FOTO: FLAMENGO/DIVULGAÇÃO
É natural que equipes ao longo de sua trajetória em uma temporada apresentem irregularidades. Lesões, falta de um encaixe tático, má fase técnica, desgaste físico. Inúmeros fatores podem ser utilizados para atribuir um desempenho que alterna entre boas e más apresentações. O Flamengo, porém, vai além. Já carrega quase na cultura do clube há vários anos uma incrível capacidade de auto-boicote que o leva a uma eterna sensação de estar dividido entre o céu e o inferno. Deu a senha na volta da paralisação, batido diante do São Paulo no Maracanã. Teve outro exemplo contra os reservas do Grêmio após atuação brilhante contra os titulares menos de três dias antes. Um gosto, sempre, por velhas insistências. Na Arena da Baixada, o histórico já indicava uma travessia difícil na rodada. O Flamengo a tornou pavorosa. De novo apático, mole, o time foi atropelado em 20 minutos pelo Atlético-PR. Um 3 a 0 capaz de deixar feridas, reacender questionamentos e dissipar o bom clima criado com a classificação na Copa do Brasil do, agora, terceiro colocado no Brasileiro.
Um campeonato que o Flamengo parece não desejar a conquista. A prioridade da temporada tampouco parece claramente definida. E o time, em modo automático, baixa a guarda de forma inapropriada, a seu gosto. Depois de uma grande euforia, a apatia. Não há perdão para guarda baixa no Campeonato Brasileiro. Nem mesmo do vice-lanterna. Insistente, Flamengo a desce nesse pós-Copa. Parece escolher quando e onde ser ao menos competitivo. Volta a opções erradas, acirrando ânimos com torcida e comprometendo resultados e campanhas. Romulo contra o São Paulo, Willian Arão diante do Atlético-PR. São jogadores que parecem ter encerrado o ciclo no clube mesmo que ainda integrem o elenco. Há desgaste com a torcida e Arão, por exemplo, jamais repetiu seu bom momento de 2016. Mauricio Barbieri, ainda assim, fez a escolha pelo camisa 5. Sem Diego Alves, Rever e Diego – poupados – o time não se adaptou para construir uma estrutura mais resistente aos avanços que certamente receberia em Curitiba. Desde o dia anterior, a opção por Willian Arão no meio como substituto de Diego foi fartamente veiculada. Não houve impacto algum da surpresa para o técnico do Furacão. Revela-se a arma aos rivais como quem disputa apenas amistosos irrelevantes. A ideia parecia ser o 4-1-4-1 de sempre, com Arão mais avançado. A característica é bem diferente do camisa 10. Em vez de receber a bola, limpar a jogada e fazê-la andar ou fechar espaços sem ela, Arão recebe a pelota, toca ao lado e corre em disparada para tentar infiltrar na área. Diminuta preocupação defensiva. Seria fatal. Lucas Paquetá, geralmente à direita, acabou deslocado à esquerda. Com o buraco enorme à sua frente, Rodinei ficou vendido. Não sabia se dava bote em Lucho González por dentro ou fechava o lado para evitar a correria de Marcinho. Não fez um nem outro. Em manhã ruim tecnicamente, o lateral errou demais.
O Atlético-PR chegou preparado. Descansado diante de um rival que vivera o desgaste de um mata-mata no meio de semana, tratou logo de acelerar o jogo desde o início. Imprimir o seu ritmo. Indicava um 4-2-3-1, com Nikão e Marcinho abusando da velocidade pelos lados e Raphael Veiga tentando o espaço entre Cuellar e os zagueiros. Com o avanço de Lucho González, deixando apenas Wellington à frente da defesa, o Flamengo teve muitas dificuldades de sair para o jogo. Tinha receio. Qualquer bote recebido seria fatal. De fato, foi. Rodinei derrubou Marcinho de forma ingênua aos nove minutos pela direita. O mesmo cobrou falta rasteira. Rodinei, já dentro da área, viu a bola passar à sua frente e Pablo, de carrinho, completar. 1 a 0. Tão cedo, mas ainda tão pouco.
Pois o Furacão era superior. Não havia construção de jogadas pelo meio dos cariocas, dominado pelos paranaenses. Cuellar, apertado, mostrava dificuldades em dar passes verticais com o bloco vermelho e preto que subia à sua frente. E Paquetá, geralmente o desafogo pelo meio, estava à esquerda bem acompanhado por Wellington. O Flamengo tentou avançar no improviso. Com Arão sempre muito à frente, Rodinei buscava preencher o vazio no meio. Dali, arriscou chute defendido com dificuldade por Santos. No rebote, Vitinho perdeu chance claríssima, de novo em cima do goleiro. Chance perdida que poderia, ao menos, amenizar a pressão paranaense. Mas ela continuou, incessante, latente. Diante de um Flamengo apático.
