Há quem diga que a camisa do Flamengo pesa feito chumbo, mais até do que a da Seleção Brasileira. Alguns excelentes jogadores que a vestiram sucumbiram à pressão e envergaram, não conseguindo desenvolver no clube o mesmo futebol que em outras equipes, vide o caso de Alex, para ficar apenas em um exemplo. Tantas vezes chumbo em jogadores de gabarito, outras tantas pluma em jogadores que chegam à Gávea completamente desconhecidos.
A camisa do Flamengo não pesou para Hernane.
Um deles é Hernane, o Brocador. Do Mogi Mirim ao Flamengo, do pequeno ao gigante, do anonimato ao estrelato, do interior à cidade grande. Sob o olhar da desconfiança teve que brigar pelo seu espaço. De reserva, virou titular absoluto. Com cheiro de gol, se transformou em artilheiro da equipe no ano para alegria de rubro-negros, que adoram um ídolo folclórico, e, imagino eu, ódio de um pai de jogador boliviano.
Brocador não sabe driblar, não sabe fazer golaço, não sabe dar passe açucarado, não sabe dar balão, caneta ou fazer qualquer tipo de lance plástico. Mas sabe brocar. Furar defesas adversárias é uma especialidade. E uma especialidade que custa pouco, pois Hernane é econômico. Um toque, um gol, mais que isso não é necessário.
Podemos dizer que ele é um anti-herói, por que não? Mata bola de canela, protagoniza lances bisonhos, perde a maioria das jogadas aéreas para os zagueiros. Mas é esforçado e o maior responsável pela alegria máxima das arquibancadas rubro-negras. Ao pisar o gramado do Maracanã, o gol passa a ser questão de tempo.
A desconfiança virou combustível, a vontade é recompensada, e os gols são o carimbo para manter a titularidade. O futebol simples é o caminho para as redes. O arroz com feijão e as conclusões em toques únicos garantem as comemorações.
Sem enfeite, sem complicar, sem fazer a camisa parecer chumbo, a fórmula do Brocador é básica.
Um toque. Uma brocada. Um gol.
Depois, é só virar folclore, sem deixar de ser ídolo, em preto e vermelho.
Fonte: Doentes por Futebol
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