No futebol, o pontapé inicial foi dado na postura do clube com o próprio elenco. Por mais que negociações estivessem em curso, os reforços só foram anunciados após a dívida da antiga gestão com os atletas ser quitada. Durante as conversas por novos jogadores, o clube optou pela discrição, com declarações apenas em momentos considerados essenciais. A dificuldade financeira, porém, ainda é grande. Daí a necessidade, avaliada internamente, de procurar investidores para os negócios. Carlos Leite, empresário dos novos reforços Elias e Gabriel, é um dos parceiros da nova gestão. A tática exercida pelo empresário não é novidade em sua carreira: aliar-se a clubes em dificuldades financeiras, colocando no elenco jogadores de qualidade e com potencial de revenda futura. Foi assim, principalmente, com clubes rebaixados em um período recente e que enfrentaram dificuldade na reconstrução: Grêmio, Corinthians e Vasco. Em todos, o empresário teve participação semelhante, com moldes de parceria, como faz agora no Flamengo, por exemplo, na contratação de Gabriel, ex-Bahia.
Nesta quinta-feira, Carlos Leite esteve no hotel no qual o elenco rubro-negro está concentrado, na Zona Oeste da cidade. À espera de Elias, a novidade do dia, conversou com outros jogadores do elenco no saguão. Alguns atletas já são seus agenciados, casos do lateral-esquerdo Ramon e do zagueiro Welinton. Na corrida pela formação da rede de contatos da nova gestão, o diretor-executivo de futebol, Paulo Pelaipe, esteve reunido, também nesta quinta-feira, com Vantuil Gonçalves, sócio-diretor do fundo de investimento MFD Sports e ex-diretor jurídico do Botafogo na gestão de Bebeto de Freitas. O MFD tem participação em direitos econômicos de atletas como os volantes Arouca, do Santos, Diguinho, do Fluminense, o meia-atacante Elkeson, que deixou o Botafogo rumo ao futebol chinês, e Jorge Henrique, atacante do Corinthians. No Flamengo, o fundo tem parte dos direitos de Rafinha, atacante da base, além de agenciar o meia Mattheus e o meia-atacante Thomás. Com estas relações estreitas, o clube tem tentado driblar a dificuldade financeira na qual se encontra. Além, claro, da batalha para resolver as penhoras que asfixiam o clube.
Marketing
Para levar o departamento de futebol a fazer investimentos de grande porte, o clube necessita afinar as relações também no campo político e mercado de marketing. A contratação do executivo Marcelo Corrêa para o cargo de diretor-geral do clube, também chamado de CEO (Chief Executive Office), é mais um passo nessa direção. Em seu currículo, Corrêa traz a passagem na presidência da Neoenergia, responsável por distribuidoras de energia no Nordeste. A experiência na função fez ser necessário aprender a lidar com nomes de governos estaduais e federal. Na última segunda-feira, Marcelo Corrêa já iniciou seu trabalho na Gávea. O bom contato com nomes da política pode facilitar, por exemplo, conversas em busca de reestruturação de dívidas, o que daria fôlego financeiro ao Flamengo. Neste vaivém de costura de relações, nesta quinta-feira, o clube recebeu a visita do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Ainda que de maneira informal, o procurador, rubro-negro, se encontrou com o presidente do clube, Eduardo Bandeira de Mello e posou para fotos.
Internamente, a análise é de que um dos grandes rivais do Flamengo em nível nacional atualmente, o Corinthians, sabe percorrer muito bem os caminhos para atingir este nível de boas relações, o que explicaria, em parte, o sucesso atual do time paulista. Resta, porém, colocar o marketing nos trilhos.
Vice-presidente da pasta, Luiz Eduardo Baptista esteve em Miami, nos Estados Unidos, durante as festas de fim de ano. Na viagem, Bap, como é chamado o dirigente, não curtiu apenas férias. Aproveitando-se de sua experiência como presidente da operadora de tv Sky, Bap adiantou conversas para novas relações do clube com o mercado de marketing, incluído aí patrocinadores. Há otimismo para um anúncio em breve, embora o vice-presidente de marketing tente ajustar sua ideia original: três empresas por R$ 15 milhões anuais cada, em revezamento quadrimestral no uniforme do time de futebol. A tentativa de é vender ao mercado uma relação mais duradoura por um motivo: em três anos, tempo do mandato atual, as marcas se revezariam sem prejuízo de visibilidade algum. A justificativa: em um período mais curto, uma empresa poderia ter a sua marca estampada na frente da camisa durante o Campeonato Carioca, de menor repercussão, enquanto outra aproveitaria sua chance no mesmo local durante a participação do time em uma competição internacional, com maior exposição.
Além destas relações, a diretoria também já trocou ideias sobre a organização do futebol com nomes renomados do cenário internacional, com o ex-diretor do Barcelona e atual diretor-executivo do Manchester City, Ferran Soriano, e Leonardo, diretor do Paris Saint-Germain. Na farta distribuição de cartões no mercado, o Flamengo espera aproveitar, também, o impulso do acordo com a Adidas. Pelo contrato, o clube foi alçado ao posto de top 5 da empresa, ao lado de monstros do futebol mundial como Real Madrid, Milan, Chelsea e Bayern de Munique. Entre as ações, há a possibilidade de participação em amistosos internacionais e utilização do centro de treinamento da fornecedora da Adidas, na Alemanha. Mais uma oportunidade de o Flamengo, por meio de sua nova gestão, espalhar seus tentáculos pelos mercados do mundo. E, talvez, aproveitar o seu tão decantado potencial, pouquíssimo explorado até hoje.