Saltava aos olhos a insistência do Atlético-PR pelo lado direito do Flamengo. Não houve correção. Avanço de Lucho González sem acompanhamento de Arão, bola para Pablo nas costas de Rodinei, cruzamento rasteiro para Raphael Veiga pegar o rebote de César no toque de Nikão e mandar para a rede aos 16 minutos. 2 a 0. Ali, o Flamengo já tinha desabado. Não se tratava do vice-líder do Campeonato Brasileiro. Era já um time entregue, resignado com a derrota sem ter atravessado sequer um quarto da partida. A velha postura de 2017. Arão, com 224 minutos espalhados em seis jogos até o início do confronto, continuava perdido, infiltrando na área. Talvez o momento indicasse um time mais retraído, com Piris ao lado de Cuellar, melhor cobertura dos laterais. Não houve reação. Não houve mudança. Houve, sim, o terceiro gol. Escanteio de Raphael Veiga na cabeça de Zé Ivaldo, fácil com a marcação ineficiente de Arão. 3 a 0.
O confronto, na verdade, chegou ao fim neste lance. Em 20 minutos. Do céu da classificação diante do Grêmio ao inferno no Campeonato Brasileiro, já impossível de liderar ao fim do turno. O Flamengo, resignado, aceitou o panorama. Tinha dificuldades para avançar ao campo adversário, Vitinho tentava resolver na individualidade. Driblava um, dois e invariavelmente parava no terceiro. Uribe, de novo em dia infeliz, não segurava a bola no ataque. No segundo tempo, Barbieri tentou reequilibrar o time. Sacou Arão, deixando claro o erro na escalação, e pôs Marlos Moreno à esquerda. Paquetá voltou ao habitat que o levou à Seleção Brasileira, o lado direito. Ali se entende bem com Everton Ribeiro e Rodinei. Foi quem mais desarmou pelo time na partida, quatro vezes. Os espaços do Atlético-PR ficaram mais limitados. Mas a verdade é que a equipe paranaense diminuíra sua fome da partida, baseando o jogo mais no contra-ataque. Vitinho, por dentro, melhorou. Achou espaço de frente para o gol para finalizar. Foi quem mais acertou o alvo na equipe, por três vezes. Pouco.
Ótima contratação, o camisa 14 ainda carece de tempo para se adaptar. Entender melhor o funcionamento do time e saber como contribuir. Ou, neste primeiro momento, atuar mais próximo à área, como segundo atacante. Trocar o pneu com o carro andando e que, antes da Copa, funcionava bem com o encaixe atingido. É o preço a pagar pela diretoria, que permitiu a hipótese de perder um jogador-chave – Vinicius Junior – no meio da temporada. O garoto era o desafogo, uma via que buscava o fundo do campo pela esquerda. Tinha o drible para tirar da cartola. Uma ponte com a arquibancada. Mais uma velha insistência rubro-negra: tentar montar ou remontar a equipe em meados de todo anos, com a temporada em curso. A tendência ao auto-boicote.
Os números frios, de acordo com o Footstats, diriam que o Flamengo foi superior na Arena da Baixada. 65% de posse, 15 finalizações – oito no alvo – e 501 passes trocados. Mas os números, solitários, dizem pouco. Foi um Flamengo, de novo, irreconhecível. Até sem identidade, trajado de azul quando seu espelho vê sempre o vermelho e preto e, na impossibilidade, o branco que conquistou o mundo. Não se viu Flamengo na alma. Não se viu Flamengo no corpo. A liderança de quatro pontos de vantagem da parada da Copa virou pó e se transformou em prejuízo do mesmo tamanho. Não há terra arrasada. Há vida, por enquanto, em três competições. Sim, o Flamengo ainda pulsa mesmo depois do atropelo de Curitiba. Basta chacoalhar a poeira, se reorganizar e abrir mão de insistências. Deixar no caminho, de vez, a tendência ao auto-boicote que o leva do céu ao inferno sem escalas.
FICHA TÉCNICA
ATLÉTICO-PR 3X0 FLAMENGO
Local: Arena da Baixada
Data: 20 de agosto de 2018
Horário: 11h
Árbitro: Igor Benevenuto Junior (MG)
Público e renda: 22.061 presentes / R$ 744.350,00
Cartões amarelos: Pablo, Léo Pereira e Zé Ivaldo (ATL) e Vitinho (FLA)
Gols: Pablo (ATL), aos nove minutos, Raphael Veiga (ATL), aos 16 minutos e Zé Ivaldo (ATL), aos 20 minutos do primeiro tempo
ATLÉTICO-PR: Santos, Jonathan, Zé Ivaldo, Léo Pereira e Renan Lodi; Wellington; Nikão (Plata, 36’/2T), Lucho González (Bruno Guimarães, 20’/2T), Raphael Veiga (Bruno Nazário, 28’/2T) e Marcinho; Pablo
Técnico: Tiago Nunes
FLAMENGO: Cesar; Rodinei, Thuler, Léo Duarte e Renê; Cuellar; Everton Ribeiro (Geuvânio, 28’/2T), Willian Arão (Marlos Moreno / Intervalo), Lucas Paquetá e Vitinho; Uribe (Lincoln, 20’/2T)
Técnico: Mauricio Barbieri
Reprodução: Pedro Henrique Torre/ Chute Cruzado
É tão simples … Coloca o Piris junto com o Cuéllar (os dois tem boa marcação e sabem tocar a bola), põe o Trauco, na lateral (pois é o único que sabe fazer cruzamentos). O time ficará mais compactado, e terá jogadas de linha e fundo (pelo menos pelo lado esquerdo).
