No dia 29 de novembro de 2016, o avião que levava a Chapecoense para disputar a final da Copa Sul-Americana com o Atlético Nacional, em Medellín, não conseguiu aterrissar e colidiu com uma montanha numa região próxima. Naquela, Berrío olhava para sua esposa sem acreditar na notícia que havia recebido.
O atacante, que agora joga pelo Flamengo estudou na preparação para a partida todos os jogadores da Chapecoense, desde a forma como atuavam aos seus hábitos dentro de campo. No entanto, ao saber que todos eles não estariam mais no gramado, ficou sem palavras.
– Ninguém era capaz de dizer nada, simplesmente nos limitamos a escutar as notícias, nos olhávamos, nos reunimos com a comissão técnica, nos disseram o que se passou e, na verdade, não acreditávamos. A sensação era essa.
O jogador colombiano lembra do silêncio doloroso da manhã seguinte, quando se reuniu com a comissão e seus companheiros. O momento mais marcante, contudo, ficou para depois, quando os jogadores começaram a cantar a plenos pulmões “Vamos, Chape!” no vestiário, imitando a comemoração do time de Chapecó quando obteve a classificação para a final continental. O jogador deu uma entrevista exclusiva para o portal GloboEsporte.com, que segue abaixo:
GloboEsporte.com: Onde você estava quando soube do acidente com o avião da Chapecoense e qual foi a sua reação?
Berrío: Estava em casa, quase indo deitar. Estávamos conversando, eu e minha esposa, distraídos, quando o meu cunhado disse ter ouvido que tinha se perdido um avião. Então, ligamos a televisão, ouvimos que possivelmente era o avião da Chapecoense. Não podíamos crer. Pensamos em rezar para que não fosse isso, que os jogadores da Chapecoense estivessem bem, toda sua gente, mas depois soubemos que era realmente isso. Na madrugada já confirmavam na televisão. Ficamos sem palavras. Somente nos olhamos e não podíamos crer.
Você chegou a receber ligações de companheiros do Nacional naquela mesma noite?
Recebi ligações já no dia seguinte, às sete da manhã, quando nos encontramos todos no clube. Chegamos todos em silêncio. Ninguém era capaz de dizer nada, simplesmente nos limitamos a escutar as notícias, nos olhávamos, nos reunimos com a comissão técnica, nos disseram o que se passou e, na verdade, não acreditávamos. A sensação era essa.
O Atlético Nacional fez diversas homenagens à Chapecoense nos dias que se seguiram ao acidente. Qual parte dessas homenagens partiu diretamente dos jogadores?
Nós nos sentimos diretamente afetados porque eram campeões que não poderiam mais jogar uma decisão contra seu rival. Estávamos muito familiarizados com seus nomes, posições, tudo o que tinha a ver com a Chapecoense. Primeiro, do grupo partiu a ideia de, antes de tudo, entregar o título de campeão sul-americano, porque para nós são campeões que por azar não puderam disputar essa final. Não lhes deram nada para chegar a essa final, venceram no campo, e venceram muito bem. Fizemos uma homenagem na hora da partida também com as flores para homenageá-los. Era para ser um momento de alegria, de estar jogando futebol, de estar fazendo o que amamos, mas foi um silêncio simplesmente…Um sentimento difícil de explicar.
Depois, na partida (contra o Millionarios) dedicamos esse triunfo da classificação. Foi muito bonito porque lá estavam parentes dos sobreviventes, a partida foi dura, foi difícil, ganhamos por 3 a 0. E após a partida, demos as nossas camisas a esses parentes, e no vestiário cantamos a canção (da Chape, reproduzindo a comemoração da equipe ao se classificar para a final da Sul-Americana), foi um momento muito bonito.
Há uma forte carga emocional para os dois times. O que esperar dessa final da Recopa?
Acho que será uma emoção com peso duplo. Uma Recopa, há algo que nos une, essa tragédia, mas a maior homenagem que se pode fazer é jogar um grande futebol, demonstrar um grande espetáculo, e deixar o resultado nas mãos de Deus.
E qual a sua torcida?
Tenho o Atlético Nacional no coração. Torço para que o Atlético vença a Chape. Tenho carinho pela Chape, mas o meu coração manda.
Chegou a falar pessoalmente com algum dos jogadores da Chape, algum dos sobreviventes?
Não, não. Não tive a oportunidade de falar com eles. Os cumprimentei outra vez no amistoso entre Brasil e Colômbia, mas não saíram palavras naquele momento.
Como foi receber uma proposta para jogar no Brasil pouco depois dessa tragédia, e fazer essa transferência em um momento tão especial?
Creio que foi uma decisão de Deus, uma mensagem de Deus. Recebi uma ligação do Brasil. Depois de tudo o que aconteceu, saber que o Flamengo se interessava por mim, que queria me contratar. Foi perfeito e agora estou aqui.
E qual foi, em todo esse período entre a tragédia e a confirmação de que você jogaria no Flamengo, o momento mais emocionante, o que mais te marcou?
O momento que mais me emocionou foi quando meu representante me disse que eu era jogador do Flamengo. Era um sonho que eu tinha de jogar no exterior, e o Flamengo me abriu as portas do clube para seguir minha carreira e seguir crescendo pessoal e profissionalmente. Foi muito gratificante receber essa oportunidade. Dia a dia estou trabalhando duro, é a melhor forma de retribuir o que fizeram por mim.
Aonde você assistirá a essa partida agora e a outra em Medellín? Houve algum convite para que participasse de alguma homenagem lá?
Não, nem seria possível, estou com o Flamengo me preparando para a fase decisiva do Carioca, a Libertadores. Verei pela televisão. Vou apoiar à distância o Atlético Nacional, mas neste momento estou aqui com o Flamengo e vou estar concentrado 100% no Flamengo.
Parabéns ao repórter pela pauta.
Muito interessante entender como foi essa tragédia pelo ponto de vista do Atlético Nacional. Isso não deixa de ser um registro histórico.
SRN