Comentei neste fórum, quando da reinauguração do Maracanã, a minha intensa relação com aquele mítico espaço de concreto e grama. Na última quinta-feira, deu-se meu reencontro de verdade com o estádio. Fui com meu pai, aproveitando para fechar a produção de um VT para o programa Seleção Sportv, que mostrei há dois posts, ver de perto a campeã do mundo e matar as saudades do ex-Maior do Mundo. Alguns amigos me fizeram previsões sombrias: “Prepare-se, aquela estádio que você conheceu acabou”, “Olha, você vai se decepcionar, aquilo está igual a qualquer outro estádio Fifa.”. Pois saibam, caros amigos do blog, que minha surpresa foi extremamente positiva.
Apesar das mudanças, Ricardo Gonzalez elogia novo Maracanã.
É verdade que o Maracanã está igual a todos os outros estádios Fifa. Pela TV, parece que todos os jogos da Copa das Confederações são disputados no mesmo estádio. Ao sentar na cadeira, procurei referências do velho Maraca. E não é que achei?! Olhando para o alto, de onde eu estava, deu para ver o Sumaré e o Cristo de perfil, exatamente como sempre vi ao longo da vida. Foi o suficiente. Maracanã será sempre Maracanã. E agora com o conforto que antes não tinha, fundamental especialmente para idosos como meu pai.
Senti, é claro, a ausência de duas torcidas rivalizando nos cânticos, cada uma de seu lado. A torcida na quinta-feira não tinha uma “cara”, embora mantivesse o bom-humor nos côros de incentivo ao Tahiti. Nos quais não embarquei, porque considero esportivamente um escândalo torcer contra um futebol de sonho como o da Espanha. Quando um clássico carioca for de novo disputado lá, certamente as referências com a minha ainda segunda casa aumentarão.
O que espero de todo o coração é que o consórcio não cometa o crime de lesa-pátria cultural afastando o Maracanã da torcida do Rio de Janeiro. Recebi muitas críticas de blogueiros, acusando-me sem a menor base de querer que o futebol volte ao lugar que sempre foi seu, com o argumento de que os clubes precisam ter arenas próprias. Ok, claro que precisam. Mas cadê essas arenas? Quem as vai construir? Se Flamengo e Fluminense me apresentarem projetos de construção de arenas próprias, até farei um esforço para me esquecer do Maracanã. Mas isso tudo, por enquanto, é sonho.
Em tempos de reivindicações e povo na rua, as torcidas do Rio deveriam, isto sim, juntar-se aos que estão acampados no Leblon e tentar evitar – observando sempre o cumprimento irrestrito da Lei e a manutenção da ordem e da civilidade – que o governador do Estado entre para a história como o político que acabou com uma das maiores tradições culturais da vida não só do Rio mas do país inteiro. Cobrar um preço que combine o conforto do novo estádio com a capacidade média de pagamento da massa torcedora é justo para todos. Cobrar um valor “x” que impeça o prejuízo do consórcio na manutenção do estádio e lhe dê um lucro razoável, é justo. Mas o que o consórcio levou à mesa de negociação com os clubes justifica uma intervenção do Poder Público. O Executivo estadual tem a obrigação moral de tornar letra morta essa proposta vergonhosa e descabida do consórcio aos clubes para escravizá-los com relação ao uso de um palco que, queiram eles ou não, é do povo brasileiro. Antes ou depois dos próximos 35 anos.
Fonte: Entre as Canetas
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