Ruindinei precisa esquentar um pouco de banco, deixa o Pará que marca melhor!
SRN
Em três anos tivemos um interino (Zé Ricardo) um treinador gringo é um estagiário! Elenco bom, treinador horroroso!
Nosso técnico é incapaz de admitir que o futebol é pensado jogo a jogo. Seja lá qual for o adversário ele escala do msm jeito! Jogo fora de casa as 11:00 da manha com o time desgastado e ele escala 4 meias e 1 volante. Sabendo que a única coisa boa que o Atl PR tem é a velocidade! Esse 4-1-4-1 é pra jogar em casa pessoal! Fora, são 2 volantes e 2 rapidinhos nas pontas…..
É fato que depois da copa o time do flamengo caiu vertiginosamente de produção. Varias teorias surgiram, e eleitos novos “vilões” para os maus resultados. A verdade entretanto, é que perdemos 2 jogadores fundamentais no esquema de jogo. Jogando no 4141, o time toca a bola de um lado ao outro, esperando uma melhor oportunidade para penetrar na defesa adversaria para marcar. Quando ainda jogava pelo flamengo, Vincius jr. era o jogador que “quebrava” as defesas e criavas as jogadas mais agudas, ora concluindo , ora passando a bola para alguém marcar. E esse alguém era o Vizeu, que mesmo já negociado, barrou o Dourado. Hoje o time toca a bola e não existe qualquer jogador com criatividade suficiente, para em dado momento partir para cima do marcador, e fazer a jogada definitiva. Alem disso, o time apesar de ter um bom elenco, continua com jogadores fracos em determinadas posições, que eram “mascarados” pelas vitorias conseguidas principalmente com a participação de Paquetá / Vinicius/Vizeu. A diretoria continua falhando no planejamento e na composição do elenco, onde inexplicavelmente, “protege” jogadores medíocres, que nos momentos mais decisivos falham (vide Marcio Araujo, Arão, Vaz, Geovanio, Rodnei, etc). Alguns felizmente já forma embora, devido a grande pressão popular e da imprensa. Só lembrar , que Cuellar quase foi vendido ao Vitoria, porque a diretoria e o “estudioso” Zé Ricardo, achavam que Marcinho era mais jogador e marcava mais. Hoje vemos o Cuellar , sozinho fazer a proteção da zaga. Agora só nos resta orar para que os jogadores contratados com o campeonato já iniciado (tiveram um mês para sacramentar e entrosar os reforços) se adaptem rapidamente, aliada a maravilhosa torcida do flamengo, para termos alguma chance de conquista em um dos três campeonatos que estamos disputando Lamentável, a incompetência da diretoria de futebol capitaneada pelo seu mandatário mor, Bandeira de Melo.
Mais um excelente matéria da Renata Graciano.
Gostaria de acrescentar que parece faltar experiência ao Barbieiri para enxergar os óbvios mencionados acima. Escalou muito mal o time, sem um primeiro volante adicional, colocando o Arão, poupando o Diego Alves, não entrando com o experiente Rhodolfo.
Contra o CAP, é fundamental segurar a correria inicial (se aproveita sempre da dificuldade inicial que muitos têm, até se adaptarem ao campo de grama sintética) e, sem outro primeiro volante, ainda que não sendo um especialista da função, mas alguém definido para a mesma.
Penso também que muitos, menos Barbieri e boa parte de nossa torcida, que Rodinei não é um lateral e sim, ponta direita (o melhor do Mengão). Rodinei tem raça, velocidade, até dá bons dribles, chuta bem e consegue muitas boas jogadas pela extrema direita. Definitivamente, Rodinei não é lateral direito.
Outro aspecto é a a entrada do promissor Thuller. Oo garoto é bom, mas não está dando sorte (seu retrospecto é sofrível). Quando é escalado, obriga o deslocamento de Léo para a esquerda e a zaga fica muito vulnerável (lembram dos 4 a zero para o Flu?).
Um outro ponto, não depende de Babieri: a irregularidade extremada do futebol do excepcional Éverton Ribeiro. Capaz de jogadas de altíssimo nível, às vezes, complica a equipe com jogadas bisonhas. O mesmo se aplica a Paquetá.
Temos uma equipe de alto nível, mas muito irregular. Como associar a equipe que empatou com o Grêmio à da derrota de domingo?
Gostaria de saber o que pensa e o que faria Abel Braga!!!