Demorou um pouco para eu entender a imagem como real. Aos quarenta e três do segundo tempo custei a acreditar que o nosso melhor jogador chutara para fora, da pequena área, praticamente sem goleiro, a bola do jogo, os três pontos, o alívio na tabela, um respiro numa semana tão atordoada. Mas, não houve alternativa senão a de aceitar os fatos. Fiquei anestesiado, como vem ocorrendo rodada após rodada. Trata-se de um sintoma perigosíssimo, que suponho acometa muitos rubro-negros no momento. A sensação de impotência diante da mediocridade do elenco substituiu a insatisfação e o repúdio. E é contra esse estado de coisas que a reação exige começar.
Chegamos ao limite suportável à pasmaceira. Muito discurso tecnocrata e exibição de arrogância, de uma certeza pasteurizada, muito mais ligada a crenças subjetivas do que às evidências de um garrote vil que nos aperta o pescoço ponto após ponto que perdemos para times ridículos, caso do Náutico, o lanterna com dez pontos ganhos, quatro obtidos contra nós. Cabe a pergunta: se disputamos seis pontos contra um amontoado de cabeças de bagre e ganhamos apenas um, me parece estarmos equivalentes a eles.
Pior, começam a soar alarmes de descompromisso absoluto com a situação desesperadora que somente a Imensa Nação já se deu conta. Enquanto tornamos cativa a proximidade da zona de perigo, nossos jogadores festejam não sei o quê. E ainda escolhem como local de comemoração a casa do mais contundente exemplo de equívoco dessa diretoria, o custo x benefício mais deplorável dos últimos tempos, a insistência estranha dos treinadores, o tal de Carlos Eduardo. A torcida não aceita mais o Manto ser enxovalhado por esse tipo de jogador. Daqui a pouco esse come e dorme, de caviar e em king size, vai para outro clube e arrebenta, como foi o caso do dentuço. Coincidência ou não, dias depois da festinha os jogadores andaram em campo e foram humilhados em pleno Maracanã.
Onde está o erro? Em Belo Horizonte, no primeiro comportamento inadequado e pouco profissional, o dentuço só não foi dispensado porque o elenco implorou ao presidente pela permanência dele. Isso foi aceito com a ressalva de não ser admitida reincidência. Aqui, o festejo na casa do come e dorme, com desdobramentos que chegaram a um acidente automobilístico com outro titular, foi considerado normal pela diretoria. Afinal, os jogadores estavam de folga. Está certo.
Em paralelo, o presidente, com o seu jeito de avô que todo neto gostaria de ter, afiança que o Flamengo não sairá da elite, o que aliás jamais aconteceu em nossa história. Ele estaria baseado na sua devoção a São Judas Tadeu ou a algum outro acordo celestial com Deus, que todos sabemos ser rubro-negro? Estaria ele com a convicção das arquibancadas, onde costumamos chamar o Flamengo de incaível? Porque, se depender de Pelaipes (quanta incompetência), BAPs (quantas ações de marketing) e que tais, presidente, a vaca já está de sino e preparada para afundar no brejo. E eu volto a perguntar: no início da temporada, o risco disso ocorrer foi avaliado com critério, conhecimento e a devida precaução? Ou a diretoria assumiu que era melhor passar por isso do que permanecer com todas as dívidas? Presidente, o laço da forca está apertando. O preço será caro, lhe asseguro, financeira, moral, histórica e esportivamente. Nesse cadafalso cabemos todos os quarenta milhões.
Fonte: Magia Rubro-Negra