negueba. Segundo porque o Carlos Eduardo poderia acabar mais queimado do que já está. Como um jogador que custa 500 mil por mês ao Flamengo, e que chegou ano passado com pinta de astro, fica no banco do time que é considerado o “reserva do reserva”? Depois o Jayme explicou que o Cadu jogou apenas porque o Éverton não pode ser relacionado. Não gostei da explicação, pois deixa claro que um “reserva do time que é o reserva do reserva” na verdade é titular. É algo confuso e difícil de entender. Se um jogador titular foi relacionado no time B, deve pelo menos jogar um tempo do jogo. Isso teria evitado “queimar” o Matheus e não pioraria a situação do Carlos Eduardo frente à torcida. Sorte, para o já calejado Cadu, que a Nação momentaneamente parou de pegar no seu pé. E admito que ouvir a torcida gritar o nome dele foi bem divertido. E não era nem 1º de Abril.
Hoje tem mais uma partida do “Time B”, com Matheus no banco e Rodolfo em seu lugar. No restante do time nada muda. Acho que o goleiro Cesar deveria revezar com o Paulo Victor. Se todos estão tendo a chance de jogar e mostrar seu valor para o “professor Jayme”, ele também deveria ter a sua. Até porque goleiro que não joga fica totalmente sem ritmo e não ajuda em nada. Mas, independente de quem entre, acredito que o Flamengo terá mais uma vitória tranqüila, espero que com uma diferença maior e com mais qualidade no meio-campo. SRN.
Daniel Mercer.