A bonança encontrada nos últimos jogos pelo futebol rubro-negro tem contraste com os mares revoltos navegados pela diretoria do clube nos departamentos jurídico e financeiro. A tarefa é levar o déficit anual que se apresentava de R$ 124 milhões em janeiro a zero, em dezembro. Por enquanto, a conta está na casa dos R$ 40 milhões, ou R$ 84 milhões a menos do que o previsto inicialmente.
A luta tem sido diária e obstáculos indigestos aparecem ao longo do caminho. Há cerca de duas semanas, o clube sofreu um revés na Justiça no processo do Consórcio Plaza, no qual o Flamengo cederia parte da sede da Gávea para a construção de um shopping após obter, em troca, R$ 5 milhões em 1995. Como o empreendimento não saiu do papel, o clube entende não ser devedor, mas sofreu uma derrota após o caso parar na Justiça em 2002.
O departamento jurídico rubro-negro conseguiu, no início do ano, a suspensão de qualquer penhora até que o processo fosse periciado. Agora, com a nova decisão, a Justiça entende que o Consórcio tem razão ao cobrar R$ 60 milhões do clube. E as penhoras, em tese, voltariam.
Novamente, os advogados do Flamengo agiram e entraram com um pedido de embargo de declaração, um instrumento jurídico com a finalidade de requisitar ao juiz a análise do assunto para que sejam eliminadas quaisquer obscuridades e contradições. Por ora, esta penhora não está ativa. O que não ocorre, por exemplo, com o processo da empresa Segil Segurança e Vigilância. O clube aguarda autorização Justiça para buscar um acordo para melhor pagamento, já que a causa é considerada praticamente perdida. O valor não é revelado, mas gira entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões.
Em uma terceira ponta das penhoras, além do Consórcio Plaza (10%) e da Segil (10%), há também o acordo com o Tribunal Regional de Trabalho do Rio de Janeiro (TRT-RJ), que abocanha 15% das rendas rubro-negras. Apenas como exemplo, do total de R$ 4.965.137,00 arrecadados pelo clube com bilheteria no Brasileiro até agora, cerca de R$ 760 mil, ou 15%, foram destinados às penhoras. Golpes duros para um clube que paga, mensalmente, cerca de R$ 7 milhões de dívidas, em acordos como o realizado com a Fazenda Nacional, mais R$ 8 milhões com a folha salarial de todo seus funcionários, incluído aí o departamento de futebol. Por isso, a diretoria busca alternativas.
Sem o dinheiro das cotas de televisionamento em caixa, já que a antiga gestão antecipara R$ 80 milhões dos R$ 100 milhões disponíveis para 2013, uma das alternativas tem sido a bilheteria. Apesar da queda de público em jogo recente, Brasília tem sido um eldorado para as finanças rubro-negras. Por isso, a tendência é de que os preços de ingressos considerados caros por vários torcedores mantenham o galope para abastecer o caixa. Presidente do clube, Eduardo Bandeira de Mello refutou a ideia de que o clube esteja se tornando elitista com esta política.
“Não é elitista. Se alguém nos apresentar um plano para uma cota de ingressos populares com a garantia de que eles parem nas mãos de pessoas com menor poder aquisitivo e não em cambistas, por exemplo, estamos abertos a ouvir”, afirmou o dirigente durante o treino da equipe realizado na Gávea, nesta terça-feira.
O acordo com a Fazenda Nacional possibilitou, também, a obtenção das certidões negativas de débito (CNDs). Como resultado, o clube esteve apto a acertar o patrocínio com a Caixa Econômica Federal, uma estatal, por R$ 25 milhões por um ano de contrato. Na última semana, o Flamengo anunciou que teve três projetos de leis de incentivo aprovados por diferentes esferas do governo. Agora, o clube busca empresas parceiras e pode chegar até R$ 23,2 milhões para investimentos em seus esportes olímpicos, o que contribuiria, também, para diminuir o rombo financeiro de R$ 40 milhões até o fim deste ano. Dura tarefa para um clube que anunciou, em abril, que sua dívida batia na casa dos R$ 750 milhões.
Fonte: ESPN