Por: Ana Beatriz Zayat
Foto: Ricardo Moraes/Reuters/VEJA
Chegou a hora de estrear em uma das mais tradicionais competições do calendário nacional. Nesta quarta-feira (15), o Flamengo começa sua trajetória na Copa do Brasil 2019 contra o Corinthians. A torcida, já acostumada a cantar os três títulos da competição, está na expectativa para, em breve, mudar a música das arquibancadas.
A Copa do Brasil nós temos três. A primeira taça veio em 1990. Com o torneio ainda engatinhando, o Mengão passou por equipes do Nordeste e do Centro-Oeste. Após vencer o Capelense-AL na primeira fase, o Rubro-Negro eliminou Taguatinga-DF, Bahia e Náutico antes da grande final. O confronto com o Goiás foi definido ainda no jogo de ida, quando Fernando balançou as redes no único gol marcado nas duas partidas. Aquele timaço era recheado de pratas da casa: Piá, Júnior, Marquinhos, Djalminha, Zinho, Marcelinho, Gaúcho e Nélio. Renato Gaúcho – o capitão – era uma das maiores estrelas da companhia.
A segunda conquista demorou, mas chegou. Depois de bater na trave em 2003 e 2004, o Bi veio em 2006. Na final, um velho freguês: o Vasco. A sina que já vinha desde 1989 (e que perdura até hoje) não foi quebrada e o Cruzmaltino perdeu para o Flamengo na decisão. Antes da final, o Mais Querido venceu ASA-AL, ABC-RN, Guarani, Atlético Mineiro e a surpresa Ipatinga. Os cruzmaltinos já tinham eliminado um rival – o Fluminense – na semifinal, mas não foram páreo para o time de Renato Abreu, Léo Moura, Juan e, é claro, Obina. O Anjo Negro balançou a rede no primeiro jogo, assim como Luizão. O “Marrentinho” fez o único gol do segundo jogo e entrou para a história do clássico.
Em um dos títulos mais improváveis – e com cara de Flamengo – da sua história, o Rubro-Negro levantou o Tri em 2013. O clube passava por uma fase complicada. Era um momento de reconstrução e o elenco, no papel, talvez não fizesse jus ao Manto Sagrado. Mas a mística das arquibancadas e a raça de cada um dos atletas fez com que o Mais Querido superasse quatro dos cinco primeiros colocados do Brasileirão. Teve vitória com gol aos 43, teve goleada no rival, teve resultado positivo jogando no Sul. Depois de eliminar Remo, Campinense, ASA-AL, Cruzeiro, Botafogo e Goiás, o Mengão superou o Atlético-PR na decisão e consagrou Elias, Paulinho, Luiz Antonio e o brocador Hernane.
Jogos Memoráveis
Flamengo x Cruzeiro
O Flamengo é um dos mais tradicionais times na disputa da Copa do Brasil. O Rubro-Negro é, ao lado do Grêmio, o clube que mais terminou a competição entre os quatro primeiros colocados. São 177 jogos, com 102 vitórias, 46 empates e apenas 29 derrotas.
É quase consenso entre a Maior Torcida do Mundo: em 2013 o título foi conquistado, mas não contra o Atlético-PR. O grande jogo daquela caminhada foi contra o Cruzeiro, no Maracanã. A equipe Celeste tinha um elenco de primeiríssima linha – com Dedé, Julio Baptista, Everton Ribeiro e Ricardo Goulart. O jogo de ida, no Mineirão, se encaminhava para uma goleada, mas Carlos Eduardo arrancou um gol para o Mengão. O 2 a 1 ficou barato e deixou tudo em aberto para a partida no Rio de Janeiro.
A Nação abraçou a causa daquele time “remendado” e encheu o Maraca. Sem parar de cantar por um segundo, a Maior Torcida do Mundo fez a diferença. O Cruzeiro – futuro bicampeão brasileiro – parecia um time pequeno dentro de campo. O Rubro-Negro engoliu o adversário, mas o gol teimava em não sair. O melhor jogador do elenco quase não entrou em campo por conta de uma lesão. Mas lá estava ele. Elias. Aos 43 do segundo tempo, do jeito que cada rubro-negro gosta. Da entrada da área, botou no canto e foi para a galera. Um gol do Flamengo com cara de Flamengo. A explosão das arquibancadas é indescritível com palavras e, depois daquilo, os jogos contra Botafogo, Goiás e Atlético-PR pareceram apenas mera formalidade.
Flamengo x Botafogo
Algumas destas partidas são lembradas pela Nação mesmo que, no final das contas, a taça não tenha ficado na Gávea. Contra um rival direto, então, a lembrança é ainda melhor.
Em 2017, o Mais Querido enfrentou o Botafogo na semifinal. O Flamengo não vivia boa fase: instável no Brasileirão mesmo com um elenco estrelado, o Mais Querido veria a estreia de um novo técnico no jogo de ida. O colombiano Reinaldo Rueda foi para o Engenhão com poucos dias no comando e o time ficou no 0 a 0 após um jogo amarrado. A partida de volta não foi marcada pelo primor técnico dos times, mas por um lance mágico.
Aos 25 minutos do segundo tempo, Orlando Berrío já estava cotado para ser substituído. A joia Vinícius Jr já ouvia as palavras do técnico na beira do gramado. O estalo de magia aconteceu diante de mais de 60 mil pares de olhos. El Relámpago deu um toque de letra desconcertante em Victor Luís, cruzou para a área e Diego completou para a rede. Foi o gol da classificação para a final. Um gol do Flamengo com cara de Flamengo.
Flamengo x Grêmio
Em 2018, outro momento de puro “rubro-negrismo” – daqueles quando o Manto Sagrado vermelho e preto entorta varal. Em um confronto de gigantes, o Mais Querido foi a Porto Alegre para jogar contra o Grêmio pelas oitavas de final.
Nem o retrospecto negativo jogando no Sul, nem o gol de Luan no primeiro tempo. Nada seria capaz de parar o Flamengo naquela noite de quarta-feira. Após uma das melhores atuações em 45 minutos da história recente, o Rubro-Negro estava prestes a sair do jogo com uma derrota mínima. Mas Renê passou pela esquerda, cruzou rasteiro e Lincoln se antecipou a Kanneman. O cria da base coroou a raça do time com um gol antológico, inesquecível. Um gol do Flamengo com cara de Flamengo.