O Campeonato Brasileiro terminou xoxo, a fanfarra dos vencedores, classificados e sobreviventes ficou naturalmente abafada pelo baixo astral reinante no país do futebol. E para o Flamengo 2016 ia acabar do mesmo jeito se não fosse a tão sonhada, esperada e cobrada inauguração à vera do Ninho do Urubu. Hosana!, o Flamengo finalmente tem um CT do seu tamanho.
A inauguração do CT, que para os menos espiritualizados podia parecer apenas uma reles festinha para a entrega de uma obra que estava 32 anos atrasada, foi na verdade a rara oportunidade que uns poucos tiveram de presenciar, em tempo real e na mais seleta das companhias, a um evento divisor de águas na história do Flamengo. Foi como assistir à reunião do Ground Commitee no Fluminense em 1911, quando Alberto Borgerth se levantou daquela mesa estranha com gente esquisita e marchou, seguido apenas pelos melhores, para nossa sede, no 22 da Praia do Flamengo.
Não é exagero. Foi como estar na Gávea em 28 de setembro de 1967 e ver aquele moleque magrinho trazido de Quintino pelo Celso Garcia entrar para treinar no time dos garotos maiores da escolinha treinada pelo Modesto Bria. A entrega do Ninho do Urubu aos craques do Flamengo se alinha àqueles momentos seminais da história rubro-negra sobre os quais os pósteros dirão: – Depois disso nada foi como antes.
Agora, a estrutura oferecida aos nossos craques não deve nada a nenhum clube do mundo. Acabou aquela parada de concentração em hotel e de treinos em meio-período, entre outras mazelas decorrentes da carência de CT. E acabou aquela desculpa de que não temos CT. Pra falar a verdade, com o nível desse CT a torcida poderá exigir, numa boa e sem com isso estar sendo intransigente ou muito ambiciosa, que o Flamengo vença 1 Carioca, 1 Brasileiro, 2 Libertadores e 2 Mundiais por ano. Eles vão ter que dar seu jeito.
É verdade que o CT demorou pra caramba a ficar pronto, mas só quando restringimos nossa visão ao curto prazo. Dentro de uma perspectiva histórica os 32 anos de construção do Ninho (que continua em expansão) são uma ninharia diante da sua importância. Vejam Notre Dame, que é uma catedral de respeito e levou 180 anos para ser entregue pelos empreiteiros ao Bispo de Paris. As obras na Catedral de Colônia, joia maior do gótico, demoraram 632 anos. E talvez você argumente que é por isso que Paris e Colônia, à exemplo do Palmeiras, não tem Mundial. Mas então o que dizer da moderna Sagrada Família, de Gaudi, há 134 anos em obras e com previsão de entrega para 2016? Barcelona tem Mundial, não tem?
De uma maneira geral a visão de curto prazo tende a encolher o Flamengo. É uma ilusão de ótica, provocada por fatores conjunturais e pelos processos psicossomáticos que utilizamos para inferir a passagem do tempo, que nos impede de conceber o verdadeiro tamanho do Flamengo. Apesar de seus 121 anos o Flamengo é apenas um menino e todos nós, no futuro, seremos classificados como os pré-históricos torcedores do Flamengo do século XX e XXI.
Aqueles malucos que com suas modestas contribuições, ingressos, camisetas I Love Fla, pulseirinhas e mensalidades de sócio-torcedor, ergueram o Ninho do Urubu, a fábrica de craques que supriu o clube de títulos e glórias em seu segundo século de vida. Ir ao Ninho do Urubu foi como visitar o futuro e voltar de lá com uma enorme ansiedade pelo porvir. Se liguem nessa letra, mulambos bem vestidos, estamos apenas começando. O Flamengo nasceu de novo.
Mengão Sempre
Arthur Muhlenberg
Fonte: República Paz & Amor
o Arthur é foda..saudades do urublog,a arcoíris pirava com o cara,imagina agora com o clube estruturado??…
Para quê concluir uma obra, se ela permite o super-faturamento (não estou dizendo que este é o caso do Flamengo)… &;-D
Poucos textos da Coluna me divertem como os do Muhlemberg, e esse foi mais um que me fez rir e me encher (ainda mais) de orgulho de vestir o Manto Sagrado.
Ele tem razão, no futuro o Flamengo será dividido em Flamengo ACT (Antes do Centro de Treinamento) e Flamengo DCT ( Depois do Centro de Treinamento) SRN