O 13º e o temível dezembro
De acordo com pesquisa recente realizada pela FIESP, 32% das indústrias com até 99 empregados e 30% das que têm 100 ou mais funcionários, irão ou já estão indo ao mercado pegar dinheiro emprestado para pagar o 13º salário. Essa movimentação de final de ano não é novidade, mas está mais forte nesse ano em função dos problemas vividos pela economia e com a retração no consumo. Final de ano é sinônimo de grandes despesas para as empresas, geralmente sem entrada de receitas na mesma proporção.
No futebol, os diretores e gerentes financeiros tremem à aproximação do final do ano. Dezembro é o pior mês da temporada para os clubes de futebol. Já na primeira semana as competições terminam e o dinheirinho das bilheterias, sempre uma ajuda preciosa, para de entrar no caixa. As outras receitas também cessam na sua maior parte…
E as despesas… Explodem.
Dezembro é o mês em que se paga o 13º salário.
No futebol, todos os jogadores entram em férias, todos, ao mesmo tempo, e não somente os jogadores, mas também toda a comissão técnica. Podemos usar o plural: todas as comissões técnicas, pois as divisões de base também param.
Tudo isso ao mesmo tempo é uma verdadeira tragédia para o caixa dos clubes. Todo dezembro, invariavelmente, um caminhão de dinheiro deixa os clubes. Uma carreta em alguns casos, uma pick-up em outros.
O caixa vai a zero. Não, a zero não, o caixa despenca vários andares para baixo do zero, para desespero dos diretores e gerentes financeiros e, também, dos presidentes dos clubes.
Pausa para respirar…
E tomar uma taça de um bom espumante.
É a pausa trazida pelo Natal e pelo Reveillon. Nossos pobres dirigentes conseguem tomar suas taças, festejar com a família e coisa e tal e fica até meio feliz. Só meio… Porque lá no fundo, mesmo enquanto troca os presentes ao lado da árvore decorada, ele sente que tem alguma coisa incomodando. Se parar para pensar ele vai saber o que é, mas não quer pensar a respeito, não dá uma paradinha para pensar a respeito. Deixa pra janeiro e faz muito bem.
E chega janeiro…
A boleirada volta das férias, é exame médico pra cá, concentrações pra lá para a pré-temporada, uma beleza.
Receita que é bom… Nada. Só mais despesas.
Os patrocínios estão “em fase de negociação”…
Cotas de tv? Nem pensar! Já foram antecipadas, “mas o presidente vai falar com a Globo”…
As bilheterias estão às moscas. Não tem jogos em janeiro. Bom, até tem, mas melhor seria não ter, porque o torcedor não aparece.
“Tá na praia.”
“Tá sem dinheiro.”
“Ih, janeiro pro torcedor é brabo… Tem IPVA, tem material de escola, tem matrícula e o coitado gastou demais em dezembro, né…”
É, meu amigo (já ouvi isso em algum lugar, vocês não?), não tá fácil pra ninguém, não é mesmo?
A porta do banco é a saída
E o que faz o nosso pobre (só no clube) diretor financeiro?
Vai ao banco.
Usa o “checão”, estoura o limite.
Fala com o gerente, que fala com o diretor e…
O bancão não vai emprestar, não. A bancabilidade é ruim. E o balanço do ano passado… Pelamordedeus! Aposto que o diretor do bancão leu a análise dos colegas do Itaú BBA sobre o futebol brasileiro, a mesma que você, leitor do OCE, tem à disposição por aqui, tanto no geral, como no clube a clube. Dá uma lida lá na análise do seu clube do coração. E veja a imagem que o sistema financeiro tem do seu clube e todos os outros.
Bom, o presidente e seu financeiro botam a bancabilidade embaixo do braço e vão nos outros bancos, aqueles que arriscam mais e cobram muito mais, até para compensar o risco que estão correndo. São os chamados (pelo mercado) bancos de segunda linha.
O dinheiro vem, felizmente, mas lá se vai mais um caminhão de juros, que vai comer o dinheirinho suado que o clube ainda vai ganhar. É o futuro pagando o presente.
Mais três meses…
A fase “grana curta” não se encerra em janeiro. Ela segue imperturbável até, com alguma sorte, o final de março.
Os clubes que estão disputando a Copa Libertadores conseguem algum refresco, especialmente se seus times conseguirem jogar mais ou menos e, com isso, levar o torcedor de volta ao estádio estimulado pelo sonho maior do Mundial. Nesses casos, o dinheirinho dos guichês volta a pingar nos cofres.
Já dá para tirar dos aparelhos, mas não dá, ainda, para sair da UTI.
Isso só vai ocorrer, mais ou menos, a partir de maio.
Assim é o final e o começo de novo ano nos clubes brasileiros, ano após ano, temporada após temporada, sempre a mesma história no grande, no médio, no pequeno.
Novembro já está próximo do fim. Para o torcedor que quer dar uma força para o clube esse é um bom momento: vá ao estádio e reforce o caixa do clube com seu ingresso.
Leve a família, se o clube e a polícia garantirem a segurança.
Vale a pena.
Se der, bote uma ou mais camisas do clube entre os presentes para o Natal. Tudo ajuda. Não vai resolver, infelizmente, mas vai ajudar, vai tornar um pouco mais doce o espumante dos brindes de Boas Festas dos dirigentes.
No próximo post falarei, mais uma vez, sobre a escolha do Clube Atlético Mineiro em fazer seu jogo de mando nas finais da Copa do Brasil no Estádio Independência. No pequeno Estádio Independência.
Fonte: Olhar Crônico