A fábrica voltou a funcionar. As máquinas que já produziram de Dida a Zico, passando por Gerson, Zagallo, Junior e Mozer; as mesmas que por suas engrenagens viram passar os talentos de Djalminha, Marcelinho, Juan e Adriano. Elas foram reativadas. O que vi em campo na rodada de estreia do Flamengo na Copa São Paulo de Futebol Jr. de 2014 foi uma amostra do futuro promissor que nos prepara a nova geração de jogadores rubro-negros.
Desde a ótima safra da década de 90, nenhuma equipe havia chamado tanto a minha atenção quanto a que nos representa neste ano. Não é, para mim, surpresa a qualidade demonstrada pela garotada. Esta é a base do ótimo time sub-17 que em 2012 fez bonito nos gramados ganhando quase tudo que disputou. Conhecia o talento do menino dos 72 gols, Douglas, o Baggio. Saboreei em tardes na Gávea os dribles e passes perfeitos do Panterinha Renan Donizete. Vi voar debaixo das traves, com a elasticidade de um leopardo em busca da presa, o goleiro Thiago.
Foram estes meninos e outros tantos ótimos jogadores que presentearam minha sexta-feira chuvosa com a representação inequívoca do que significa o futebol moderno: jogo bem jogado, uma velocidade envolvente, transições excelentes e uma vitória que deixa no ar a esperança não apenas do tricampeonato, como de um futuro muito promissor.
Em tempos de reestruturação fora das quatro linhas, a falta dos milhões para manter o quase trintão Elias deixa de ser problema quando um camisa oito chamado Jajá deixa no ângulo do gol adversário sua assinatura. Quando a loucura acomete os ambiciosos empresários do futebol e um bom centroavante firma seus contratos por nada menos do que dezenas de milhões de euros, o jovem Baggio, numa virada improvável deixa no fundo da rede a certeza de que gols não nos faltarão. No roteiro há espaço para gol de volante. Recife, camisa cinco de jogo elegante, seguro e com um atributo em falta no futebol brasileiro nesta posição: excelente passe. Vestindo a faixa de capitão, com oportunismo, marcou o segundo gol do jogo no final do primeiro tempo dando a tranquilidade necessária ao time no período seguinte. O mais bonito ficou para o final. Numa tabela sensacional, Thiago Santos, meia atacante habilidoso e veloz, e Renan Donizete, o camisa dez que há tanto tempo procuramos, garantiram o brilho nos olhos de quem viu. Com toque de extrema precisão, o panterinha fez brotar em mim um sorriso largo. Não por sua comemoração em homenagem ao pai artilheiro, mas por eu ver reativada a linha de produção de craques do Flamengo.
Depois de anos de depreciação, desinvestimento, falta de manutenção temos muitos motivos para acreditar na capacidade do Clube de Regatas do Flamengo de revelar grandes jogadores. Aqueles que serão responsáveis por tirar de nossos peitos o grito que estamos tão acostumados a dar, o grito de campeão.
FLAVIEW