A dívida de R$ 750 milhões do Flamengo atualizada pela empresa de auditoria Ernst & Young assustou a muitos na Gávea, mas as fatias de cada uma das gestões anteriores neste bolo ingrato não foram divulgadas. Ainda assim, o presidente Eduardo Bandeira de Mello admitiu que caso alguma ilegalidade seja detectada e os responsáveis sejam devidamente comprovados, há possibilidade de consequências mais sérias. Na Gávea, já está em curso uma auditoria, distinta da que atualizou o tamanho do rombo geral, averiguando as contas de 2011 do clube, da gestão Patricia Amorim, rejeitadas pelo Conselho Deliberativo em 26 de fevereiro deste ano.
Uma comissão de inquérito já foi instaurada e seu presidente, Moisés Ackerman, se reúne semanalmente com o auditor da empresa contratada. Em breve, a ex-presidente Patricia Amorim e o ex-vice-presidente de finanças do clube, Michel Levy, serão chamados para prestar esclarecimentos. Caso comprovado algum erro, o clube pode decidir por uma punição interna ou até mesmo tentar ressarcimento na Justiça. Quase R$ 40 milhões das contas de 2011 não obtiveram classificação e, por isso, foram rejeitadas. Eduardo Bandeira de Mello, no entanto, rejeita o rótulo de caça às bruxas no processo de identificação de responsáveis pela dívida total do clube, em processo gradual desde a década de 90.
“O tamanho da dívida não significa que haja algum tipo de responsabilidade por ações indevidas. Se as contas não são aprovadas, isso gera um inquérito, uma apuração, uma responsabilidade sobre eventuais ações indevidas. Isso é apurado de maneira transparente, sem nenhum objetivo de caça às bruxas. Se tecnicamente for encontrada algo que leve à responsabilização de alguém, isso vai ser feita da melhor maneira possível”, disse Eduardo Bandeira de Mello.
Do total da dívida de R$ 750 milhões, R$ 394 milhões são referentes à parte tributária. Deste total, R$ 86,7 milhões é apontado como pertencente à última gestão, de Patricia Amorim. O restante, portanto, cairia sobre gestões como a de Edmundo Santos Silva, Kleber Leite e Marcio Braga, estes dois últimos importantes aliados na última eleição rubro-negra ao terem integrado a base de apoio para a Chapa Azul, de Eduardo Bandeira de Mello. Portanto, no campo político, a identificação de responsáveis poderia gerar desconfortos para atual administração e, consequentemente, rupturas. O resultado da auditoria da Ernst & Young trouxe detalhes sobre a dívida rubro-negra, algo raro nos últimos anos do clube.
O débito foi dividido em cinco partes. Na primeira, a questão tributária, são quase R$ 395 milhões de dívidas. Destes, R$ 262,7 milhões se referem ao parcelamento da Timemania, R$ 53,2 milhões com tributos da Receita Federal, R$ 23,7 milhões com o parcelamento no Programa de Recuperação Fiscal (Refis), R$ 17,3 milhões com tributos em atraso com o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), R$ 12,3 milhões de penhoras em 2013 com o Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), R$ 11,9 milhões com o parcelamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de 2013, R$ 6,7 milhões em tributos atrasado com a Secretaria da Receita Federal (SRF), R$ 4,9 milhões com o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e R$ 1,6 milhão com a Procuradoria do Estado do Rio de Janeiro.
Depois, o clube soube o quanto devia na área trabalhista, em um total de R$ 91,4 milhões. Só de dívidas com pessoas jurídicas neste setor o valor chega a R$ 60,9 milhões. Neste caso estão direitos de imagem de jogadores não quitados, por exemplo. Em referência a salários de funcionários e jogadores, a dívida é de R$ 7,1 milhões. O FGTS a pagar nestes casos alcança R$ 3,5 milhões. No caso de rescisões, o montante é de R$ 1,8 milhões. Ainda dentro da área trabalhista, há uma parte intutitulada “Carta de Vênia”, ou seja, uma autorização de juízes para que sejam executadas penhoras. Neste caso, em processos em execução há o valor de R$ 14,6 milhões. Em processos anteriores a 2012, R$ 1 milhão. E em processos não considerados na Vênia, R$ 2,2 milhões.
A terceira parte, no que se refere a empréstimos e financiamentos com bancos, um dado alarmante. São R$ 84,3 milhões de dívidas com cinco diferentes instituições financeiras e 80% deste valor (cerca de R$ 64 milhões) devem ser quitados ainda em 2013. No quarto item da auditoria, chamado de Demais Passivos, o clube deve R$ 2 milhões por “intermediação de atletas” e outros R$ 5 milhões a fornecedores de diversas atividades no clube. Por último, a auditoria classificou uma provisão para demandas judiciais, referentes a processos em andamento, num total de R$ 172,9 milhões. A previsão é de gastos de R$ 98,4 milhões na área cível, R$ 29,6 milhões nas áreas trabalhista e previdenciária e R$ 44,8 milhões no setor tributário.
“Estamos chegando hoje em um primeiro estágio para desvendar a caixa vermelha e preta. Seria mentiroso e criaria um fato se desse um prazo para o pagamento total. O que temos de fazer é trabalhar, um dia após o outro. Para quem tem uma torcida de 40 milhões, nada é impossível”, afirmou o vice de finanças, Rodrigo Tostes.
O planejamento do clube no departamento jurídico, comandado por Flávio Willeman, atualmente é diminuir as ações trabalhistas – já reduzidas de 500 para 200 – para cem no próximos três meses e meio de gestão. No referente ao processo do Consórcio Plaza, no qual o Flamengo cederia parte da sede da Gávea para a construção de um shopping após obter R$ 5 milhões de verba em 1995, o clube conseguiu a suspensão de qualquer penhora até que o processo seja periciado. O Consórcio cobra R$ 60 milhões atualmente. Sobre o caso Ronaldinho, o departamento jurídico considerou melhor não se manifestar sobre o assunto neste momento. A audiência com o atleta, que cobra cerca de R$ 55 milhões, foi adiada até que o caso também seja periciada.
Fonte: ESPN
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