No Brasil a legislação diz que as entidades sem fins lucrativos não podem remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços prestados. Isso tem sérias implicações sobre o futebol Brasileiro. Significa que o clube que decidir profissionalizar a sua gestão buscando no mercado os melhores profissionais (como faz qualquer empresa) é penalizando pagando mais impostos (pis, cofins, etc). Ou seja, pune-se a busca por maior eficiência. Essa questão explica porque vários clubes proíbem em seus estatutos a contratação de Diretores e Vice presidentes que sejam não-remunerados, mantendo sua gestão na mão de políticos que, além de pouco qualificados (há poucas exceções) se dedicam em tempo parcial aos seus clubes e agem de forma pouco prudente, afinal aquele não é seu emprego e não há responsabilização por sua gestão temerária. Portanto, é preciso superar esse obstáculo para que haja uma PROFISSIONALIZAÇÃO DEFINITIVA do futebol brasileiro. Uma profissionalização que gere mais eficiência, recursos, e aumente a capacidade de formar times competitivos.
A ‘Profissionalização Envergonhada’ dos clubes Brasileiros.
Muitos torcedores ainda tem uma visão romântica do Dirigente apaixonado, aquele que faria sacrifícios de qualquer ordem em nome do seu clube. Nada mais longe da realidade. O que existe de verdade é uma esmagadora maioria de dirigentes que trata o clube como uma espécie de distração de fim de expediente.
Como esperar que essas entidades sejam eficientes sob um regime desses? Veja, aqui não estou falando de transformar clubes em empresas, e sim e profissionalizar a gestão. Barcelona e Real Madrid, por exemplo, são entidades sem fins lucrativos, mas que agem como empresas, sendo totalmente conduzidos por executivos profissionais do mais alto nível. Seus Presidentes são figuras institucionais, não executivas.
O modelo político dos clubes Brasileiros (não só da CBF) inviabiliza a modernização futebol. A cada eleição, as chapas concorrentes fazem articulações com o objetivo de serem eleitas. Nesse processo (semelhante ao que ocorre com vários ministérios) são definidos os futuros dirigentes não remunerados dos clubes, na maior parte das vezes pessoas sem a menor experiência e com pouca dedicação, e que atuam com o foco totalmente no curto prazo. Já reparou na quantidade de vice presidentes nos clubes Brasileiros? Esse processo produz efeitos terríveis sobre os clubes, na forma de má gestão, ineficiência e desperdício, além de destruir qualquer sentido de meritocracia dentro da instituição, o que afasta os melhores profissionais.
No modelo em vigor, não há separação entre política e gestão, resultando em profissionais sem tranquilidade nem autonomia para prestarem um bom trabalho. Além disso, há a questão da falta de continuidade, já que a cada novo mandato há mudanças de toda ordem dentro do clube. E como se não bastasse, vários clubes que começam a adotar uma estrutura profissional convivem com o pesadelo do “duplo comando”, em que os gerentes de algumas áreas têm que se reportar a um executivo e a um político simultaneamente. Isso é muito Bizarro, não tem como dar certo.
Veja como uma situação dessas afeta até mesmo o processo de contratação e atração de profissionais. Um Plano de carreira em clube de futebol funciona assim: o profissional entra sabendo que pode ser promovido até no máximo gerente. A partir daí, para subir na hierarquia do clube ele precisa pedir demissão para transformar-se em um político, fazer parte de alguma chapa que dispute as eleições, seja eleita e aí sim, ele poderá voltar como diretor…. não remunerado. Enquanto as empresas fazem tudo para ter as melhores condições de atratividade e capturar os jovens talentos no mercado (aqueles que geram mais retorno), os clubes (empresas que chegam a faturar quase R$ 400 milhões/ano) não conseguem atrair os profissionais mais qualificados pois eles (salvo algumas exceções) não podem passar de gerentes. A não ser que virem políticos. Parece piada?
Dirigentes amadores e não remunerados deveriam fazer parte de conselhos, com o papel de ajudar a definir os rumos e avaliar a sua condução, atuando como guardiões da estratégia do clube. Mas nunca atuarem na gestão. Gestão é para gestores profissionais, qualificados, bem remunerados, com os instrumentos e condições de trabalho adequados, e que sejam avaliados de pelos resultados obtidos, de maneira formal, periódica e sistemática.
Neste momento, em que o Governo discute a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, seria a oportunidade ideal para obrigar os clubes a alterarem seus estatutos e incluir a obrigatoriedade de profissionalizar de vez suas gestões. Quem não o fizesse não deveria ter acesso ao refinanciamento.
Fonte: Pluri Consultoria
Compartilhe este artigo
Deixe um comentário